divórcio ou casamento eterno?...

2009-07-30

Caritas in Veritate (CinV)

Fez ontem um mês que Bento XVI publicou esta encíclica, a sua primeira encíclica “social”. Mesmo os que ainda não a leram já saberão que se trata de um documento muito actual, sobretudo virado para o futuro. Não quer apenas contribuir para a solução desta crise, mas ir mais além de modo a que não volte a acontecer. É, portanto, um documento que deve ser não só lido mas relido e meditado. Como já fiz uma primeira leitura, estou agora a aprofundar o seu inestimável contributo não só para a DSI mas também para os actuais desafios com que nos confrontamos.
Pensei que seria um exercício muito interessante para as férias, já que este tempo de ócio não deve ser visto como um agradável “nada fazer” mas também como um tempo de valorização pessoal que passa por fazer outras coisas para as quais a vida do dia a dia nem sempre deixa espaço. E pensei também que poderia partilhar este exercício com potenciais visitantes do meu blog. Vamos a ver se consigo manter uma reflexão diária ao ritmo da encíclica.

Este documento tem muito da sua maneira de ser do Papa. É reconhecido por todos que ele é não só um grande teólogo como um grande filósofo. Alguém que quer dialogar com a cultura actual. Bastará recordar o seu diálogo com Habermas ou o tão famoso discurso em Ratisbona, cujo conteúdo foi esquecido pela exploração de uma infeliz citação feita por jornalistas que não leram ou não perceberam a mensagem de fundo. Para já não falar do discurso que iria fazer na Universidade de Roma "La Sapienza", previsto para o dia 17 de Janeiro de 2008, mas cujo convite foi anulado dois dias antes. As razões desta anulação abonam muito pouco em favor do espírito de abertura e de diálogo que deve caracyerizar uma Universidade, onde todo o saber e opinião deveriam poder ser discutidos ou não se trate de uma universitas.
Este diálogo não é nada fácil. E bom seria ler a magistral terecira paret da primeira encíclica de Paulo VI, Ecclesiam suam, dedicada ao diálogo da Igreja coma sociedade, suas características e condições. Primeiro, porque os conceitos nem sempre têm o mesmo âmbito: razão, palavra também já muito utilizada por João Paulo II (concretamente na encíclica Fides et Ratio), refere-se mais a uma razão filosófica e não tanto a uma razão técnica e pragmática como é entendida pela generalidade das pessoas. Assim o diálogo torna-se muito profícuo com os filósofos mas escapa ao comum dos cidadãos e até dos cristãos. A seu tempo referirei a reflexão que Bento XVI faz da mentalidade tecnicista e seus riscos e perigos. Por outro lado, muitos olham para o Papa ainda como presidente da Congregação da Doutrina da Fé, antigo Santo Ofício, de que ainda por vezes restam alguns tiques. Que o digam alguns teólogos… E, mesmo no diálogo inter-religioso, não é fácil esquecer a Instrução Dominus Iesu, que reflecte, pelo menos em várias passagens a ideia de que a Igreja católica é a Igreja de Cristo, colocando num plano inferior as outras Igrejas e confissões religiosas.
De qualquer modo parece-me interessante que o Papa tenha introduzido uma alteração significativa, a este respeito: enquanto, na Deus Caritas est, refere, umas cinco vezes, a necessidade ou a tarefa de a “fé purificar a razão” (28; 29), nesta encíclica apresenta uma equidade (“Esta luz é simultaneamente a luz da razão e a da fé”: 3; 5; 9) e até uma reciprocidade entre ambas: “No laicismo e no fundamentalismo, perde-se a possibilidade de um diálogo fecundo e de uma profícua colaboração entre a razão e a fé religiosa. A razão tem sempre necessidade de ser purificada pela fé; e isto vale também para a razão política, que não se deve crer omnipotente. A religião, por sua vez, precisa sempre de ser purificada pela razão, para mostrar o seu autêntico rosto humano. A ruptura deste diálogo implica um custo muito gravoso para o desenvolvimento da humanidade” (56).
Assim, neste pé de "igualdade", o diálogo torna-se posível e frutuoso. Haja boa vontade de ambas as partes

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