divórcio ou casamento eterno?...

2009-06-15

Mata do Choupal em Coimbra

A proposta de construir um viaduto rodoviário com 40 m de largura e uma extensão de 150 m sobre o Choupal estimulou um conjunto de cidadãos de Coimbra a unirem-se e a exercerem este exercício de cidadania que se opõe a mais uma destruição irremediável do Choupal.
A absoluta indiferença dos autarcas e de tantos doutores que a nossa universidade forma e de tantos que nela leccionam é dos maiores atentados à cidadania a que se assiste entre nós. Uns por lucro; outros por comodismo; outros porque vivem fechados na concha dourada da sua investigação; outros porque o que querem é que os deixem em paz; tudo isto levou a que chegássemos a este estado.
Para mim, mais preocupante que mais um viaduto (e já agora para que quer Coimbra, um cidade em crescente descrédito e degradação, quatro pontes rodoviárias mais uma que se anuncia!?) é o sucessivo abandono a que tem sido votada a Mata do Choupal. Espaço privilegiado por excelência para o contacto com a natureza, espaço de fruição e de lazer, pulmão fundamental da cidade, nada moveu os cidadãos de Coimbra a amarem e assumirem como seu este espaço verde, espécie cada vez mais rara na nossa cidade. Abandonada, afogada pelas ervas daninhas e troncos carcomidos a apodrecer pelo chão, com um velho e envergonhado circuito de manutenção, sem actividades para as escolas e para os cidadãos, a Mata foi definhando, quando podia ser um espaço fervilhante de actividades, as mais variadas. E, hoje, quem conhece esta Mata que devia ser o orgulho dos conimbricenses, a começar pelos autarcas (agora muito mais preocupados em fazer rotundas, algumas bem perigosas para os automóveis já que se elevam um palmo acima do piso rodoviário)?
Mas onde estão hoje os autarcas de Coimbra que gostam de uma Coimbra bonita, com qualidade de vida para os seus cidadãos? E se alguma coisa se fez junto ao rio deve-se ao programa Polis e não ao amor e carinho dos nossos autarcas.
Coimbra, cidade da cultura?
Coimbra, cidade da saúde?
O que é feito dessa Coimbra, culturalmente tão rica, historicamente tão antiga?
É tempo dos seus habitantes se tornarem a sério cidadãos e não permitirem as barbaridades por acção e por omissão que sistematicamente são cometidas por autarcas parolos, que até tem legitimidade para fazer esses disparates, pois foram eleitos democraticamente. E nós, sempre venerandos e atenciosos, esperamos ansiosamente pela escolha “exemplar” dos partidos para saber em quem votar.
Não haverá um grupo de cidadãos que ame Coimbra a sério e tenha um projecto sustentado de desenvolvimento que concorra à rebelia dos órgãos partidários nacionais?
Coimbra a cidade dos doutores em leis, em línguas, em história, em geografia, em física, em química, em todas as engenharias, em medicina, em enfermagem, em psicologia, em economia e não sei quantos mais, que raio fazem tantos doutores?
Longe vão os tempos dem que o fadista cantava “Do Choupal até à Lapa / É Coimbra dos meus amores /…”
Eu sei que a melancolia do passado nada resolve.
Mas se não guardarmos e respeitarmos o passado, onde ancoramos a nossa identidade?

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