divórcio ou casamento eterno?...

2011-12-26

A BELEZA DESTE NATAL

O Natal, que ontem celebrámos, foi um dos mais bonitos da minha vida.
Bonito por fora, pois tivemos um dia de sol radioso emoldurado por cúpula de azul imaculado. As casas, as paisagens apresentavam um brilho que refrescava a alma. As pessoas, que fui encontrando, respiravam alegria e felicidade.
Mas sobretudo bonito por dentro (de mim). Como há bastantes domingos que não podia ir à uma celebração eucarística, esta teve um encanto especial. Não só por podermos ir em família, o que nem sempre é fácil. Mas por poder manifestar e testemunhar a fé em conjunto. Muitas vezes pensamos muito na “minha fé”. Pois claro, eu tenho de ter a minha fé, a minha relação especial e radical com o Deus em quem acredito. Mas a minha fé não é minha; é a fé da minha comunidade; foi ela que ma transmitiu ao aceitar-me no seu seio. E por isso eu não posso vivê-la em plenitude se não o fizer no seio da comunidade. Mas não é só celebrar a nossa fé. É comungar a nossa comunhão com Cristo e com os irmãos. É dar o abraço da paz, sinal de que estamos de coração limpo para abraçar o Cristo que vamos comungar.
Nestes últimos seis anos, dos quais devo ter passado quase metade no hospital, muitas vezes, pessoas caridosas e carinhosas me “foram levar a comunhão”. Mas, e peço desculpa se escandalizo alguém, não tem nada de semelhante. Mas o Jesus não é o mesmo? É! Mas esse já eu tenho comigo, e ainda mais quando estou amarrado à cama do hospital. Mas para comungar na enfermaria não só não há ambiente físico – a barulheira das visitas (e ainda bem que lá vão visitar os seus familiares ou amigos), a televisão em altos berros com as queridas todas Júlias, Fátimas, Gouchas – como também não consigo – defeito meu – criar espaço e silêncio interior que me abstraiam de tudo aquilo e me permita saborear o nosso Deus que quis fazer-se pão para nos alimentar. Além do mais, mesmo quando em casa comungo, juntamente com a minha mãe que está praticamente imobilizada, em que o ambiente é o melhor possível, em que depois ficamos os dois a meditar e a partilhar o dom da Palavra e o dom do Pão e a interiorizar toda essa força espiritual única; mesmo aí, dizia, não é a mesma coisa do que celebrar com e na comunidade. Aliás sempre tive dificuldade em perceber bem a comunhão fora da celebração eucarística. Parece-me que autonomizamos a hóstia consagrada, como se nada tivesse a ver com a comunidade celebrante e orante. A primeira vez que esta questão se me colocou – e que eu nunca me preocupei muito em aprofundar – foi há muitos anos, quando li uma vida do santo cura de Ars. Num domingo, aconteceu que uma pessoa, que acabara de comungar, por razões que não viriam ao caso, saiu imediatamente da Igreja. Então o nosso santo cura mandou dois acólitos de velas acesas acompanhar aquela pessoa. Até onde, já não sei. Mas, quando ela perguntou a que propósito vinha aquele acompanhamento foi-lhe dito que como levava Nosso Senhor dentro de si devia ser acompanhada por duas velas. Pelo contexto, poderemos inferir que estaria em causa a hóstia que ainda não tivera tempo de ser digerido pelos sucos gástricos. Pois se não for por isso, ficava a minha pergunta: mas Jesus Cristo não está sempre comigo!?

Mas deixemo-nos de altas teologias. Até porque, falando deste tema, estou também a colocar o tema das celebrações dominicais sem Eucaristia, que não substituem a celebração eucarística, o que se torna um problema muito grave já que “a Eucaristia faz a Igreja e a Igreja faz a Eucaristia”. Por isso, o Concílio proclamou que “nenhuma comunidade cristã se edifica sem ter a sua raiz e o seu centro na celebração da santíssima Eucaristia, a partir da qual, portanto, deve começar toda a educação do espírito comunitário. Esta celebração, para ser sincera e plena, deve levar não só às várias obras de caridade e ao auxílio mútuo, mas também à acção missionária, bem como às várias formas de testemunho cristão” (PO 6).

Mas voltando à celebração de domingo senti beleza em toda ela: no ambiente, nos cânticos, na homilia, no abraço da paz. Mas vou aqui recordar a beleza das leituras: cada uma delas no seu registo, todas juntas formavam um caleidoscópio que nos alegra a inteligência e a alma.
Logo na primeira leitura surge aquele cântico de alegria de Isaías:
Que formosos são sobre os montes
os pés do mensageiro que anuncia a paz,
que traz a boa-nova, que apregoa a vitória!
 Que diz a Sião: «O rei é o teu Deus!» 
Ouve: as tuas sentinelas gritam, cantam em coro,
porque vêem cara a cara o Senhor, que regressa a Sião. 
Irrompei a cantar em coro, ruínas de Jerusalém,
que o Senhor consola o seu povo, resgata Jerusalém. (Is. 52,7-9)

Essa alegria repete-se no Salmo, de que destaco a segunda parte:
Aclamai o Senhor, terra inteira, gritai, vitoriai, cantai, tocai:
tangei a cítara para o Senhor,
a cítara juntamente com os outros instrumentos
com clarins e ao som de trombetas aclamai o Rei e Senhor (Sl 4.5-6)

A segunda leitura, tirada dos primeiros versículos da Carta aos Hebreus, lembra que com a entrada de Deus na história humana, como um de nós, ele trouxe consigo a revelação definitiva:
Muitas vezes e de muitos modos, falou Deus aos nossos pais, nos tempos antigos, por meio dos profetas. Agora, nesta etapa final, falou-nos pelo seu Filho, a quem nomeou herdeiro de todas as coisas, o mesmo que, por ele tinha criado o mundo. (Heb. 1,1-2).

E finalmente vem aquele poema literariamente tão belo e teologicamente tão profundo, que nos deixa extasiados e assustados. Este Prólogo do evangelho de João procura descrever toda a grandeza e profundidade do mistério de Deus mas também dos homens.
            No princípio já existia a Palavra;
                        a Palavra estava com Deus
                        e a Palavra era Deus.
No princípio Ela estava com Deus. 
Por Ela tudo foi feito;
e sem Ela nada foi feito. 
Ela continha a vida
e essa vida era a Luz dos homens;
essa Luz brilha nas trevas,
e as trevas não a compreenderam. 
Apareceu um homem, enviado por Deus, que se chamava João; este vinha como testemunha, para dar testemunho da Luz e por ele todos chegasse à fé. Não era ele a Luz, era apenas testemunho da Luz. A Luz verdadeira, a que ilumina todo o homem, estava chegando ao mundo.
Ela estava no mundo
e, embora o mundo fosse deito por meio dela,
o mundo não a conheceu. 
Veio para a sua casa
mas os seus não a receberam. 
Aos que a receberam,
tornou-os capazes de ser filhos de Deus. 
Aos que lhe dão a sua adesão, estes não nascem da linhagem humana, nem por impulso da carne, nem por vontade de um homem, mas nascem de Deus. 
E a Palavra se fez carne,
armou a tenda entre nós
e contemplámos a sua glória,
a glória de Filho único do Pai,
cheio de amor e fidelidade. 
Dele dava testemunho João quando clamava:
«Este era aquele de quem eu disse: O que vem depois de mim passou-me à frente, porque existia antes de mim».
Porque da sua plenitude
todos nós recebemos
antes de tudo um amor que responde ao seu amor.
Porque a Lei foi dada por Moisés, o amor e a fidelidade tornaram-se realidade em Jesus o Messias. A Deus jamais alguém o viu; é o Filho único, que é Deus e está ao lado do Pai, quem o deu a conhecer. (João 1,1-18)

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