divórcio ou casamento eterno?...

2012-01-01

TEMOS DE ENCONTRAR ESPAÇO PARA A ALEGRIA

Como tristezas não pagam dívidas, temos de encontrar, especialmente neste ano, espaços para uma verdadeira alegria. A vida, mesmo nas maiores dificuldades, torna-se mais suportável se for levada com (alguma) alegria. Além disso, não devemos desligar do verdadeiro massacre a que estamos sujeitos por profetas de desgraças que todos os dias nos arranham os tímpanos.
A vida vai ser difícil, já todos o sabemos. Mas não vai ficar melhor se só a olharmos desfeitos pela tristeza e pela angústia. Por isso aqui deixo mais uma das minhas crónicas. Temos de responder SIM, não só com palavras mas sobretudo com a vida à pergunta provocatória do título

AINDA HÁ ESPAÇO PARA A ALEGRIA?

               O ano que agora começa não vai ser propriamente um tempo festivo. Por isso, poderá parecer ao leitor que este tema é uma dolorosa provocação. Mas não é: falo muito a sério. Até porque o terceiro domingo do Advento, altura em que escrevo, nos convida à alegria.
                A alegria é um sentimento sem o qual os humanos não podem viver. Mesmo na noite mais escura, em que a dor, o sofrimento e o choro encharcam a nossa alma, se não encontrarmos um espaçozinho para a verdadeira a alegria, dificilmente suportaremos tal situação.
                É claro que há várias formas de alegria e nem todas produzem esse efeito libertador.
                Há a alegria de aviário, que não tem consistência, usa-se quando a circunstância a exige, mas não tem nada por detrás. É como a carne dos frangos produzidos em série, obrigados a crescer à pressão, com um sabor sem sabor, filhos de hormonas e antibióticos insonsos.
                Há a alegria industrializada, que estrondeia nas vielas da noite, alimentada a combustíveis etílicos ou a passas que não são de uva. É hoje muito estimada por industriais legais de drogas ilegais que se ajavardam na sua distribuição bem lucrativa e muito desejada porque gera euforias momentâneas a quem as usa e dá-lhe bravata para tomar atitudes das quais, em estado sóbrio, se envergonharia se a vergonha anda existisse.
                Há a alegria amarela, que se espelha num sorriso dessa cor, para disfarçar uma desilusão ou vir em socorro da vítima de uma qualquer partida de colegas ou da vida. Por detrás está a frustração que se quer esconder e se possível ignorar.
                Há a alegria “de café” que, na sua ambiguidade, tanto pode ser um acto superficialidade balofa como uma genuína manifestação de contentamento, que reforça as relações interpessoais.
                Há a alegria franca que ressoa na gargalhada cristalina. Brota do fundo da nossa dimensão lúdica e ajuda a suportar com estoicismo angústias e medos que a vida nos põe a cada curva.
                Há a alegria interior que faz “pouco ruído” mas sempre se pode encontrar na limpidez de um olhar tão transparente que chega ao fundo da alma. O olho é o espelho da alma. Quantos doentes, às vezes em estado quase terminal, continuam a irradiar um olhar sereno, a apresentar uma face risonha, a iluminar os que estão á sua volta. Só esta alegria é capaz de ultrapassar as maiores dificuldades. Não se trata de uma alegria exterior que disfarça a amargura nem de uma alegria hipócrita que pensa enganar a dura realidade fugindo ou ignorando-a. É, antes, a alegria dos fortes, que aceitam que a vida é formada de tempos felizes e tempos dolorosos e que uns e outros têm de ser vividos com a serenidade, que evita angústias doentias ou euforias alienantes. Esta alegria nasce do fundo de nós próprios, do facto de estarmos vivos, de acreditarmos em nós próprios, de nos reconhecermos “pessoa”, sujeito livre e consciente da vida e da história
Neste ano vamos precisar muito de aprender a viver e a expressar esta alegria. Sim, é necessário expressá-la para nos ajudar não só a cada um de nós, mas também a contagiar os que vivem perto de nós. Esta pode ser, em tempos de crise, para nós cristãos, uma forma privilegiada de evangelização, de ajuda aos outros. Até porque só temos razões para viver esta alegria, pois sabemos que, em Jesus Cristo, todos e todo o mundo foram salvos do desastre definitivo. Soprem vendavais, brilhe o sol, rujam tempestades, sorria a vida, irrompam crises, fervilhem mudanças, nós acreditamos que tudo isso são acidentes, bons ou maus, do caminho que leva à libertação definitiva. Ou não acreditamos? Há muitos anos li uma frase, cujo autor já esqueci, que me marcou profundamente: “Se os cristãos acreditam que estão salvos, por que (raio) não têm cara disso?” Onde está a alegria de nos sentirmos libertos de modo definitivo?

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