Solidariedade com as gerações futuras
Há pouco mais de 20 anos, a Noruega era uma espécie de Portugal quanto ao seu atraso em desenvolvimento económico e social. Por essa altura saiu-lhes a sorte grande com a descoberta de petróleo na sua plataforma continental. Mas não se comportaram como novos-ricos, como Portugal fez com os chorudos subsídios da União Europeia. Não perderam a cabeça com tanta riqueza e calmamente decidiram dividi-la em três partes: uma para o orçamento; outra para investimento e outra para um Fundo de Compensação. Este fundo é intocável e tem como destinatário as gerações futuras. Pertence exclusivamente às gerações futuras.
As recentes declarações da ministra da tutela norueguesa explicam-nos que estas reservas petrolíferas também pertencem às gerações futuras e, portanto, também elas devem beneficiar dos lucros desses recursos. Palavras de um outro mundo e de uma outra mentalidade que nada tem a ver com o nosso tão egoísta e insolidário entre si quanto mais no que se refere a umas hipotéticas gerações futuras.
Que se fale das gerações futuras já há quem fale. Que se pense que as gerações futuras têm direitos, quanto mais não seja a um mundo minimamente habitável, já se vai falando, mas é só paleio barato sem qualquer intenção de passar à concretização prática nem por parte dos particulares nem dos governantes. Só a Noruega assumiu e cumpriu uma acção concreta: criação de um Fundo que neste momento já vai em 300 mil milhões de euros para os que hão-de vir. Um povo destes é com certeza um povo com futuro!
Mesmo àqueles que, entre nós, propuseram e subscreveram abaixo-assinados em defesa dos que aguardam na barriga das mães o direito inalienável de nascer, argumentando que estes eram os mais desprotegidos de todos, nunca lhes ocorrem que há outros ainda mais desprotegidos e esquecidos: são os que ainda nem sequer estão na barriga das mães, as gerações futuras, do próximo ano, da próxima década, do próximo século.
2 Comentários:
Obrigada por me ensinar o que não sei. Desconhecia estas medidas norueguesas. São uma grande lição para nós. Mas aqui escondidinhas no seu blog... Como é que se poderia conseguir que muita gente lesse isto?
C.G.
28/5/08 20:46
Eu acho que uma das dificuldades por que passamos para construir uma sociedade mais justa é a preocupação dos nossos meios de comunicação social por estarem mais atentos ao lado negativo das pessoas e dos acontecientos do que ao que há de bom, de belo, de nobre e que acontece mais ou menos anonimanente com tantas milhares de pessoas "humildes", que não têm estatuto para aparecer na televisão.
É que tal como o mal se pega ou se reproduz por ser tão anunciado, também o bem se pegaria e daria muitos frutos se fosse conhecido.
Mas é a cultura que temos... e o peso das audiências que preferem "o pão e o circo", o sanguinário, o ridículo.
Eu bem gostaria de dar um pequeno contributo nesse sentido mas não imagina a dificuldade que tenho em encontrar ao menos nas "letras miudinhas" ou num qualquer fundo de página essas notícias bonitas!
29/5/08 09:32
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