divórcio ou casamento eterno?...

2010-07-10

Os amigos de Alex

Tive a oportunidade e a sorte de participar num encontro de velhos amigos. A faixa etária alargava-se dos 50 aos 80 anos. Muita gente boa. Vários amigos que não via há anos. Pusemos a conversa em dia. E tivemos no meio do convívio um espaço comunitário para quem quisesse partilhar a sua vida, as suas relações com os outros e as relações com Deus. Tudo muito informal. E ficámos a saber mais uns dos outros e de cada um de nós.
Vim de lá com um sentimento de muita alegria, por rever tantos amigos, mas também com uma sensação de “saber a pouco”. Ali, comigo, estava gente muito séria, cristãos convictos a maior parte, intelectualmente todos com as suas licenciaturas. Uma “espécie de elite” cívica e eclesialmente que, dada a sua idade, alguns passaram pelo Maio de 68, mais alguns pelo Vaticano II, todos pelo 25 Abril. Talvez, por isso, eu estivesse à espera de que se debatesse mais a pergunta que me martela a cabeça: “O que foi feito das nossas utopias?”.
Para lá do meritório e indispensável apoio familiar a netos e a pais idosos, quase não se ouviu falar dos projectos em que estivemos ou estamos comprometidos para tornar este mundo mais à medida da pessoa.
Pareceu-me também haver subjacente uma certa desilusão, um certo desencanto destes tempos, que, talvez, nos tenha incapacitado de colocarmos a questão fundamental: “O que vamos fazer para que este estado de coisas mude? O que estamos a fazer para que não continue tudo na mesma?”. Será inevitável que o pesar dos anos nos vá enferrujando como agentes da História? Será isto envelhecer?
Com toda aquela sabedoria que só a vida dá, não teremos nada para ajudar a mudar estes tempos? O tempo de crise, para os homens e mulheres sábios, não é apenas um tempo de desgraças e dificuldades; é sobretudo um tempo de oportunidade, um “tempo de graça”. Oportunidade para ajudar a mudar. Oportunidade para pôr “vinho novo em odres novos”.

Bem sei que trinta andorinhas não fazem a primavera. Mas trinta pessoas, como maior ou menor espaço de poder e influência, podem ajudar e fazer alguma coisa. Podem animar e estimular outros que até se revêem neles. Mas sobretudo podemos lutar com palavras e por gestos contra este ambiente de fatalismo, de egoísmos corporativos, de instintos tribais, do “problema não é meu”, do “salve-se quem puder”, quanto mais não seja repetindo, “oportuna e inoportunamente”, e praticando duas célebres recomendações:
- a de Madre Teresa de Calcutá: “se eu ajudar a resolver o problema que tenho à minha porta, estou a ajudar a resolver o problema do mundo inteiro” (citação livre), porque, acrescento eu, o mundo é feito de uma rede de “eus-nós”. Portanto se todos os “eus” fizessem o que propunha a madre Teresa, todos os problemas do mundo estariam cobertos (eu sei que há problema transcomunitários, mas também eles são resultado das acções de “eus-nós”). Com uma vantagem: tal como quem faz mal estimula os outros a fazer o mal e contribui para criar um ambiente propício a aceitar o mal (a corrupção, a marginalização, o egoísmo, a in-solidariedade, as várias formas de injustiça e violação dos direitos fundamentais, ou se quiserem vão ler as palavras de Jesus em Mt 15,19) como normal, o mesmo se passa com o bem. E que necessitados estamos de criar uma ambiente saudável cívica e eticamente.
- a de John Kennedy: “Não perguntes o que pode o teu país pode fazer por ti, mas o que podes tu fazer pelo teu país”. Eu só trocaria o “tu” pelo “nós”: o que podemos “nós”, os pequenos grupos como este, as pequenas comunidades eclesiais , os movimentos cívicos, as associações profissionais, o que é que estes “nós” todos podem fazer para que este país seja mais justo, mais solidário, mais humano. E podemos fazer muito para despertar a consciência e a vivência do bem comum. Porque se cada grupo fizer o seu muito que é sempre pouco (os grupos são sempre pequenos), os muitos poucos, porque multiplicados por milhões, dão muitos muitos, dão uma multidão.

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