Tempo de fé e de dúvidas
Passei uma semana bem longa.
Há oito dias fui informado que um lipoma que extraíra no Verão tinha células malignas. A primeira reacção copiei-a de Job: "Deus o deu; Deus o tirou".
Depois foi o tempo de provar a coerência das minhas convicções: acreditas realmente que estás de passagem? estás disposto a aceitar a vontade de Deus a teu respieto? aquilo que tanto tens escrito e dito tem algum significado para ti?
Claro que ainda só foram oito dias, mas para já parece-me que passei mais ou menos esta prova. Esperemos pelas próximas.
Mas estes oito dias trouxeram-me duas convicções:
1ª É muito bom ter fé. Foi este dom que me levou não a perguntar "porquê a mim?" e aceitar sem revolta a notícia.
2ª Não tenho vocação nenhuma para ser santo. É que quando li vidas de santos sempre os ouvia suspirar pela morte para mais rapidamente se unirem a Deus face a face. Mas eu sinceramente não tenho nada esse desejo; prefiro encontrar Deus aqui na Terra por mais uns tempos: na sua Palavra e nos seus sacramentos, mas sobretudo na minha mulher, nos meus filhos, nos meus familiares, nos meus amigos e até, se for capaz disso, nos meus adversários. E depois, lá mais para a frente "quando já for velhinho" então temos tempo para o encontro definitivo.
Sinceramente não sei em quantos lugares S. Pedro me irá penalizar no céu por esta minha "falta de fé" ainda mais proclamada em público. Que Deus tenha piedade de mim. Mas depois veremos. Todos veremos.
Tomei, entretanto, duas decisões que não sei por durante quanto tempo irei cumprir:
1ª Hierarquizar melhor os meus compromissos e tomadas de decisão.
2ª Espalhar por toda a casa aquelas palavras que andaram aí pela Net: "Não chores porque acabou; mas sorri porque aconteceu".
Nota final: Os testes que fui fazendo esta semana acabaram, há poucas horas, de confirmar a malignidade das células, mas também que tudo está ainda muito localizado, o que teoricamente se poderá resolver com uma operação. Assim espero, embora, como me disse o médico, o inimigo seja cheio de truqes.
O mal está comigo, mas, segundo parece, numa versão mais soft. Assim seja... se for essa a vontade de Deus.
Agradeço o apoio dos amigos que já sabiam.
23 Comentários:
é... esta semana foi bem longa... de qualquer modo senti-me satisfeita com o modo como aceitámos as coisas. coerentes com as nossas convicções, dispostos a seguir a vida o melhor possível apoiando-nos uns nos outros e em deus. sem perguntar "porquê nós?" sem medo de falar das coisas tais como elas são.
também eu sempre me perguntei se um dia num momento difícil iria ter serenidade e calma suficiente e conseguiria ter para mim o mesmo discurso que tenho para os outros qd estão numa fase pior... e bem, parece que consigo... minimamente. Mais uma coisa que conseguiram passar para mim, tu e a mãe!
Sinto-me capaz de "não chorar porque acabou mas sorrir porque aconteceu"... de qq maneira acho q o choro tb faz parte disto tudo e não é necessariamente mau...
Dou graças a deus por este dia mas não esqueço que ainda tens o inimigo dentro de ti... de qq modo já sei que, aconteça o que acontecer, ele não nos irá vencer!
20/1/06 01:03
Força!
E um abraço grande.
20/1/06 09:09
Há dias numa anterior intervenção dizia que lamentava a minha falta de fé e mais uma vez reafirmo. Não sei se salva mas ajuda muito. Quanto a essa questão da minha fé é agora um problema menor ( na minha visão, claro). O importante é saber que alguém te reserva ainda algumas milhas para caminhares ao lado dos que precisam de ti.
20/1/06 11:04
Sem muitas palavras, porque já tantas vezes, ensaiei este mesmo discurso.
Estou tal e qual; pressinha de morrrer, nenhuma. Primeiro, tinha a desculpa das filhas, agora é a esperança dos netos, mas a verdade verdadinha é que ainda não aprendi a amar a morte.
Gosto muito do poeta Daniel Faria, aprendo dele a amar esse encontro final, mas que ele ainda venha muito longe. Ainda não tive tempo de amar tudo o que tinha a amar por aqui.
Mais um para eu rezar, mais uma família para eu agradecer, pelo que nela se vê...
E um abraço cheio de gratidão pela partilha que aqui fizeste.
Saber-te amigo do Zé, também me tranquiliza um pouco.
20/1/06 13:13
É tão reconfortante a solidariedade e a amizade.
Comovi-me com as palavras de todos os que quiseram mandar-me um abraço.
Quis partilhar ISTO convosco porque as coisas más da vida suportam-se melhor quando temos os amigos conosco.
Mas também porque acho que devemos viver a vida em todas as suas facetas, isto é, com o que ela tem de bom e o que ela tem de mau. Realmente vivemos numa sociedade que tem tantos tabus sobre a morte, tanto medo de "chamar os bois pelo nome", refugiando-se atrás de expresões eufemísticas do tipo "morreu de doença desconhecida", "de doença prolongada", etc.. Será que numa altura em que as nossas sociedades são tão atravessadas por doenças como o cancro, a sida e outras tão mortais, evitar falar delas as torna menos graves? Ou recusamo-nos a referi-las porque desmascaram a nossa auto-proclamada auto-suficiência e nossa recusa em aceitar as limitações e a finitude do homem moderno tão auto-confiante, tão prometaico, tão capaz de tudo!?
Será que não podemos olhar a morte como um momento da vida, que é, naturalmente, de ruptura profunda, mas que é também um tempo da vida, com o qual devemos conviver, mas que habitualmente preparamos tão mal, porque não a queremos assumir lealmente?
Fiquei preocupado com os exageros sobre a minha fé ou a minha serenidade. Que exagero... Ainda só tive oito dias de prova.
20/1/06 15:23
San Julián de Cuenca tiene fama de hacer milagros, también la Virgen de Rodeiro, en Castro Laboreiro....Espero que todo sea una falsa alarma y que las células benignas venzan la partida....El hombre de verdad debe ser IMPERTURBABLE ante cualquier acontecimiento que le suceda.....(¡Qué fácil decirlo, qué difícil ponerlo en práctica....!) Un abrazo.
20/1/06 21:49
Desejo uma boa noite, Zé Dias.
E um bom despertar.
Mais um abraço.
Um abraço de estrelas!
20/1/06 23:03
Bom dia a todos.
Ontem à noite fui a Aveiro devido a um compromisso que assumira de ir orientar um colóquio sobre "É bom viver em família" e por lá contactei amigos de velha data.
Por isso só agora vim ver as vossas palavras de apoio. Já as revi com muita alegria.
Bem gostaria de ser e de me manter IMPERTURBABLE, embora essa seja uma característica apenas ao alcance dos "homens de verdade"...
De qualquer modo e sem dramatismos, irei partilhando convosco a evolução da minha situação: na próxima terça-feira vou ao médico para marcar operação e definir outros potenciais tratamentos.
Mas agora vamos mudar de tema e falar de outros assuntos, já que a vida é tão rica e polifacetada e não devemos prender-nos apenas a um aspecto por muito importante que ele seja.
Como estou de saída para outra tarde de trabalho na minha paróquia, só mais tarde voltarei a contactar.
Um abraço a todos.
21/1/06 14:34
Bom dia de trabalho, Zé Dias...
Um abraço de luz!!
21/1/06 16:48
Amigo Zé... espero com a tua ajuda, encontrar Deus aqui na Terra por longos anos. Forte Abraço
21/1/06 20:14
Zé Dias:
Descobri este teu blogue por meio dos «ex». E logo para saber essa notícia!...
Temos que estar preparados, como dizia o Senhor.
Um abraço e que tudo corra como desejas.
Rezarei por ti.
22/1/06 17:13
Vim aqui parar e gostei do que escreveste... genuíno, sincero e ainda que penses que não, confiante!
Todos nos questionamos como reagiremos quando somos confrontados com situações assim.
Sabemos que é para situações assim que o evangelho nos prepara .. mas não sabemos o quanto estamos preparados até chegar.
Desejo que continues confiante.
Deus te abençoe!
22/1/06 18:51
"Milagrosa curación" del rev. padre Román Pedreira Ancochea (Paseo de Extremadura,3-DP. 28.011, Madrid,España) al que le había aparecido una sombra negra en radiografía de pulmón. El sacerdote gallego soñó con San Julián de Cuenca (festividad, 29 de enero) y tras rezarle al santo castellano....¡La sombra amenazante desapareció....!
23/1/06 11:00
Muy milagrosa también la Virgen de los Remedios, en Rodeiro, Castro Laboreiro, Melgaço
23/1/06 11:08
Um grande abraço para ti padrinho
24/1/06 14:42
Penso que o grande milagre é a vida, a vida dom de Deus que quer que a vivamos ao serviço do projecto que tem para cada um de nós.
E temos de ter a capacidade de também aceitar que este dom se transforme quando for da Sua vontade.
Naturalmente que é muito bom prolongarmos esta estadia no meio dos amigos mas essa é um dedcisão que apenas a Deus compete.
E as nossas orações servem sobretudo para nos dar forças para aceitar o que Deus entender por melhor.
24/1/06 15:33
Conhecendo-te como te conheço, não estranhei este teu abrir do coração.
Mas, tenho a certeza, para muitos é uma confissão desconcertante e desarmante, de ficar, à partida, sem qualquer reacção.
Refeitas do primeiro impacto, as pessoas só podem, como o têm feito, dizer-te que estamos contigo, nem que seja para mandar um simples alô, e que só é derrotado quem baixa as armas.
Vais ouvir muitas palavras de esperança, e mesmo que fáceis de proferir por quem não tem os problemas, representam tão-somente que estão ao teu lado.
Força.
24/1/06 21:31
Alguem disse: " ter o dom de mudar o que se pode, ter a sabedoria de aceitar o que nao se pode mudar, e a inteligência de distinguir estas duas situações". Obrigado Zé por me ajudares através da tua fé e atitude de vida, aperceber melhor estas palavras.
25/1/06 20:06
Caro amigo Zé,
Temos que estar a cada momento preparados para tudo. A nossa vida é um mar contínuo de surpresas. Eu me questiono muitas vezes se estou preparado para receber uma notícia destas, das que muitos amigos nossas têm recebido, a modesque parecido com o termos que mudar imediatamente de local porque nos tramaram com um emprego noutro sítio. Eu creio que tudo o que estás a dizer-nos se irá reparar correctamente, até porque temos que acreditar na nossa força e na evolução da ciência, que os nossos médicos vão assimilando.
Por isso, também acretido que Deus tem tudo preparado a nosso respeito e não há volta a dar-lhe.
Mas, sinceramente, tu ainda vais estar muitos anos por aqui a escrever-nos muito do que te vai na alma e de que tanto gostamos.
Estou contigo. Força, Zé!
29/1/06 18:54
Peço desculpa por não ter respondido às vossas palavras simpáticas e solidárias mas estou sem Net há quase oito dias.
Vim a casa de um amigo para deixar este recadinho. Quando as comunicações estiverem restabelecidas direi mais coisas.
Um abraço
30/1/06 11:52
Olá, José Dias.
Hoje finalmente arrumei um momento para «espreitar» no seu blogue e dei logo com esta notícia...
Obrigado pelo testemunho de serenidade. Acho que o São Pedro lhe vai arranjar um sítio melhor, mas ... daqui a muitos anos. Continuamos a precisar da sua sabedoria, do seu olhar atento para as grandes e pequenas questões do quotidiano.
José Vieira
31/1/06 15:45
Boas novas
7/2/07 18:53
Descobri faz dias o seu blogue. Tenho sentido entusiasmo ao le-lo. O mundo é feito de similitudes. Tenho-as encontrado. Por exemplo, no retrato do seu pai. A força do seu rosto é magnifica.
No que diz respeito à doença, à nossa dificuldade em lidar com ela,a uma possivel compreenção da mesma, ás vezes leva-nos a não ser sinceros. Senão não usariamos a palavra. Creia-me seu admirador.
Joao Ramalho
8/7/08 20:34
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