Uma esmolinha, por favor!
Bom ano a todos (!!!)
Depois de uma arrancada experimental e de um tempo em que não pude dedicar atenção a este blog e porque já começou a ser divulgado entre alguns amigos, é altura de pegar a sério neste espaço de diálogo.
Tenho a sensação de que não saiu no telejornal, mas neste momento faço parte da nova Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) e nessa qualidade venho pedir a colaboração de todos para um trabalho que gostaria de desenvolver.
Pessoalmente parece-me que a CNJP resolveu bem no seu último "mandato" as suas intervenções públicas e o diálogo com a sociedade (ad extra): comunicados, jornadas, opúsculos, grupos de trabalho, audições, etc..
Há, no entanto, um outro problema, talvez mais difícil de resolver. São as relações para dentro da Igreja (ad intra). Como já referi numa das apresentações que fiz deste blog, a comunidade cristã está formada por uma esmagadora maioria de pessoas que prefere privatizar a sua fé ignorando as suas consequências no estilo de vida, no comportamento social, político, económico, cultural.
Neste sentido, por exemplo, tudo o que de bom e evangélico possa ser proclamado pela CNJP ou outra instituição católica ou é credibilizado pelo comportamento das comunidades e das pessoas católicas ou não tem qualquer influência.
A questão para que pedia colaboração pode resumir-se deste modo: que caminhos percorrer para ir alterando esta mentalidade redutora ou esta "muralha de silêncio" que se ouve nas nossas comunidades sempre que se fala de dignidade humana, de direitos dos mais pobres, de uma sociedade mais justa e solidária, dado que a generalidade dos católicos prefere esta ordem estabelecida, que viola gravemente a lei de Deus, do que proclamar vivencialmente Evangelho de Jeus Cristo?
Os grandes pecados parece que continuam a ser os clássicos: faltar à missa ao domingo e os pecados sexuais (e estes não sei se não terão já sido promovidos a venais, se não passarem da esfera privada...)
E, no entanto, as palavras do Evangelho são claras:
- quais são os sinais do Reino? Resposta de Jesus aos enviados de João: "os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os cativos são libertados, os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciada a boa nova da salvação" (Mt 11,5);
- quais são os critérios de entrada no Reino de Deus para "todos os povos e pessoas" (Mt 25,32)? : "Tive fome e deste-me de comer..." (Mt 25,35-36);
- "Não é o que diz "Senhor, Senhor" que entrará no Reino dos Céus, mas aquele que cumpre avontade de meuPai" (Mt 7,21);
- etc..
Que propostas poderei fazer na CNJP para ajudar a responder a estes desafios:
- como passar da lógica do comodismo egoísta à lógica da solidariedade?
- como passar da lógica da esmola à lógica do direito?
- como passar da lógica do direito à lógica do amor?
- que fazer para que cada cristão veja Jesus Cristo "realmente presente" não só na Eucaristia ou na Sagrada Escritura, mas também, e do mesmo modo "realmente presente" na prostituta, no sem-abrigo, no pobre que teve de se fazer vigarista para poder sacar algum e poder sobreviver (Mt 25,40-45)?
Vá lá ajudem-me não com a lógica da esmola mas por solidariedade e como contributo para irmos construindo uma sociedade mais à medida da pessoa.
8 Comentários:
Aqui estou, tal como me disseste na tua mensagem de Natal. Estou pronta para dar em qualquer lado, em qualquer lugar. Tenho-me a mim para dar e só sei fazê-lo dessa prática. As iniciativas existentes devem precisar de quem esteja disponível mas, para além disso, tenho algumas ideias, ainda muito insipientes. Portanto, tal como comecei, estou aqui.
13/1/06 17:44
Caro Zé,
Eu sempre procurei ter uma vida de solidariedade, não no princípio da esmola, mas sim de ensinar a pescar.
Confesso que estou farto do sistema das gorjetas, que até safarão económicamente alguns, mas que os deixarão eternamente abaixo de cão, a nível espiritual, que para mim é o mesmo que satisfação interna, equilíbrio psíquico, emocional.
Desculpa que os caminhos da vida têm-me feito ver que não passamos de uma sociedade hipócrita, incoerente. Todos dós queremos o bem dos outros, mas sempre depois de termos o nosso. Eu dou um euro da minha carteira, desde que tenha outro para mim.
Sempre ajudei e continuo a ajudar, a participar em todas as actividades da Igreja. mas creio que em toda a minha vida nunca deixei de ver os mesmos pobres, em Coimbra, em Lisboa, a não ser aqueles que vão morrendo.
Ainda hoje de manhã, 9 horas, Terreiro do Paço, por tudo quanto é arcadas, é papelões e gente a arrumar a casa, para o dia seguinte. Mesmo em frente ao Ministério das Finanças, um casal dorme, há semanas debaixo dos papelões, entre outros, que me chocam.
Muito mais te diria, mas começa a ser maior o comentário que o artigo e o que queria dizer está definido. Mas estou contigo. Conta comigo.
ASimões
14/1/06 00:24
O que é dramático, não só em teermos humanos, mas também cristãos é que os católicos que não falham uma missa nunca lhes passou pela cabeça que o fundamental do cristianismo é a preocupação pelos outros.
Por isso a maior parte segue o sacerdote e o levita e deixam morrer à beira da estrada. É preciso vir o ateu do samaritano para ver, aproximar-se, comover-se e fazer o que pode para o salvar.
O que é absolutamente imoral é a religião destes bons cristãos que pensam que compram o ceú com as missas dominicais e pensam sobretudo que enganam Deus, que não vai na cantiga pois, citando livremente Is 1,11-20 "já me enjoo com a gordura dos vossos cordeiros, já me irrita o ruído das vossas festas... As vossa mãos estão escarlates, da cor do sange (das vossas vítimas). Só quando cumprirdes o direito e a justiça e cuidardes do órfão, da viúva e do estrangeitro é que as vossa mãos ficarão brancas como neve".
Que Deus é o deus que a maior parte dos cristãos adora(mos)?
Que cateuqese se faz nas nossa comunidades? Que homilias? Quais a spreocupações dos nossas comuniaddes eclesiais, dos nossos Conselhos Pastorais?
14/1/06 11:59
Angela
Por lapso vi primeiro o comentário do Simões. Mas até foi bom que faça agora o meu comentário à tua disponibilidade.
É que também penso que o mal de muitas gente é pensar que a vida se faz de teorias, normalmente e cada vez mais virtuais. Mas a vida faz-se de disponibilidade, de estar atento aos outros e está-lo sobretudo nos locais e nas circunstâncias onde o nosso carisma pode ser mais útil.
Durante séculos e séculos, a proposta de Jesus Cristo foi dessorada, reduzida, esterilizada, transformada em ideal sublime... para o tornar inatingível.
S. João Crisóstomo tem várias expressões riquíssimas, mas cito apenas esta, que ele recoradava do altar abaixo: "O mesmo que disse "Isto é o meu corpo.." é o mesmo que disse "Tinha fome edeste-me de comer...".
O que me preocupa é que a generalidade dos formadores cristãos, pelo menos os oficiais, parece seguir caminhos quase opostos.
Não quero julgar ninguém, mas e recordando de novo a parábola do Bom samaritano, a prioridade está na ortopraxis e não na ortodoxia.
Dado que é um tema muito importante em vez de desnvolvê-lo aqui, vou transformá-lo num comentário mais geral.
Mas essa tua disponibilidade é a disponibilidade que o samaritano teve e que o sacerdote e o levita foram incapazes de perceber, porque estavam atrasados para ir encontrar no templo o Deus que estava ali a sangrar à beira da estrada da vida do dia a dia!
14/1/06 12:12
difícil esmolinha esta que pedes... quem me dera ter ideias dessas milagrosas que metessem na cabeça das pessoas que o mais importante não é não faltar à missa mas estar atento ao outro e respeitá-lo mesmo que seja diferente ou pense de outra maneira... é que é tão mais fácil ir à missa, ficar com a sensação de dever cumprido e depois poder ser egoísta à vontade!
14/1/06 17:33
sim.. como se diz por vezes, "mais importante do que o discurso, é o percurso!"
Caro Zé Dias, prometo que se me lembrar de uma ideia milagrosa lhe volto aqui para dizer... e entretanto também peço muito: se souber de alguma, diga-me também a mim....
Que eu neste momento só me ocorre mesmo um verbo...
...amar.
Só o amor converte!
Um abraço.
14/1/06 21:59
Á Natita
Não sei se precisamos de ideias milagrosas ou de ideias "realistas" que possam ir convertendo as pessoas calmamente e não de enxurrada que tudo arrasta e depois não deixa nada passado o entusiasmo.
Ideias realistas também porque devem partir da realidade que "realmente" existe e não da realidade que queríamos que existisse.
Mas acredito que deste debate de ideias alguma coisa possa surgir. Vou adiantar mais alguma reflexão num outro apontamento.
À Xana
Sugiro-te o comentário que fiz à Nata. Acrescentarei apenas que a chave realemnte é o amor. Mas sempre que falamos do amor como solução corremos o risco de falar de um conceito abstracto, muito lindo, muito exigente, mas que precisa de ser concretizado em cada situação concreta, passe o pleonasmo: como se ama na família, no emprego,na escola, na política, na associação cultural e recrativa, no governo?
Mas também esta ideia merece um tratamento mais alargado.
15/1/06 13:50
Obrigada, Zé Dias.
Pela resposta.
20/1/06 23:38
Enviar um comentário
<< Home