divórcio ou casamento eterno?...

2008-06-24

Tempos de crise, tempos fecundos

Escrevi ontem sobre a necessidade de uma formação séria dos cristãos. É uma urgência de todos os tempos mas especialmente hoje, num tempo em que parece vivermos “numa cultura do vazio”, não no sentido de que não haja valores, mas porque estamos numa era de passagem ou transição em que os valores do passado parecem ser rejeitados ou mal postos em prática e os novos ainda não ganharam a consistência que os torne “inevitáveis” como o ar que respiramos.
Como cristão, sou dos que estão convencido que o cristianismo poderia e deveria ter um papel fundamental propondo os valores evangélicos (e não só os valores eclesiais) que tomam a pessoa humana como centro e daí retiram todo um conjunto de valores, princípios e normas que desagum na defesa, respeito e promoção dos direitos humanos.
As crises são sempre tempo oportuno (o kairós dos teólogos) para fazer propostas libertadoras. Nas crises as pesssoas andam desnorteadas (sem norte) e portanto necessitadas de alguma bússola. Essa bússola não tem que ser nem é unicamente a Igreja católica: há muitas outras religiões, há movimentos culturais. Mas para mim, nenhuma tem a força libertadora que dimana das palavras perenes do Evangelho, quando é tomdo a sério.
Mas como fazer? A pergunta do como é hoje crucial. Talvez por isso, a própria Igreja católica esteja tão desnorteada como o mundo.
A propósito gostaria de partilhar convosco um texto de Tolentino Mendonça.
Há um poder contestador, chamemos-lhe assim, que é inerente à experiência cristã e que ela é chamada a exercer face às construções de cada presente, suas derivas imaginárias, suas satisfações mitológicas. A cultura tem de representar uma mediação, e uma mediação a descobrir e a privilegiar, não um absoluto. Como escreve Robert Scholtus, num discurso teológico bem temperado de humor, o cristianismo é por sua natureza insolente, paradoxal e tem-se tornado pior com o tempo: acontece que hoje o testemunho cristão é mesmo chamado a inscrever-se como enigma na paisagem humana, mais até do que como inteligível testemunho.

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