A propósito dos Bispos
O Bispo de Coimbra vai fazer 75 anos nos princípios de 2010. Tendo em conta a sua substituição, não seria altura da Diocese (começar a) pensar no perfil do seu sucessor? A este propósito teci algumas considerações no jornal diocesano, do qual reproduzo grande parte.
A pergunta que faço é simples. Será que nós, leigos, padres, religiosos, comunidades, a Igreja diocesana não tem nada a dizer sobre o assunto. Há longo tempo que a Igreja “não abre a boca” nestas situações. Nos primeiros séculos, os bispos eram eleitos, de várias maneiras, pela Igreja local. O clero e o povo reuniam-se para eleger ou para aclamar (ou não) o bispo escolhido e, só depois de “aprovado”, é que era consagrado pelos bispos da região. A conhecida regra “o que interessa a todos deve ser decidido por todos” era então levada a sério, mas o centralismo romano foi-se esquecendo dela até a eliminar de todo.
Não adianta nem quero falar do passado, mas seria bom que a Igreja, que tanto depende do passado, não atire fora só as normas que os principais responsáveis entendem ser-lhes desfavoráveis.
Hoje, de acordo com o Direito Canónico, “o Sumo Pontífice nomeia livremente os bispos ou confirma os que foram legitimamente eleitos” (c. 377.1), baseado na opinião da “Conferência Episcopal (que) indica, de três em três anos, à Santa Sé nomes de presbíteros que considera dignos e idóneos” (c. 377.2) e do Núncio que procede a consultas secretas para esse fim (c. 377.3).
A primeira pergunta que me sinto obrigado a fazer é se a Igreja é ou não Comunhão? E não se riam, porque se há palavra que a Igreja, a todos os níveis, mais desvalorizou (ia a dizer dilacerou, mas emendei a tempo) é o conceito de Comunhão. Todos os hierarcas falam em comunhão, mas quantos a praticam? Todos os leigos falam de Comunhão, mas quantos sabem do que falam e fazem dela o estilo de vida eclesial?
Mas, como diz o Documento final do Sínodo de 1985, “a eclesiologia da comunhão é a ideia central e fundamental nos documentos do Concílio”, que, segundo João Paulo II, é “a Magna Carta da Igreja”.
Assim sendo, a Igreja é Comunhão. A Comunhão é, pois, um dos pilares fundamentais de uma Igreja que quer ser uma comunidade de pedras vivas fundada na Eucaristia (PO 6) e ser “sinal e instrumento da íntima união com Deus e de unidade de todo o género humano” (LG 1).
Dito isto, há questões e propostas que gostaria de fazer.
Temos, nós todos que formamos a Igreja de Coimbra, o direito e o dever de participar na edificação desta mesma Igreja? Temos ou não o direito e o dever, que decorre da nossa condição de baptizados (LG 12; 31; 32; AA2; 3), de dar a nossa opinião, seriamente reflectida e tendo em conta a nossa realidade?
Penso que é indispensável que as comunidades pensem no perfil de Bispo que convém à Diocese, pois ninguém a conhece melhor que nós. Não estou a fazer nenhuma avaliação do nosso Bispo actual. Estou a dizer que é tempo, e o tempo já não abunda, de em nome da Comunhão darmos indicações sobre o tipo de Bispo que melhor servirá nas nossas condições eclesiais e sociais. Devemos fazer debates e encontros sobre este tema. Pensar sériamente e comprometidamente. Participar realmente na vida da Diocese.
Eu sei que há duas dificuldades graves a superar.
A primeira já a referi: o centralismo romano, o secretismo da decisão, o decisor final que se baseia nas suas mundividências e na opinião do Núncio e dos Bispos. Um e outros são gente que sabe, mas não são toda a Igreja como Comunhão. Mais, sabem muita teologia, bastante pastoral (espero eu!), mas nem sempre conhecem a real realidade da vida concreta, sobretudo dos “pequenos” pormenores que fazem a felicidade e a infelicidade da vida de cada um e da cada família. Na maior parte das áreas dos âmbitos da sociedade civil os peritos somos nós os leigos: não peritos de teoria(s), mas peritos da prática. E a nossa opinião é aí insubstituível (FC5, a propósito do casamento e da família. Por que não nos outros âmbitos?).
E quem vai fazer essa discussão? Para já, todos, directamente mas sobretudo através dos seus representantes. Posso referir os Conselhos Pastorais diocesanos e paroquiais, as várias Comissões e organismos de movimentos laicais. Há os Conselhos Presbiteriais e instituições afins. Há as Confederações e Comissões de Religiosos. Há muita gente que, representando todas as áreas da Igreja, pode e deve dar uma opinião, que não pode deixar de ser tida em conta numa Igreja que é (quer ser) Comunhão.
O problema é que não temos esta tradição; não nos ensinaram a dialogar em Igreja; somos, de um modo geral, razoavelmente analfabetos; sabemos pouco dos documentos do Concílio e do Direito Canónico.
Mas tal, como o caminho se faz caminhando, a Comunhão constrói-se “Comungando”.Temos caridade e fortaleza para tal? De ambas as partes? Se não, a Igreja continua “a não abrir a boca”.
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