divórcio ou casamento eterno?...

2006-02-11

Casa das Dores

Pois é...
Passei oito dias na casa das dores.
Das dores, porque vamos lá por causa das dores: as dores denunciadoras de males mais ou menos profundos que marcam a nossa finitude.
Das dores, porque lá nos dão novas dores para curar as dores que levamos: as dores libertadoras.

De qualquer modo, encontrei lá sobretudo dores silenciosas.
Nada de dores uivantes, arrepiantes, ululantes, gritantes. No meio de tanta dor, cada um sofria as suas dores de modo mais ou menos silencioso, embora a vários "tons".
Havia dores "olhantes" que se sentiam através de um olhar tão humano.
Dores "ridentes" que se percebiam pelo movimentar dos lábios indecisos entre o deslizar para o esgar da dor ou a abertura a um sorriso libertador.
Dores "abanantes" que se projectavam através de uma cabeça que se abanava entre as mãos.
As minhas dores pareceram-me mais dores "estilhaçantes": as costas em ferida parecia que se estilhaçavam sempre que tinha de me virar.
Dores, manifestaçoes da dor, no singular.

Mas havia lá também dores "indolores" que se escondiam por detrás da "normalidade" de meio ano de internamento hospitalar ou da "naturalidade" de quem diz que vai fazer a sexta operação e que continua a percorrer os corredores do hospital como se já fizesse parte da paisagem.

Casa das dores, apesar das montanhas de carinhos que sentimos da parte das pessoas que ali estão ao nosso serviço, seja na qualidade de médicos, de enfermeiros, de cozinheiros, de responsáveis pela limpeza do chão ou da higiene corporal, de toda aquela gente que olha para nós, para cada um de nós como... um ser humano reduzido à sua dignidade na forma mais simples e absoluta.

1 Comentários:

Blogger xana disse...

as dores passam!

O que fica aqui agora é mais outro abraço!
(Com muito jeitinho que é para nada doer!)

11/2/06 21:52

 

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