divórcio ou casamento eterno?...

2010-05-07

CinV (101) Abertura à vida (nº 44)

Bento XVI destaca a ideia de que “a abertura moralmente responsável à vida é uma riqueza social e económica”. A sociedade de hoje apresenta muitas ambiguidades: uma delas é referente à vida. Todos queremos viver, viver muito tempo, ter uma “boa vida” que não é necessariamente significado de uma vida boa. Mas, por um lado,há a falta de cuidados pessoais, como os comportamentos de risco, seja no trabalho, na estrada, na indústria de entretenimento, as ganâncias e egoísmos tribais geradores de exclusão, de marginalização, de pobreza, a falta de políticas efectivamente em defesa da vida e da vida em plenitude, como, por exemplo, as políticas habitacionais ou de transportes. Por outro, quase todos acabamos por viver a correr, sem tempo para saborear a vida, sempre empurrados pelos acontecimentos, numa palavra, acabamos por viver mal, isto é, sem qualidade de vida. Tudo vai contra o que o Papa classifica de abertura moralmente responsável: nem somos responsáveis (a culpa é sempre dos outros) nem nos preocupamos com os critérios morais em que o cuidado, a gratuidade, a solidariedade, a fraternidade, a justiça, pouco ou nada contam (“o problema não é meu!”).
A aberturaçà vida, no contexto do crescimento demográfico, assenta em quatro argumentos.

1. Contribui para a saída da miséria
“Grandes nações puderam sair da miséria, justamente graças ao grande número e às capacidades dos seus habitantes”, fazendo naturalmente um aproveitamento adequado dos dons e talentos dos seus membros. “Pelo contrário, nações outrora prósperas atravessam agora uma fase de incerteza e, em alguns casos, de declínio precisamente por causa da diminuição da natalidade, problema crucial para as sociedades de proeminente bem-estar”.

2. Evita a crise nos sistemas de segurança social
Nas nações ditas desenvolvidas, as pessoas, ao preferiram o egoísmo e o bem-estar pessoais, foram contribuindo para défices crescentes de população, que em muitos casos ultrapassam o chamado «índice de substituição». Estes comportamentos hedonistas não têm repercussões apenas no próprio ou na própria família, mas oneram pesadamente a sociedade, numa série de âmbitos que o Papa enumera:
- o perigo de ruptura dos sistemas de assistência social e o aumento dos seus custos;
- a contracção da “acumulação de poupanças e, consequentemente, dos recursos financeiros necessários para os investimentos”;
- a redução da quantidade e disponibilização de trabalhadores qualificados, o que “restringe a reserva aonde ir buscar os «cérebros» para as necessidades da nação”. Isto resolve-se muitas vezes pela “importação de massa cinzenta” de países que, vivendo uma fase de desenvolvimento emergente, mais carenciados estão de gente qualificada para poder estimular e até conduzir o processo de crescimento e de participação no concerto das nações.

3. Enriquece as relações sociais
Famílias só com um filho ou monoparentais são espaço de afecto incompletos pois falta-lhes a dimensão mínima para serem a primeira escola de socialização. Deixou de fazer parte da sensibilidade geral, a percepção de que, por exemplo, uma família onde há vários filhos se torna uma mini-sociedade onde se “é obrigado” a aprende a viver com pessoas de diferentes idades, de diferentes sexos, de diferentes feitios, e assim se vai percebendo a grande diversidade que a vida irá apresentar a cada um quando for chamado a exercer plenamente a sua cidadania. Um tal micro-espaço, para lá de ser uma fonte ou uma reserva de afecto, permite aprender a dependência mútua e a indispensável solidariedade: “ Além disso, as famílias de pequena e, às vezes, pequeníssima dimensão correm o risco de empobrecer as relações sociais e de não garantir formas eficazes de solidariedade”.

4. Fomenta a confiança nos outros e no futuro
A construção do futuro exige apoio mútuo, associação de talentos, a certeza de que sozinhos nada podemos fazer. Sem estas condições, que só a entreajuda promove, caímos em “situações que apresentam sintomas de escassa confiança no futuro e de cansaço moral”. As consequências são o desnorte, o desânimo, a falta de objectivos, o cruzar os braços, o esperar dos outros as soluções para os problemas próprios. Mas quando todos pensarem assim, deixa de haver “outros” para resolver os problemas.

Daqui decorre uma dupla responsabilidade:
- para todos, mas especialmente para as famílias, a de “propor às novas gerações a beleza da família e do matrimónio, a correspondência de tais instituições às exigências mais profundas do coração e da dignidade da pessoa”;
- para os poderes públicos, a de “instaurar políticas que promovam a centralidade e a integridade da família, fundada no matrimónio entre um homem e uma mulher, célula primeira e vital da sociedade, preocupando-se também com os seus problemas económicos e fiscais, no respeito da sua natureza relacional”.

0 Comentários:

Enviar um comentário

<< Home