divórcio ou casamento eterno?...

2006-02-11

senhor Zé

Entre os meus colegas de infortúnio, havia o Diogo, o Agostinho, o senhor António, o senhor Manel.
Quando entrei, alguém me perguntou:
- Como se chama?
- Zé.
- Mas que nome bonito, senhor Zé.
Eu sou, passei a ser o senhor Zé (senhor porque tenho já uma certa idade; se fosse jovem era o Zé).
Eu sou o (artigo definido) senhor (nome de baptismo).
Finalmente libertaram-me desse apêndice desumanizante "senhor doutor", dessa doença gravíssima que atingiu a nossa sociedade: a doutorite.
Mesmo depois de me terem perguntado:
- E o que faz(ia), senhor Zé?
"Mau...", pensei eu. Mas lá falei das aulas na Química, de investigador da Química Teórica.
E a resposta veio tão refrescante:
- Ah! Deve ser muito bonito tudo isso, não é senhor Zé?
Continuei a ser o senhor Zé.
Que bom.

Ainda recordo um episódio da minha juventude.
Quando cheguei à minha aldeia, ouvi um dos anciãos dizer-me:
- Parabéns, senhor doutor!!!!!
- Ó ti António, então já não sou o Zézito?
- Ah.... Podemos continuar-te a chamar Zézito!?
- Mas eu sou o Zézito.

Hoje só não sou o Zézito, porque as barbas esbranquiçadas me deviam ter tornado o senhor Zé.

Que tristeza de sociedade a nossa, onde o peso do doutor é tão grande quanto é pequena a dimensão da dignidade da pessoa, de todas as pessoas, cada uma delas "única e irrepetível"!

6 Comentários:

Blogger xana disse...

Senhor, obrigada pelo Zé!


novo abraço..

11/2/06 21:57

 
Blogger Nuno Branco, sj disse...

Senhor Zé obrigado pelas "imagens" ;)

12/2/06 23:03

 
Blogger Ze&Jose disse...

e "padrinho Zé", pode ser?
Um grande abraço,
Zé... Pedro

13/2/06 18:42

 
Anonymous Anónimo disse...

Olá, senhor Zé!!!
Folgo de o ver/ler assim, a modesque com uma alegria nova.
Caro amigo, ainda não tive oportunidade de, pessoalmente, ver que recuperas da melhor forma - com alegria e confiança no futuro, embora não tenha deixado de estar a par dessas tuas dores (silenciosas, creio). Esta tua crónica é digna de registo, pois ela representa precisamente aquilo que o Agostinho Silva, ontem referenciado pelos 100 anos que faria. A força do SER sobre o TER.
Efectivamente, a referência ao senhor Zé vem dizernos que o Ter não tem importância. O que fica é sempre o SER, que está contigo e que conhecemos. A tal doutorite é o Ter, da ambição, mas que nada vale, comparado com o Zézito, esse Ser, que, certamente vai estar aí para as curvas.
Força Zé! 1 abraço
AS

14/2/06 00:40

 
Anonymous Anónimo disse...

Olá.
Acabo de descobrir este espaço. Agora compreendo o respeitoso silêncio, o "pudor", a dificuldade de lhe "roubar" uma foto, de lhe oferecer um quadro...
Os olhos seguem as letres, as palavras, as frases,... E o penamento descobre "sacramentos", sinais de profunda fé, confiança e serenidade.
Obrigado pelas "pequenas" coisas que escreve, mas que transmitem "enormes" sentimentos e experiências.
Espero vê-lo, e conhecê-lo, em breve.
Um abraço
Leonel

14/2/06 10:52

 
Anonymous Anónimo disse...

CARO zÉ,
Ontem, forçosamente estive em Coimbra. Procurava visitar-te. A tua esposa disse que irias passar bastante tempo no hospital. Por isso voltei para Lisboa. De qualquer forma, mais uma vez reitero os votos de melhoras francas, aliás, visíveis nos teus escritos.
Força, Zé!

15/2/06 13:20

 

Enviar um comentário

<< Home