divórcio ou casamento eterno?...

2010-06-13

Margaret Merkel

A Europa atravessa uma fase especialmente difícil. Não se trata “apenas” da grave crise financeira e económica. Esta é o carrasco que coloca muita gente no cepo, que cria desemprego, que fragiliza os mais débeis e serve apenas os interesses de alguns oportunistas, quais abutres a pairar sempre onde há sangue e carne morta, à espreita de mais uma oportunidade.
Trata-se também e sobretudo de algo mais profundo: da própria essência, da alma da Europa. De uma Europa que se definia por valores solidários e os punha em prática. De uma Europa que praticava a abertura aos outros sem deixar de ser ela própria. De uma Europa que podia exportar valores como os direitos humanos sempre no respeito pelas tradições locais. Muitos poderão ir à História e provar que esta não foi a regra. É um debate interessante, mas que pouco adianta para os tempos que hoje vivemos.
Hoje temos de decidir se queremos ser a Europa no que ela tem de melhor, nas suas virtudes e potencialidades ou se queremos chafurdar nos nossos interesses nacionais. Temos de escolher entre a solidariedade e o egoísmo. Temos de escolher entre uma Europa “moral” ou uma manta de retalhos juridicamente atabalhoada. Temos de escolher entre uma Europa, onde todos se regulam pelos valores que sempre definiram a Europa, ou se nos rendemos, sem honra nem glória, a um neoliberalismo gerador de todas as crises.
A Europa quer continuar a governar-se por princípios e valores ou prefere a velha máxima de Margaret Tatcher: “Eu sou pelos valores desde que eles não interfiram com os meus interesses”? Esta pergunta tem de ser feita, antes de mais, aos primeiros responsáveis pela organização e instituições europeias. A todos… mas principalmente a Angela Merkel.
E a nós, cidadãos comuns, o que nos compete fazer? Talvez a nossa tarefa primeira seja uma decisão interior: queremos ser cidadãos europeus (abertos ao mundo) ou basta-nos sermos cidadãos nacionais (fechados no nosso quintal)? Sem esta opção clarificada, cada um puxa para seu lado, ou seja, para lado nenhum. O que vamos assistindo é que os cidadãos ou não agem como cidadãos, capazes de prescindir de alguns direitos para que a Europa fique mais forte, ou são cidadãos manipulados pelos interesses partidários dentro de cada país. E como os governantes ainda parecem mais egoístas do que os seus cidadãos, as nuvens da destruição pairam sobre a Europa.
Acredito que esta crise nos desperte a todos. Esta pode ser a crise que, apesar das dores de parto, dê à luz uma Europa a sério. É a minha esperança.

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