divórcio ou casamento eterno?...

2011-12-24

BIBLIA: UM LIVRO FASCINANTE

Convido os leitores a lerem o artigo do António Marujo no Público de hoje, no qual resume as opiniões de vários intelectuais e artistas sobre a Bíblia: Bíblia Sete histórias de uma paixão.
Não resisto a copiar para aqui algumas das muitas interessantes ideias. Porque é bem possível que muitos nunca tenham lido a Bíblia e possivelmente muito poucos a meditem regularmente. Isto, apesar do Concílio, ter insistido muito nessa “obrigação”. Lembra que a Bíblia é a alma da teologia e da pregação: “As Sagradas Escrituras contêm a palavra de Deus, e, pelo facto de serem inspiradas, são verdadeiramente a palavra de Deus; e por isso, o estudo destes sagrados livros deve ser como que a alma da sagrada teologia. Também o ministério da palavra, isto é, a pregação pastoral, a catequese e toda a espécie de instrução cristã, na qual a homilia litúrgica deve ter um lugar principal, com proveito se alimenta e santamente se revigora com a palavra da Escritura.” (DV 24). Depois “exorta com ardor e insistência todos os fiéis, mormente os religiosos, a que aprendam «a sublime ciência de Jesus Cristo» com a leitura frequente das divinas Escrituras, porque «a ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo». Debrucem-se, pois, gostosamente sobre o texto sagrado” (DV 25). Finalmente recomenda a sua difusão devidamente preparada: “Façam-se edições da Sagrada Escritura, munidas das convenientes anotações, para uso também dos não cristãos, e adaptadas às suas condições; e tanto os pastores de almas como os cristãos de qualquer estado procuram difundi-las com zelo e prudência.” (DV 25). Note-se a famosa frase de S. Jerónimo: «a ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo». É verdade. Talvez por isso, nós os católicos conhecemos tão mal Jesus. E ninguém pode amar quem não conhece. Nem segui-lo na sua proposta de conversão dos corações e de construção de um mundo onde todos sejam amados e respeitados.

Agora, com a devida vénia, volto ao artigo do Marujo.  
Para Luis Miguel Cintra, a Bíblia trata-se de “um texto genial, mesmo do ponto de vista literário; a escrita dos evangelhos é absolutamente deslumbrante”. Para lá desse aspecto formal, impressiona-o a permanente ligação do humano ao divino: “Há, nessa escrita, uma ligação à actividade humana. O que é fundamental no cristianismo é o incarnatus est [Ele incarnou], a ligação do humano com o divino. O evangelho fala do encontro daquele que foi Deus na terra”. E dá vários exemplos – o baptismo de Jesus, a anunciação – e até no AT, que traça “uma espécie de história de um povo em diferentes níveis de compreensão”, com a qual “comovo-me também, porque ligam mais uma vez o divino ao humano”.

Tolentino de Mendonça refere vários livros dos 72 que compõem a Bíblia, mas “penso que à hora da minha morte gostaria que me lessem o Cântico dos Cânticos”, esse “epitalâmio, um canto de admiração trocado por dois enamorados, um sussurro e uma extraordinária meditação acerca do amor”. Trata-se de um poema no qual “o amor está sempre a ser proposto e reproposto: nunca é construção terminada. Há um ritmo incessante de movimentos, quase vertiginoso em alguns momentos. O amor faz destes enamorados nómadas, buscadores e mendigos. Todo o diálogo de amor é uma conversa entre mendigos”, sintetizado na famosa frase: “Grava-me como selo no teu coração, como selo no teu braço, porque forte como a morte é o amor” (Ct 8,6).
Alice Vieira, apesar da sua formação republicana, laica e anticlerical, não resiste à beleza e sabedoria eterna dos Salmos: “Está para lá de tudo, ninguém tem dúvida de que é o grande livro da Bíblia. É grande literatura, onde a palavra é muito bem utilizada. O autor é o maior poeta de todos, consegue chegar até hoje como se escrevesse agora. Estão lá as nossas angústias e medos, o nosso desespero, mas também a nossa felicidade e a nossa esperança”. E faz uma sugestão algo inesperada: “O que acho é que as pessoas deviam ler um bocadinho mais a Bíblia... Quando se está chateado ou a precisar de reflectir sobre qualquer coisa, abre-se a Bíblia ao acaso e encontra-se sempre algo que vem ao nosso encontro.
Levo sempre a Bíblia comigo”.  

Esther Mucznik, da comunidade judaica, destaca as duas vertentes que a encantam: “A Bíblia é absolutamente fascinante: retrata a condição humana com todas as suas imperfeições e violências, mas também com o seu lado sublime. É um testemunho da caminhada espiritual de um povo. Essa caminhada tem uma vertente geográfica, da Mesopotâmia até Canaã, e uma vertente espiritual, do politeísmo ao monoteísmo”. Para lá do livro do Êxodo, o livro fundante do povo judeu, destaca o livro de Job, pela sua universalidade, pelo que “é extremamente moderno”, e do qual se podem fazer duas leituras fundamentais: “A mais comum é a eterna questão do bem e do mal: Job é temente a Deus e Deus castiga-o. Job contesta, argumenta, Deus responde e pergunta-lhe: "Mas quem és tu para contestar os meus desígnios?" Porque os desígnios de Deus são insondáveis ao entendimento humano. A segunda leitura é a que mais me interessa: no final do livro, Job volta à felicidade. Há um final feliz, porque, ao longo de todo o texto, Job nunca aceita a culpa. "Denegrindo-nos, é como se denegríssemos a obra divina", como diz Job”.
Mas a nota que mais destaca é a contínua referência ao diálogo, à interrogação e à dúvida: “O que mais gosto, em Job como também nos profetas, não é que eles dizem "ámen", mas estabelecem um diálogo com Deus, por vezes um diálogo com dúvidas. Ser humano, com todas as capacidades que Deus nos dá, de colaboradores seus, de aperfeiçoamento do mundo, implica também a dúvida. Também Abraão negoceia com Deus, por exemplo na questão da destruição de Sodoma. Mas até me identifico mais com Moisés, que é um homem de dúvida, que discute se a sua escolha para liderar o povo é a melhor. A dúvida leva-nos mais longe, leva-nos a perguntar, a interrogar Deus também”.

Dimas de Almeida, pastor protestante, não destaca nenhum livro porque a Bíblia é “uma polifonia”. Por isso, “prefiro evitar criar um cânone dentro do cânone, gostaria de seguir a pluralidade do cânone, que é tão rico, tão conflitual, que até podemos dizer que há teologias em conflito, o que é extremamente salutar. Prefiro tentar aguentar a tensão inerente à diversidade dos textos e, em vez de eleger um único texto, gostaria antes de ter como minha eleição a pluralidade do cânone”.

Teresa Toldy, teólogo católica, destaca o livro do Êxodo, “é um dos meus fascínios e conta uma história única, que é de toda a humanidade. Tudo o que é o melhor e o pior da humanidade está ali e isso é fascinante. É como se fosse um pano de fundo para os tempos que vivemos agora”. Dos Evangelhos recorda episódios que a fascinam: “a história dos discípulos de Emaús, após a ressurreição de Jesus, reinterpretando o que acontecera, o que eles vêem e não vêem, o que acontece quando eles reconhecem Jesus, tudo isso é espantoso. E o relato de quando Jesus aparece a Maria Madalena, depois de ressuscitar, comove-me profundamente. Tal como o prólogo do Evangelho de S. João, não só do ponto de vista teológico, mas da cadência poética do texto, em qualquer língua em que se leia. Por exemplo, o texto, no original grego, diz que Deus acampou no meio da humanidade. Isso é fascinante.”

Será que a maioria dos católicos se sente assim fascinado pela Bíblia, andam sempre com ela, a ela recorrem nos momentos de alegra e nos de tristeza. É que «a ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo».

SANTO NATAL PARA TODOS com muita alegra, muita paz interior e muito amor.





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