divórcio ou casamento eterno?...

2008-06-20

Corrupção

O PS aprovou sozinho ontem a sua proposta de luta contra a corrupção com a criação do Conselho de Prevenção da Corrupção (CPC).
Devo dizer que nunca percebi se os deputados do PS estavam ou estão seriamente interessados nesta luta. Sabendo-se que é um dos piores cancros da democracia portuguesa, tantas hesitações e tanto tempo para tomar uma decisão dão para desconfiar. Além disso, a recusa em aceitar a proposta de Cravinho para passado este tempo todo vir a recuperar grande parte dela mais suspeitas levanta.
Um sinal positivo de alguma bondade desta proposta é que todos os outros partidos se abstiveram. E digo que é positivo porque na política portuguesa há uma regra de ouro: tudo o que vem da oposição deve ser rejeitado pelo partido do governo e tudo o que vem do partido do governo deve ser rejeitado pela oposição: é o que podemos chamar o "diálogo democrático à portuguesa".
Positiva me parece a sua independência do governo e o facto de funcionar junto do Tribunal de Contas
No entanto, as críticas de Maria José Morgado não são muito optimistas. Embora se congratule com a sua dependência do Tribunal de Contas, estranha que apareça agora mais uma legislação quando em Fevereiro entrou em vigor uma lei de combate à corrupção que vem responder a algumas das mesmas preocupações. Fala ainda de "incoerência" na produção de leis anticorrupção, de "sobreposição e dispersão" de estruturas envolvidas, para concluir que "não é só fazer leis e dizer coisas, isso é fácil, é barato e não dá nada".
Resumindo, para um cidadão ignorante como eu fica a ideia de que, mais uma vez, produzimos leis atrás de leis, geralmente pouco pensadas, sem preocupação de consenso em assuntos tão graves, pouco enquadradas e naturalmente com os adequados buracos para os bons advogados defenderem os clientes com dinheiro.
Até porque a corrupção é sobretudo uma questão de mentalidade, que se alimenta da pequenina corrupção e vai deslizando, de degrau em degrau, até atingir proporções catastróficas.
Espero, por isso, que a lei seja bem dura nas penas a aplicar. Porque infelizmente nós só aprendemos quando nos entram na carteira ou nos tiram a liberdade.

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