divórcio ou casamento eterno?...

2011-12-30

ESTOU FURIOSO: “Fora com os Portugueses. Venham os Chineses”

Eu não percebo nada de economia. Mas também não se sinto diminuído por isso.
Mas quando vejo o Governo, por unanimidade (é curioso este conceito de transparência pregado por Passos Coelho, pois, segundo o Expresso da semana passada, Vítor Gaspar discordou), aprovar a venda dos 20% da EDP à China, fiquei muto incomodado e apeteceu-me prender os ministros por crime de lesa pátria.
Já vou enumerar as minhas razões para atitude tão drástica. Mas antes tenho de recordar outro aspecto. O governo tomou esta decisão apenas a pensar no dinheiro. Esta ganância cega que faz com que qualquer proposta com mais uns milhões de euros é melhor para o país só pode significar uma tacanhez de espírito que eu não imaginava em pessoas de elite. Claro, todos sabemos que um percurso universitário mesmo que chegue a catedrático dá (supostamente) saberes mas não dá sabedoria, a sabedoria da vida. Eu sei que nos falta dinheiro, muto dinheiro, mas vender a alma por mais uns milhões, pode dar-nos um alívio passageiro, mas também pode tirar-nos algo de estruturante como povo.
Mas vamos à questão de fundo. Porque é que eu sou contra? Antes impõe-se perguntar quem sou eu. Eu sou apenas um cidadão português, que tem muito orgulho em sê-lo, que se orgulha da sua identidade portuguesa, que admira a nossa história mesmo nos seus fracassos. Sou só isto. De contas sei algumas que aprendi numas cadeiras em Matemática há quase 50 anos e pouco mais. Mas sei que o dinheiro, o deus tirano que todos adoram, não resolve, antes pelo contrário, problemas imateriais. Só os esconde, danifica e torna insignificantes.
Eu sou visceralmente contra esta negociata, que considero um gravíssimo erro geoestratégico. por três razões principais:
1) Porque uma proposta que dê mais dinheiro ou promessas dele não é necessariamente a melhor solução para os (nossos) problemas. Além de que ninguém sabe se as promessas dos chineses não são como as dos nossos políticos: mãos cheias de nada, quando estão em causa os interesses próprios. Aliás para este aspecto vigarista dos chineses logo alertou a Amnistia Internacional portuguesa. E quanto a direitos humanos temos a ampla praça de Tiananmen, sempre que for necessário repor a ordem social.
2) Porque a China não dá todo aquele dinheiro pelos nossos “lindos olhos ”. Eles não estão nada preocupados com Portugal, um grão de areia comparado com o Everest. E podia até dar dez ou vinte mais que não os afectava nada.
3) Mas pior que todo, porque abrimos a porta a uma cultura que nada tem a ver connosco, a um país que pacientemente vai tecendo as malhas de um domínio mundial e tem uma subtileza maquiavélica que pode pôr em causa, a prazo, a nossa identidade. É que ser “peão” assumido, como aliás, mais cedo ou mais tarde, todos iremos ser na EU (mesmo a Alemanha com a senhora Merkell ou sem ela perceberá que só podemos ser Europa em conjunto, isto, todos sendo “peões” uns dos outros ou então desaparecemos do mapa da história), “apenas” nos vai retirar (alguma) soberania. Mas isso está já a acontecer de qualquer modo num mundo globalizado. Mas meter aí a China, ser “peão” da China, vai, a mais curto prazo que imaginamos, violentar, se não mesmo destroçar, a nossa identidade. Começam com uma empresa, depois vão indo, indo (sempre escorrendo com euros que esbulham os olhos dos nossos governantes e de muitos compatriotas) e qualquer dia somos uma península chinesa, sem qualquer poder, mais um Chinjiang qualquer, onde valores, ancestrais e muito dignos sem dúvida, acabarão por se impor aos nossos valores menos ancestrais e muito diferentes mas também muito dignos que são os nossos, herdados dos três grandes pilares – Atenas, Jerusalém e Roma – e enriquecidos por outros contributos que foram sendo integrados e miscigenados mas com coerência e não subtilmente e sem darmos por isso.
Abrir uma fresta aos Chineses permite-lhes ocupar pacificamente o nosso território nacional, sem derramar uma gota de sangue. Que o cidadão comum não veja isso, não é de admirar, pois vivemos em tal défice de cidadania que não enxergamos para lá do vão da nossa porta. Mas que os governantes, primeiros defensores do bem comum e da identidade nacional, não o vejam é muito, muito grave.
Parei aqui para acalmar e aproveitei para dar uma vista de olhos ao Expresso. E mais furioso fiquei quando li um comentário de João Vieira Pereira de que respigo três frases:
“É verdade que estamos a precisar muto de dinheiro mas quando um ativo estratégico como este é vendido temos de olhar para lá da carteira. É curioso que Vítor Gaspar, o ministro que mas precisa de dinheiro, tenha sido o único a não preferir o maior encaixe fnanceiro”. Quer dizer, VG é o único ministro com perpetivas a longo prazo, com algum projecto para Portugal; aos outros basta-lhes “dê-me uma esmolinha!” Que tristeza!
“Há quem diga que demos uma lição aos alemães pois ao vender aos chineses mostrámos que não nos subjugamos aos interesses germânicos. Pois não, preferimos os interesses chineses, baseados num partido comunista com uma agenda escondida. Os investimentos chineses são preteridos em todo o mundo (…), mas em Portugal recebemo-los de braços abertos”. Atenção: nós somos uns verdadeiros machões latinos comme il faut.
“A EDP tem duas das suas maiores forças de crescimento no Brasil e nos EUA. A entrada da China Three Gorges Corporation irá afetar estes investimentos já que a EDP não mais vai ser vista como uma empresa portuguesa, não acham srs. ministros? A E.On tinha como estratégia tornar a EDP a maior empresa de renováveis no mundo. A China Three Gorges tem como objetivo tornar-se ela mesma a maior empresa de renováveis no mundo. Uma pequena diferença, não concordam, srs. ministros?

Em contraste, com este chamamento dos chineses, estamos a mandar embora os portugueses. Emigrem, diz Passos Coelho. E lá vem o eco de outros governantes: Emigreeem! Emigreeeeem! Isto chama-se acreditar no nosso país e na sua viabilidade milenar!!!! Se o primeiro-ministro e o seu governo não acreditam nos portugueses, quem vai acreditar? Não é isto o mesmo que afirmar que o país não vale nada, quando a prioridade devia ser mostrar que a vale a pena apostarmos em Portugal?
E eu que penso que a maior riqueza de um povo são as pessoas e tanto mais quanto mais qualificadas elas forem, fico desolado com estas políticas e outras como as do (não) incentivo à produção, sem as quais nenhum deste tremendo esforço, a que estamos mais ou menos obrigados, vai resolver nada! E sem esquecer as políticas ditas sociais enquanto se resumem a iniciativas assistenciais. Todos os países “decentes” procuram criar condições para reter os seus melhores “cérebros”. Porque perceberam que a maior riqueza são as pessoas: “Se outrora o factor decisivo da produção era a terra e mais tarde o capital, visto como o conjunto de maquinaria e de bens instrumentais, hoje o factor decisivo é cada vez mais o próprio homem, isto é, a sua capacidade de conhecimento que se revela no saber científico, a sua capacidade de organização solidária, a sua capacidade de intuir e satisfazer a necessidade do outro” (João Paulo II, CA 32)
.

0 Comentários:

Enviar um comentário

<< Home