Tempos de fome
A leitura do Público de ontem era um pouco deprimente, caso a nossa consciência não esteja já entorpecida: a pobreza em Portugal sobre a qual Bruto da Costa apresenta algumas novidades, a sair em livro no próximo mês, um relatório da Comissão Europeia indicando que um milhão de portugueses vive com menos de 10 euros por dia e 230 mil com menos de 5; a pobreza no mundo que vai disparar (“tsunani silencioso” lhe chama o responsável pela alimentação da ONU) por culpa de políticas mais ou menos erráticas de subsídios à agricultura sobretudo à europeia, pelo imoral comportamento dos especuladores, mas também muito por causa dos biocombustíveis…
Todos estes factores colocam problemas éticos porque estão em jogo a vida das pessoas, particularmente o último: é aceitável que para continuarmos a ir de carro tomar a bica ao café do fim da rua e porque a gasolina está cada vez mais cara, desviemos os cereais e afins, alimento básico da humanidade, mesmo nos países desenvolvidos, da boca dos famintos para os depósitos dos nossos carros?
Ao querer manter este nosso estilo de vida, estamos a condenar à morte milhões de irmãos nossos. Daí a actualidade daquelas palavras terríveis de s. João Crisóstomo (séc. IV): “Não dar aos pobres dos próprios bens é cometer com eles um roubo e acometer contra a sua vida”.
2 Comentários:
Li há algumas semanas no «Público» um artigo do Prof. Fiolhais em que ele afirmava que essa dos biocombustíveis nem sequer era energeticamente tão barata como se dizia e que, até desse ponto de vista, era uma má aposta. Não sei se estou a ser totalmente fiel ao que li, mas julgo que é mais ou menos isto.
Um abraço. C. G.
25/5/08 23:13
Independentemente desse aspecto económico - e é verdade que muitos factores são escondidos nestas guerras económicas das energias, mesmo das renováveis e muito pior da nuclear - a pergunta que me preocupa é qual o lugar da pessoa, das pessoas na tomada destas decisões. É que vivemos uma sociedade tão marcada pelo lucro e pela ganância que a pessoa humana está a desaparecer do horizonte das nossas preocupações, apesar de nunca como hoje se falar tanto(formalmente) da dignidade humana.
26/5/08 10:17
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