divórcio ou casamento eterno?...

2010-08-13

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Primeiro quero deixar claro que estou unicamente a partilhar preocupações e não certezas. Falei com o coração nas mãos, embora acrescentasse algumas passagens evangélicas (nem sempre certamente bem interpretadas) que me fazem meditar muito. A minha questão de fundo é se devo ou não pedir a cura da minha doença ou a resolução de um problema material ou espiritual qualquer. Pessoalmente, e repito, pessoalmente, sinto que não o devo fazer. Mas é uma mera opinião pessoal. Dela tenho falado com muitas pessoas, que, na sua esmagadora maioria, discordam de mim. Como já percebeu certamente, a minha posição é esta: “Então Deus que me ama mais que ninguém no mundo, que sabe melhor que ninguém o que me é mais útil, “precisa” mesmo que eu o “chateie” como refere Lc 11?”. E aqui podia fazer uma pergunta. Quantos doentes, que pediram a cura, foram atendidos? Não sei quantificar, mas sei que muitos continuam doentes. Quantos pediram um emprego e continuam desempregados? Indo um pouco mais longe, é por eu pedir muito, que sou atendido? O incentivo de Jesus a bater à meia-noite à porta de amigo e bater, bater até ele me dar o pão que preciso é mesmo eficaz como conclui S. Lucas?

Não estou a “condenar” ninguém nem quero dar lições a ninguém. Não ponho em questão o valor da oração, de nenhum tipo de oração. É certo que dou primazia àquela que defini na primeira vez: estar com Deus, abrir-lhe o coração, estar disponível para aceitar a sua vontade.
O que ponho em questão é o que se pede. Muitos, com essa lógica do “pedi e dar-se-vos-á”, pedem as coisas mais incríveis e acham-se no direito “evangélico” de serem atendidos. A maior parte das vezes pedimos soluções egoístas para problemas nossos. Mas também há muitos a pedir pelo bem dos amigos ou pela paz, justiça e solidariedade no mundo.
O que me preocupa é o seguinte: não é pedindo a Deus que venha fazer um mundo mais justo que o mundo se torna mais justo. Não porque Deus não possa fazê-lo, mas porque essa é uma tarefa que Ele nos atribuiu, a partir da primeira página da Bíblia: “cuidai e guardai o jardim” e sobretudo com a terrível pergunta “Onde está o teu irmão?”. Ele quer, como já repeti várias vezes, que sejamos nós, com mais ou menos talentos, a construir um mundo cada vez melhor e cada vez mais próximo do Reino de Deus, lutando pela paz, pela justiça, pela solidariedade, investigando rumos novos nos domínios material, intelectual e espiritual e alterando os nossos estilos de vida.
Não é a oração que ponho em causa. É que a maior parte fica pela oração, acreditando que, pedindo, Deus fará o que lhes compete a eles. É esta mentalidade que deixa o mundo como está, que dificulta que a Igreja seja uma comunidade efectiva de acolhimento capaz de fazer uma proposta de libertação para tantos necessitados de esperança, de sentido de vida, de pão, de amor, de uma palavra consoladora. É esta mentalidade que origina cristãos por delegação: delegam em Deus e ficam com a consciência tranquila. Basta-lhes ir à Missa e à Comunhão, cumprir as suas devoções, mas nem sequer, só para dar um exemplo demasiado comum, pagam o subsídio de férias e de Natal às suas “mulheres a dias”. Esses possivelmente nunca meditaram em passagens evangélicas como “Não é o que diz ´Senhor, Senhor´ que entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mt 7,21) ou o discurso escatológico: “Vinde, benditos de Meu Pai, porque tive fome, sede, … e sempre que o fizestes ao mais pequenino foi a Mim que o fizestes” (Mt 25, 31ss).

Quero, finalmente dizer-lhe, que a minha relação com Deus é muito “simples”: de filho para Pai. Falo com Ele, umas vezes alegro-me e outras refilo e discuto; partilho as minhas preocupações e alegrias, e também faço silêncio. Estes tempos de comunhão são muitas vezes fecundos e felizes; outras vezes, vazios e distantes. Mas acredito, às vezes com esforço, que, num caso como noutro, sou infinitamente amado. Por isso, posso também subscrever as suas palavras: “É terrível o deserto. No meio da angústia não ver nem sentir Deus. Saber que Ele não me abandona, mas dizê-lo com a cabeça sem o sentir com o coração”. Mas são estas dificuldades que reforçam a nossa fé ou… acabam com ela. Para mim têm servido de reforço e de uma maior purificação do meu conceito de Deus.

Foi um prazer espiritual muito forte este diálogo que me proporcionou. Com as minhas saudações fraternas no Senhor Jesus, rezo para que o Senhor nos continue a ajudar a sermos os seus instrumentos em todos os momentos da nossa vida!

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