divórcio ou casamento eterno?...

2007-10-04

Mas as crianças, Senhor...

Ando há vários dias incomodado com o caso da Esmeralda, aquela menina de cinco anos que os juizes resolveram tirar aos pais afectivos para a entregar ao pai biológico, contra o parecer da generalidade de pediatras e de psicólogos e até passe o abuso da sabedoria do senso comum.
O caso é tanto mais chocante quando, com emoções ou sem emoções (mas graças a Deus que tenho emoções e sou capaz de me emocionar), se sabe que o pai biológico não quis saber dela para nada quando ela nasceu nem durante largos meses e que a mãe ao fim de três meses procurou desfazer-se dela por razões certamente muito respeitáveis. Então os pais afectivos que apareceram a cuidar dela são agora acusados de que só pensaram nos seus interesses e não nos da criança. Quanto à telenovela do prende-se, aplica-se 6 anos de cadeia, afinal são só três e de pena suspensa, nem vale a pena comentar. Para quem absolutiza lei e a coloca acima da dignidade da pessoa é muito coerente este ping-pong jurídico.
Mas tudo isso eu admitiria como uma consequência da fraqueza humana. O que não consigo aceitar é esta violência feita sobre uma criança de cinco anos. Esta violência ou melhor esta violação de uma criança. Sim, violação: as violações não são só físicas; são tão psicológicas. E se tal atitude já era inaceitável no cidadão comum, ela torna-se imoral quando é feita por juízes que tiram a criança de um lar onde ela tinha afecto e carinho para os braços de um desconhecido.
Juízes a fazer uma violação destas? Eu durante muitos anos acrediatava que os juízes eram uma das poucas "reservas de humanidade", pessoas que eu (pres)sentia que representavam o que de melhor há na pessoa e estavam ao seu serviço. É esta desilusão que me magoa. É certo que eles não têm culpa de eu os ter em tão elevada consideração. Mas não é só isso que me entristece: é a sensação de que afinal já não há espaços institucionais onde tenhamos a garantia da defesa intransigente da dignidade humana, "o bem mais precioso que a pessoa tem".
Claro que eu fiquei a suspeitar fortemente de que não era como eu pensava quando verifiquei, a propósito de medidas governamentais contra abusos ditos "direitos adquiridos", que as grandes preocupações dos juízes, pelo menos de grande parte, eram predominantemente económicas.
Agora brincar com os sentimentos sagrados de uma criança de cinco anos é demais.
Termino com duas perguntas. Uma que também alguém já fez: ao cuidado de quem deveria ter ficado esta menina de três meses até que o seu pai biológico resolvesse sentir-se pai?
Segunda: quem responsabiliza e de que modo serão penalizados os juizes que tomaram este atitude se o pai biológico que agora se sente pai deixar de se sentir e passar a amaltratar ou abandonar a menina? Estes juízes ficam impunes? Mas mesmo que fiquem, quem recupera a felicidade e o amor para a Esmeralda e quem lhe restitui a alegria de viver?

2 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Zé Dias: "Reservas de Humanidade"?
Não viste os "prós..."?
Muito se tem avançado em Ciência e Técnica. Mas... e em HUMANIDADE?
Renova o abraço o FF.

6/10/07 21:32

 
Blogger Zé Dias disse...

Mas é pena... É desastroso que para a humanidade que ela própria perca a sua principal característica: a humnanidade, a compaixão/simpatia (sofrer/estar com), a consciência de que o mais importante é a dignidade da pessoa (e dos povos), de um modo espcial os mais débeis, entre os quais ocupam um lugar primeiro as crianças.
A luta continua... Tem de continuar, até porque o caminho é
longo: só termina para lá da história.

11/10/07 09:57

 

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