divórcio ou casamento eterno?...

2012-02-21

Passo à Passos

Passos Coelho decidiu não dar tolerância de ponto neste Carnaval. Não sei se está mesmo convencido de que com esta medida vai subir a produção nacional. Capaz disso é ele. 
Nunca me preocupei em participar no "tão importante" debate sobre feriados a acabar ou a deslocar. É evidente que todas as pessoas e todos os povos têm a sua história. E todas as histórias estão pontuadas por momentos fortes que é importante recordar até porque fazem parte da sua identidade. O problema é que dada a falta de interesse que está a (não) ser dada à História, essas datas são pouco conhecidas e só servem como dia de "férias", acabando por se esbater a sua razão de ser.
Assim sendo os nossos feriados oficiais são todos, de algum modo, "religiosos": sejam os da Igreja católica, os da Maçonaria ou os dos intelectuais da História. Quanto à Igreja católica, é chocante que se tenha dito que só concordaria se os feriados religiosos envolvidos fossem no mesmo número dos civis. Eu pensava que os feriados religiosos tinham um fundamento teológico e não matemático. Afinal parece que não é bem assim, o que é realmente muito estranho. Quanto aos da Maçonaria, não conheço nada dessas secretas, que agora até parece que se modernizaram ao som de Mozart. Quanto à nossa História e para justificar o substantivo "intelectuais", quero dizer duas coisas. Quantos portugueses sabem o que foi o 1 de Dezembro? ou mesmo o 5 de Outubro? Ou o 10 de Junho? Já nem falo do 25 de Abril, que para muitos miúdos não diz nada. O que fazem os nossos historiadores? Que papel de divulgação "popular" (inteligível para todos) têm eles feito dessa datas? Aliás, assisti a um episódio bem significativo. Um ilustre catedrático desta área criticou, de modo, por sinal, bastante mal criado, o trabalho de divulgação de José Hermano Saraiva (JHS). Ora é minha convicção de que, em termos de divulgação "popular" da nossa Historia, JHS fez mais do que todos os historiadores encartados juntos. Refiro-me a divulgação, não a investigação ou a teses doutorais. 
Mas retomando o fio à meada. As datas que referi atrás foram episódios fortes da nossa história, nos quais não ficariam mal  outros, como o da batalha de Aljubarrota, por exemplo. Mas para mim o mais estranho é que não se dê qualquer atenção à que devia ser a mais importante, a do nosso nascimento como nação. Aprendi, há muitos anos, mas nunca mais estudei o assunto e posso ser ignorante perante novas descobertas, que o Tratado de Zamora assinado, a 5 de Outubro de 1143, entre Afonso Henriques e o seu primo Afonso VII, de Leão e Castela, é considerado como a data da independência e, portanto, da fundação de Portugal. Não deveria ser esta data fundante, o Feriado Nacional? Seria a única data não marcada por ideologias, que vão e vêm conforme os gostos de cada um ou de cada grupo.

Então por que estou tão crítico com esta atitude idiota de Passos Coelho. Porque o Carnaval é a única festa verdadeiramente popular e transversal a todos os estratos e ideologias, cultos ou ignorantes: é a única que todos conhecem e vivem com entusiasmo, o que não acontece com nenhuma das outras oficiais. Porque é a única festa que responde honestamente e sem outras intenções à dimensão lúdica, uma das dimensões estruturantes da pessoa. O Carnaval é a visibilização desta dimensão (uma espécie de antropofania), cada vez, é claro, mais maltratada e adulterada pelos chupistas da indústria do dito entretenimento, mas que não pode ser apagada da essência da pessoa.
Por isso, chamei uma decisão idiota. Mas certamente Passos Coelho quando olha para as pessoas olha só para o seu aspecto económico, para o homo faber (homem fabricador), e não deve imaginar que há também o homo ludens (homem que necessita de se "divertir": amar, estar com a família, conviver com os amigos, repensar-se calmamente, ver sem stress um pôr do sol, poder "não fazer nada", no sentido do "dolce fare niente"). E talvez não saiba fazer contas: o que esta medida acrescenta ao PIB com funcionários que foram obrigados a ir para os locais de trabalho, sem muito que fazer, foi suficiente para superar o que se perdeu por não deixar as pessoas participarem em tantos cortejos nos quais muitas autarquias gastaram milhares de euros, agora sem qualquer retorno e com os gastos feitos? Mas de números não cuido nem sei. Ele é que sabe disso. Eu fico-me pela pessoa nas suas múltiplas dimensões incluindo o aspecto "lúdico", indispensável para a estabilização interior, maior auto-confiança, maior gosto pelo trabalho em que se ocupa, mesmo que seja a sua escolha ideal.

É Carnaval ninguém leva a mal
Digna desta época é a frase de Carlos Carneiro, director desportivo do Paços de Ferreira: "Fui jogador durante 19 anos e nunca vi uma equipa entrar em campo para tentar magoar um colega de profissão". Dixit. Ele deve pensar que nós, agora que vemos tudo na televisão, somos parvos. Praticamente em todos os jogos que vi na televisão, nacionais ou estrangeiros, é raríssimo não ver duas ou três entradas para aleijar: calcar o peito do pé ou pontapear os joelhos ou fazer cargas por trás que podem ter efeitos bem perigosas. Será que ele nunca viu isso e outras coisas do género?
Acredito que só tem a ver com o calor da disputa que envolve muitos milhões. Mas acontece tanta vez que às vezes as dúvidas me assaltam. Além porque, na minha juventude, tive conhecimento de um facto que me marcou. Um dos meus colegas de Liceu era jogador numa equipa que disputava os campeonatos nacionais ou pelo menos distritais, já não sei. Antes de um dos jogos importantes, o treinador chamou-o e disse-lhe (ele era defesa direito): "Ó pá, tu vais ter pela frente um dos melhores jogadores; não tens futebol para ele. Por isso, aqui tens duas soluções: a primeira vez que saltares com ele, manda-lhe uma valente cotovelada no estômago e ele fica com medo de ti e já vai ser fácil de controlar. Mas se isto não chegar, a próxima vez que saltes com ele, aperta-lhe forte os órgãos genitais. A este truque ninguém resiste". Isto foi autêntico. 
Mas os tempos eram outros. E agora os treinadores são gente muito mais culta, mais "educadora", mais preocupada com os aspectos técnicos e em conduzir homens. E aqui lhes deixo os meus cumprimentos. Até porque no último sorteio para as Ligas dos campeões e da UEFA havia oito com treinadores portugueses, o que possivelmente não aconteceu com qualquer outra nacionalidade. 
Portanto, que fique bem claro, não tenho dúvidas em culpar os jogadores. Mas dada a frequência com que estas coisas acontecem seria bom que os treinadores e os directores desportivos lutem contra isso e não os desculpem. Se o fazem, têm-no feito com pouca eficácia. 
É que eu gosto muito de ver um jogo de futebol sem essas sacanices, especialmente quando disfarçadas.


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