divórcio ou casamento eterno?...

2012-02-20

IDOSO: de Sábio a Leproso

O título do jornal era mais do que esclarecedor: "Idoso estava morto na sala enquanto a mulher desfalecia no quarto". Com 84 anos era ele que cuidava da mulher, com 90, que, além de acamada, sofria de doença do foro psiquiátrico. Todos os dias ia à padaria, até que começou a faltar, o que despertou as suspeitas. Passado três ou quatro dias, como não aparecia, foram bater lhe à porta, tocar a campainha mas nada. As autoridades,ao arrombarem a porta, depararam-se com uma cena macabra: o senhor despido caído no chão da sala e a mulher, deitada na cama, em estado inconsciente e desidratada.
Este é mais um caso entre vários, que se não forem intensificados ou criadas formas de cuidado e atenção a estas situações poderão atingir números inimagináveis. É que, de acordo como o Censo de 2011, há 400 mil idosos completamente sozinhos e 800 mil acompanhados por outros idosos.
Os números são tão grandes - 1,2 milhões, portanto 12% da população portuguesa - que não podem deixar de se tornar uma prioridade política e social. Até porque há outras situações, algumas possivelmente não incluídas nestes números, em que os Idosos são abandonados por familiares, sobretudo em hospitais, porque não estão para os aturar (alguns perderam o amor familiar), não tem casa adequada para os terem (mas eles até nu cantinho preferiam viver junto dos seus) ou vivem longe para poder tratar deles. 
É um problema que não pode ser abordado de ânimo leve nem com duas ou três medidas políticas avulso. 
Há em primeiro lugar uma crescente mentalidade que deve ser combatida e superada. A de que os Idosos não passam de um peso morto para a sociedade e até para a família: para a sociedade, porque não produzem riqueza e só são despesa (pondo em risco a Segurança Social); para a família, porque obriga a um dispêndio de tempo, de carinho e de dinheiro que nem sempre existe. Há aqui um trabalho de mentalização urgente: o Idoso não é um peso morto. A sociedade actual é que resolveu pô-los na prateleira. Nas sociedades antiga e nas primitivas (as "selvagens"), os Idosos eram a reserva de sabedoria, de conciliação e de estabilidade da sociedade: aldeia ou tribo. A eles se recorria nos conflitos, nas tomadas de decisão comunitárias. Eram a reserva de memória dos factos históricos e que, em caso de dúvida, esclareciam o que realmente devia ser cumprido. Hoje, não. O Idoso é algo que a sociedade tornou inútil. Por exemplo, a empresa, onde trabalhou, poderia utilizar os seus conhecimentos técnicos A desculpa de que estão inadaptados não colhe até porque 1) muitos acompanharam a evolução da empresa; 2) há "coisas" que só a vida ensina e que não vêm em nenhum livro e que, por isso, só eles poderiam transmitir aos mais novos. Mas a sociedade moderna não precisa dos conhecimentos dos Idosos: estão ultrapassados. O que se quer é gente nova com ideias revolucionárias e inovações que façam a diferença. Como se essa gente nova abundasse e como se houvesse espaço para ela, como revelam os 32% de desempregados jovens, nos quais a maioria são licenciados.
Portanto, uma primeira medida de fundo e a começar já é reverter a mentalidade que se instalou sobe a inutilidade dos Idosos.


Mas a verdade é que eles existem. Todos vivem na alma e no corpo não só a angústia das limitações físicas, do sentimento de inutilidade, da culpa do trabalho que dão, que se traduz, muitas vezes, numa vergonha que não permite que apareçam em público ou se queixem da solidão atroz que os corrói. E para toda esta realidade há que encontrar respostas imediatas. Já há algumas. Os clássicos Centros de Dia, o Apoio ou Acompanhamento Domiciliário têm tido um papel muito importante. Mas não basta até porque muitos têm vergonha de assumir a sua situação, como se a velhice fosse um pecado e não o natural desenvolvimento da vida.
Aqui deixo algumas pistas:
1) É urgente que as autarquias em colaboração com as várias instituições e igrejas procedam ao levantamento exaustivo de todas estas situações: todas as casas devem ser visitadas, como carinho e respeito pelos moradores, o que exige gente com preparação técnica e preparação do "coração";
2) Conhecidas as situações verificar se estão a ser cuidadas devidamente; isto é, não basta estarem no Centro de dia; devem ter meios de contacto fácil e imediato, como já acontece em muito lado, até porque o desenvolvimento das tecnologias da comunicação permitem já soluções individuais e baratas;
3) Os que realmente estão isolados devem ser apetrechados com essas tecnologias e garantir uma central de atendimento 24 horas por dia, com pessoas especializadas;
4) Estabelecer, mesmo assim, um serviço de rondas pelas pessoas sinalizadas de modo a ver no local como estão as coisas e fazer um contacto pessoalizado e não só robotizado.


É possível que tudo isto já se faça nalguns locais. O que se torna urgente é estendê-lo e rapidamente a todo o país, especialmente nas cidades. Não se deve esquecer que há pessoas realmente necessitadas que se recusam a receber ajuda ou porque não conhecem as pessoas ou, sobretudo, porque não querem a sua intimidade violada. Mas para tudo isto há processos para vencer de maneira humana estes obstáculos legítimos.
Finalmente, não me parece muito feliz esta ideia governamental dos Centros de Noite, se por isso se entende "obrigar" as pessoas a sair de suas casas ao fim do dia para irem pernoitar num espaço "desconhecido". Se há alguma coisa importante e quase inalienável para um Idoso é a sua casa. o local onde sempre viveu e cujos cantos conhece de olhos fechados. Ter de a deixar para passar a noite fora é realmente uma "ideia de mau gosto", como aliás o mostram claramente os casos já existentes. Por exemplo, o primeiro centro de noite nos Açores, inaugurado em Setembro passado, está vazio. Custou mais de 550 mil euros e tem espaço para ... oito Idosos. O do Sabugueiro, criado em 2001, durou apenas um ano, por falta de "clientes". E, no entanto, há 15 000 pessoas em lista de espera para Lares.


Seja como for, a melhor solução é "Vamos apoiar o Idoso nos seu lar". 
Com a colaboração de todos, poderes públicos, comunidades religiosas e civis, voluntariado é possível concretizar esta solução. Talvez precisemos apenas de mudar a nossa mentalidade. Porque o resto não custa muito dinheiro (o que deixa aliviado o Governo que só pensa em euros e não se lembra das pessoas). Apenas precisa de muito amor e carinho e isso está dentro de cada um. É só deitá-lo cá para fora e concentrar esforços para que não se percam ou sejam mal aproveitados.
Vamos lá a isto.
"Vamos apoiar 
o Idoso nos seu lar". 

1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

É só para dizer que concordo e que é preciso abanar as pessoas para mudarmos este estado de coisas.
E também para dizer que foi muito boa ideia ter optado por um tipo de letra maior. Assim lê-se muito bem! É que eu também já pertenço ao grupo dos idosos!:)
CG

21/2/12 20:52

 

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