divórcio ou casamento eterno?...

2008-06-15

Os países são como as pessoas

Gosto muito da Europa, de uma Europa forte, aberta ao mundo, capaz de lutar pelo seu modelo que é (era?) mais social que outros. A União Europeia é um meio que pode ser eficaz para fortalecer a Europa e lhe dar o lugar que lhe compete no mundo, de tal modo que tenho (temos?) a tendência a confundir Europa e União Europeia.
Por isso, o não irlandês, embora mais que esperado, não foi uma boa notícia. Não sei se eles quiseram dizer não à Europa (EU) ou ao Tratado de Lisboa. Até porque certamente a esmagadora maioria deles (como de todos nós) não o leu nem sequer sabe o que diz esse tratado, o que certamente acontece com todas as constituições nacionais aprovadas pelos respectivos Parlamentos.
Votar "não" porque não se sabe o que é ou apenas se sabe o que os outros dizem mesmo que seja aldrabice (os defensores do "não" utilizaram a mentira; por exemplo, com este Tratado, os irlandeses seriam obrigados a introduzir legislação liberalizadora do aborto ou a fornecer soldados para tropas conjuntas), não é propriamente um bom exercício de cidadania
Aliás dizer "não" é muito fácil e cómodo, sobretudo quando nos garante todas as vantagens e nos liberta das consequências desagradáveis. Difícil, difícil é construir. O egoísmo não é apenas típico das pessoas. Também ataca, e talvez mais ainda, os países e as nações.
Além disso deve dar um especial gozo a um país tão pequeno pôr de cócoras uma Europa inteira. Deve ser uma sensação erótica sentir que 3 milhões podem mandar sobre 500 milhões de europeus que formam a UE. Destes há alguns milhões que estarão de acordo com os irlandeses, mas a desproporção mantém-se.
Geograficamente, a Europa é maior que a Irlanda
Mas a Europa é muito maior que a Irlanda, porque, apesar da Irlanda já a ter rejeitado mais que uma vez, a Europa continuou a dar-lhe largos milhares de milhões de euros que permitiram à Irlanda deixar de ser o Zé-ninguém que era há vinte anos atrás.
Mais, a Europa é demasiado grande para ficar refém de uma tão pequena Irlanda. Todas as grandes construções históricas se conseguiram num diálogo dialéctico entre os que eram a favor e os que eram contra, entre os que queriam assim ou assado e sobretudo numa luta constante e muito difícil contra egoísmos pessoais, grupais ou nacionais.
A Europa é uma proposta muito grande e a sua grandeza ir-se-á fortalecendo com o seu espírito de tolerância, com a sua solidariedade com o mundo, com a sua abertura aos outros, mesmo àqueles que não a querem, e também com estes obstáculos que estimulam a sua criatividade e a sua capacidade de invenção para tornar essa sua grandeza muito mais justa, solidária e humana.
A porta está sempre a aberta.

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