CV (26) O irmão sofrimento (3)
A propósito dos comentários ao "Irmão sofrimento (2)", sobretudo as citações da Nani, eu gostaria de fazer mais uma citação. Antes, porém, não posso deixar de registar a nossa dificuldade em falar deste tema pela facilidade com que nos refugiamos nas palavras de outros, como se nada tivéssemos para dizer...
De qualquer maneira parece-me que esta citação enquadra e projecta alguma luz sobre o sofrimento de Cristo e sobre a lição a tirar daí. Jesus sofre a paixão e a morte precisamente porque lutou contra o mal e o sofrimento da sociedade em que viveu, porque pôs em causa os poderes que acabam por ser os primeiros responsáveis pelos sofrimentos da sociedade (cf. Jo 11,45-50). Teologicamente falando, não havia razão nenhuma para que Jesus morresse numa cruz para nos salvar. Poderia ter-nos salvo de muitas outras maneiras. Mas a história é feita deste confronto dialéctico entre a vontade de Deus e a vontade dos homens, que Ele quis que fossem autónomos e livres.
Ora a sua morte, aparentemente poderia signifcar o fracasso desta luta contra o mal na sociedade. Contudo, a ressurreição é a prova de que não fracassou e que venceu o mal apesar da sua morte, a morte mais ignominiosa do seu tempo.
A citação é adaptada do livro de J. Renau, Desafiados por la realidad:
É por isso que todos os gestos libertadores de Jesus só podem ser entendidos no seu real e profundo significado se forem vistos e articulados com o mistério pascal. Sem esta referência, Jesus não passaria de mais um dos grandes sábios, profetas e reformadores. Por isso, o facto pascal no seu duplo momento - morte de Jesus às mãos dos poderes do tempo e ressurreição de Jesus por obra do poder de Deus - tem um significado social de grande transcendência.
No primeiro momento – o aparente fracasso da morte – Jesus cai vítima dos poderes político, económico, oligárquico e religioso, porque a sua pessoa e a sua doutrina representam um ataque frontal, embora feito a partir da bondade e da máxima virtude, contra as bases de exploração do povo. Estes poderes vêem ameaçado o "sistema" de que vivem e logicamente entendem que a única saída é a eliminação física de Jesus e o desmantelamento do seu frágil grupo. Trata-se de uma realidade constante na história. E também, uma vez mais, se cumpre o desígnio do poder e Jesus cai vítima do sistema. Esta solução tão radical dá-nos conta de como deve ter sido profunda a mudança, a todos os níveis, que significou Jesus.
No primeiro momento – o aparente fracasso da morte – Jesus cai vítima dos poderes político, económico, oligárquico e religioso, porque a sua pessoa e a sua doutrina representam um ataque frontal, embora feito a partir da bondade e da máxima virtude, contra as bases de exploração do povo. Estes poderes vêem ameaçado o "sistema" de que vivem e logicamente entendem que a única saída é a eliminação física de Jesus e o desmantelamento do seu frágil grupo. Trata-se de uma realidade constante na história. E também, uma vez mais, se cumpre o desígnio do poder e Jesus cai vítima do sistema. Esta solução tão radical dá-nos conta de como deve ter sido profunda a mudança, a todos os níveis, que significou Jesus.
Contudo, o segundo momento – a ressurreição da consagração – representa a Justiça e a opção de Deus pela causa de Jesus. A ressurreição não foi apenas uma vitória pessoal do Crucificado, que por acção de Deus vive novamente unido já de forma definitiva ao Pai, mas foi a confirmação de Deus à sua causa, ao seu estilo, ao seu modo de vida e à sua mensagem de libertação. Ao ressuscitá-lo Deus deu razão a Jesus e desautorizou os poderes que lhe tinham tirado a vida. Daqui em diante, Jesus já não é mais um entre os humanos que lutam pela justiça e que estão ao lado dos pobres, mas é o Grande Sinal de Deus por estas causas. Os seguidores de Jesus, os seus discípulos, na medida em que vão entrando na participação real do Reino de Deus, irão tomando necessariamente a mesma opção do Mestre. Um cristianismo à margem destas opções de Jesus será sempre inautêntico, ficará realmente separado do seu Fundador.