Tenho uma especial predilecção por Zaqueu, como modelo de crente.
Bem sei que Abraão é considerado "o noso pai na fé", o grande modelo. Mas para mim, Zaqueu é melhor modelo, porque é dos nossos, pecador do dia a dia.
Abraão é doutra cepa. Tinha uma fé de arrasar montanhas. Aquela de obedecer sem um esboço de dúvida, à ordem "Deixa a tua terra, a tua família, a casa de teu pai e vai para a terra que Eu te indicar" (Gn 12,1) já me põe problemas muito sérios e dificilmente me convenceria mesmo com a promessa de "farei de ti um grande povo" (Gn 12,2). Mas a de "pega no teu filho, no teu único filho, a quem tanto amas, Isaac, e vai à região de Moriá, onde o oferecerás em holocausto, num dos montes que Eu te indicar" (Gn22,2), esta nunca seria capaz da fazer. Não tenho fé que chegue a tanto. Ponto final, parágrafo.
Mas também creio sinceramente que Deus não me pediria isso. Porque Deus ama a vida e não a morte. E eu também... à minha maneira, isto é, à maneira humana. Mas sobretudo porque eu nunca poderia imolar ou dar os meus filhos. Pegar na Renata ou no David e degolá-los a pedido, mesmo que fosse de um Deus não conseguiria fazê-lo nem sequer podia aceitar um Deus assim! Mas também porque os meus filhos não são meus: são deles próprios, têm a sua vida, o seu caminho. Um caminho que eu não posso, não devo nem quero traçar. Tento ajudar o melhor que sei e posso, mas sem nunca dispor deles.
Mas vamos a Zaqueu. Por que o considero modelo da fé? Porque exemplifica da maneira mais vivencial os caminhos que o crente tem de percorrer.
1ª - Procurou por todos os meios ver Jesus: ele, um dos homens mais poderosos da terra, até subiu a uma árvore, como um garoto a espreitar os acontecimentos.
2ª - Respondeu imediatamente ao chamamento de Jesus: sem falsos pudores nem respeitos humanos, saltou de alegria.
3ª - Converteu-se não apenas teoricamente, mas mudou realmente a sua vida: "vou dar metade dos meus bens aos pobres e vou restituir quatro vezes mais a quem prejudiquei".
4ª - Embora, o Evangelho não o refira, certamente que, a partir daí, Zaqueu deve ter sido um dos grandes apóstolos de Jesus.
Para recordar o Concílio:
Ao chamamento de Deus, o homm deve responder de forma tal que, sem transigir com a carne e sangue, ele se entregue à obra do Evangelho... Anunciando o Evangelho aos povos, dê a conhecer cofiadamente o mistério de Cristo, do qual é legado, de maneira que ouse falar nEle como é necessário, não se envergonhando do escândalo da cruz (Decreto sobre a Actividade Missionária da Igrja, Ad Gentes, 24)