divórcio ou casamento eterno?...

2010-04-24

CinV (99) Crescimento demográfico (nº 44)

Sobre este tópico, Bento XVI apresenta algumas linhas de reflexão.

1) A sua relação intrínseca com o verdadeiro desenvolvimento
Não há desenvolvimento autêntico sem o respeito pelos direitos e deveres fundamentais; ora entre estes encontram-se “os valores irrenunciáveis da vida e da família”;

2) A falsidade da sua responsabilização pelo subdesenvolvimento
“Considerar o aumento da população como a primeira causa do subdesenvolvimento é errado, inclusive do ponto de vista económico”. É uma resposta clara a muitos sociólogos, políticos e economistas que consideram a “bomba” do crescimento demográfico como a grande causa do subdesenvolvimentos dos povos. As muitas bocas exercem uma forte pressão sobre a pequena quantidade e qualidade dos alimentos disponíveis. Mas o Papa não vai por esse caminho. Volta-se para os países desenvolvidos que estão a envelhecer, por duas vias:
- por um lado, aponta os avanços científicos que reduziram drasticamente a mortalidade infantil e aumentaram o tempo de vida das pessoas: “basta pensar, por um lado, na considerável diminuição da mortalidade infantil e no alongamento médio da vida que se regista nos países economicamente desenvolvidos”
- por outro, recorda os graves inconvenientes que a diminuição de natalidade acarretam contribuindo inclusivamente para alguns estrangulamentos económicos que “obrigam” a uma crescente imigração, tão pouco desejada e tão mal enquadrada do ponto de vista dos direitos humanos; para o provar aí estão “os sinais de crise que se observam nas sociedades onde se regista uma preocupante queda da natalidade”.

3) Necessidade de uma paternidade responsável
Esta é um verdadeiro factor de desenvolvimento: “Obviamente é forçoso prestar a devida atenção a uma procriação responsável, que constitui, para além do mais, uma real contribuição para o desenvolvimento integral”.

Sexualidade
Está feita a ponte para o problema da sexualidade. Uma das maiores fontes de atrito entre a Igreja a sociedade, não só agora mas também ao longo de muitos séculos, situa-se no campo da moral sexual. Hoje o problema reveste uma acuidade bem maior porque vivemos numa sociedade fortemente erotizada, onde o amor se banalizou e a questão da sexualidade parece ter-se reduzido a um problema de ensinamento de técnicas que evitem gravidezes indesejadas ou o “sexo seguro”, sem uma adequada concepção abrangente e harmoniosa do ser humano na sua integridade.
Sem entrar nos “pormenores” de fricção, o Papa recorda que a sexualidade deve ser sempre vista na perspectiva do desenvolvimento integral da pessoa: “A Igreja, que tem a peito o verdadeiro desenvolvimento do homem, recomenda-lhe o respeito dos valores humanos também no uso da sexualidade”.
Neste enquadramento estruturante de defesa de uma sexualidade verdadeiramente humana, há concepções e ideias dominantes tão reducionistas que não podem deixar de ser rejeitadas:
- a sexualidade vista como “um mero facto hedonista e lúdico”;
- a educação sexual reduzida a uma mera aprendizagem ou ensino técnico, cuja “única preocupação (consista em) defender os interessados de eventuais contágios ou do « risco » procriador”.
Olhar assim a sexualidade é “empobrecer e negligenciar o seu significado profundo”, significado esse que deve “ser reconhecido e assumido responsavelmente tanto pela pessoa como pela comunidade”:
- responsabilidade individual, para que a sexualidade não seja vivida e sentida “como uma simples fonte de prazer”;
- responsabilidade pública, para que não esteja sujeita nem dependente de simplistas “políticas de planificação forçada dos nascimentos”.
Em ambos os casos “estamos perante concepções e políticas materialistas, no âmbito das quais as pessoas acabam por sofrer várias formas de violência”

Esta reflexão conclui-se com uma concepção que a Igreja tem defendido intransigentemente, a da competência própria e até específica da família frente ao papel subsidiário do Estado: “A tudo isto há que contrapor a competência primária das famílias neste campo, relativamente ao Estado e às suas políticas restritivas, e também uma apropriada educação dos pais”.

0 Comentários:

Enviar um comentário

<< Home