divórcio ou casamento eterno?...

2012-04-02

Semana Santa (1)

Nas religiões o espaço do simbólico e dos sinais ocupa um lugar importante. Realmente, elas lidam com o Mistério, com o Invisível, como o Indizível. Assim sendo, só através de símbolos é possível levantar uma ponta do véu desse Mistério profundo e último.
Isto coloca dois problemas que nem sempre são tidos em conta:
1) Os sinais devem ser suficientemente adequados para dar uma ideia dessa riqueza, que nunca poderão explicar devidamente. Portanto, não serve qualquer símbolo. Ele deve ter capacidade para insinuar ao menos uma suspeita do que está por detrás dele.
2) Assim sendo, os sinais não podem cristalizar e ficar eternamente agarrados à sua forma original. Se os tempos mudam, os sinais acabam por dificultar ainda mais a sua já difícil função primitiva. Apesar do Mistério ser sempre o mesmo, precisa de ir sendo traduzido de modo específico para cada geração, sob pena de perder a sua força inicial e acabar por se desvalorizar e desvalorizar o Mistério que pretende anunciar. Este perigo é muito grande: os liturgistas receiam mudar uma palavra, alterar um gesto, acrescentar uma vírgula. Parecem prisioneiros dos velhos medos ancestrais cuja lógica era muito simples mas terrivelmente eficaz: “se o deus não se irritou connosco com estes ritos, então o melhor é não lhes mexer, pois não sabemos o que pode acontecer se introduzirmos alguma alteração”. Que este raciocínio marcasse os sacerdotes de há milénios, ainda se entende. Mas quando se trata do nosso Deus, que é Amor, e que não está dependente nem prisioneiro de símbolos e ritos, não se percebe essa cristalização quase patológica a que assistimos.   
Porque o símbolo é muito importante, também o rito se torna indispensável. As religiões têm de ser ritualistas. E, pelas razões acabadas de referir, o rito não pode ser um fim em si mesmo. Os rituais são instrumentos ao serviço do Mistério e não dos homens que se consideram guardiões desse Mistério.
A Semana Santa é uma semana particularmente rica em símbolos, sinais e ritos. Mas precisam de ser explicados aos homens e mulheres de hoje. Ou melhor, talvez devessem ser adaptados para uma linguagem mais actualizada. Mas esse é um caminho quase proibido.

Esta semana quero pessoalmente meditar um pouco sobre este tempo tão rico e tão fundamental para nós os cristãos. E aproveito para fazer uma pequena partilha dessas meditações. Não irei citar autores, que são vários: apenas referirei algumas passagens bíblicas.

Subida a Jerusalém
Trata-se naturalmente de uma subida geográfica: dos 200m abaixo do nível do mar (Mar da Galileia) até aos 700 e tal acima (Jerusalém).
Mas é sobretudo uma subida espiritual, interior, cuja meta final é a oferta de Jesus para se “apresentar diante do Pai por nós” (Heb 9,24). Esta subida até à direita do Pai (Mc 16,19 e muitas outras passagens) passa pela Cruz, onde “levou até ao extremo o seu amor” (Jo 13, 1). Reparando na estrutura dos escritos de Lucas, vemos que, no Evangelho descreve essa longa subida até Jerusalém, para depois, nos Actos, partir de Jerusalém até aos confins do mundo: “Ides receber uma força, a do espírito santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria, e até aos confins do mundo” (Act 1,8).

Realeza de Jesus
1. Bartimeu
Quando Jesus saiu de Jericó, já na altura acompanhado por “uma grande multidão” (Mc 10,46; Mt 20,29), surgiu o pobre cego Bartimeu que não parava de gritar, apesar de insistentemente o repreenderem e mandarem calar. As suas palavras eram um anúncio claro da realeza de Jesus: “Jesus, Filho de David, tem piedade de mim” (Mc 10,47). Jesus = Filho de David = Messias prometido. E tanto gritou que Jesus o mandou chamar para que lhe dissesse o que queria: “Mestre, que eu veja de novo”. Então Jesus disse-lhe: “Vai, a tua fé te salvou!”.
Vale a pena parar um pouquinho para meditar nestas palavras que Jesus repete tantas vezes: a fé do centurião (Mt 8,13); a fé da “mulher com fluxo de sangue” (Mt 9,22); a fé de Jairo (Lc 8,50); a fé dos dois cegos (Mt 9,28); a fé do cego de Jericó (Lc 18,42); a fé da cananeia (Mt 15,28); a fé do(s) leproso(s) (Lc17,19); a fé da pecadora arrependida (Lc 7,50). Repare-se na quantidade de vezes que Jesus chama a atenção para o facto de ser cada um que permite a sua cura. Foi a fé que os salvou a todos: "Vai, a tua fé te salvou!". Jesus coloca o acento tónico na fé e insiste muito nisso. Não basta conhecer Jesus nem ter amigos que lhe metam uma cunha. É a fé. E agora que vem aí o “Ano da Fé”, teremos, se a quisermos aproveitar, uma boa oportunidade para aprofundar esta repetida referência de Jesus ao valor salvífico da fé. 
Concluindo: qualquer um pode, se tiver “fé em Deus”, mesmo que seja apenas do tamanho de um grão de mostarda, ir ao ponto de “mudar montanhas” (Mt17,21), porque “tudo é possível a que crê” (Mc 9,23), 

0 Comentários:

Enviar um comentário

<< Home