divórcio ou casamento eterno?...

2007-12-24

Natal:tempo de proximidade

Dos meus tempos longínquos de ilusão de que poderia ser Presidente da República ou cardeal de Lisboa, ficou-me apenas o tique de, nesta quadra, mandar uma "Mensagem de Natal" aos meus amigos. Posteriormente essa necessiade acentuou-se a partir do momento em que, em casa, decidimos substituir as prendas absolutamente inúteis que "tínhamos" de dar aos amigos para mostrar que éramos... seus amigos e resolvemos juntar esse dinheiro e oferecê-lo às Irmãs Adoradoras, uma instituição de apoio a raparigas em risco.
Já viram a nossa figura nos primeiros anos quando os amigos vinham na sua "visita de médico" ( às vezes nem se sentavam: no Natal há muita gente a visitar e o ano não dá tempo para mostrar a nossa amizade mais calmamente), apresentavam os seus presentes e nós nada, ficávamos de braços a abanar, meios enfiados, sem coragem para assumir corajosamante a nossa decisão de dar aos mais pobres o que os amigos não precisam.
Foi, então, que pondo a imaginação a funcionar, nos agarrámos à mensagem natalícia E assim passámos para uma situação menos constrangedora: ao gordo cabaz de prendas dos amigos respondíamos com um ridículo envelope fechado com uma mensagem. E assim convencemos os amigos que nos chegavam as palavras de carinho. Há, no entanto, alguns que se interrogam se esta atitude não é anti-solidária: ao contribuir para um abaixamento de consumo interno estamos a pôr em perigo alguns postos de trabalho. Talvez. Mas para nós há um perigo maior que é preciso vencer: o consumismo exagerado. As soluções laborais terão de passar por outros caminhos, mais criativos, mais solidários e mais respeitadores da dignidade human. Além disso, o tão massacrado ambiente agradece vivamente soluções mais "furgais".
Este Natal vou partilhar com todos os bloguistas a mensagem que preparei para os meus amigos.

MENSAGEM DO NATAL DE 2007
Diz Bento XVI que “a grandeza da humanidade se determina essencialmente na relação com o sofrimento e com quem sofre” (SS 38). Aceitar e acolher o outro que sofre é assumir o seu sofrimento de tal modo que ele se torne também o meu. O bom samaritano é disso exemplo claro. Certamente que foi necessário que ele parasse à beira do caminho, se aproximasse, visse fisicamente o que se passava. Mas isso fazem quase todos os mirones quando há um acidente. Tudo isto é necessário, mas não é suficiente. O essencial, a viragem existencial, aconteceu quando ele viu com o coração, quando ele se comoveu e ficou tomado de compaixão (“sofrer com”) pelo outro. A partir daí, os negócios da sua vida passam a segundo plano e rendem-se à urgência de cuidar daquele desconhecido que sofre; ao comover-se converteu o desconhecido em próximo, em irmão e tratou dele de acordo com esta sua nova condição. “Precisamente porque agora se tornou sofrimento compartilhado, no qual há a presença do outro, este sofrimento é penetrado pela luz do amor. A palavra latina con-solatio, consolação, exprime isto de uma forma muito bela sugerindo um estar-com na solidão, que então deixa de ser solidão” (SS 38).
É por isso que, apesar dos bairros de lata, dos sem abrigo, das violações dos direitos das pessoas e dos povos, devemos celebrar e cada vez mais o Natal. Porque com ele celebramos o momento histórico em que Deus, consolador, promissor e libertador, desceu à terra para se fazer próximo de cada um de nós para que cada um de nós se faça próximo de todos os outros, homens e mulheres. Ele fez o seu papel: tornou-se o primeiro “bom samaritano”. Nós é que falhámos e por isso temos o mundo que temos: ainda não quisemos responder honestamente à questão “quem é o meu próximo?”.
Foi, talvez, por isso, que Kierkegaard disse que a noção de próximo é a novidade radical introduzida pela Revelação cristã. Foi, talvez, por isso que S. Paulo falou tão pouco de solidariedade: a solidariedade máxima foi/é a incarnação de Deus que quis “armar a sua tenda” no meio de nós, para que todos, sem excluir nem privilegiar ninguém, tenhamos a vida e a tenhamos em abundância.

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