Ano Paulino
Começámos a celebrar um ano dedicado a S. Paulo. Bem preciso é, porque S. Paulo, apesar de quase todos os domingos se falar no seu nome, é pouco conhecido entre os cristãos.
Fica pouco mais do que a queda do cavalo a caminho de Damasco. Curiosamente só os Actos dos Apóstolos contam esse facto “físico”. S. Paulo nunca o refere. Refere sim a experiência interior violentíssima que viveu e reconverteu toda a sua vida como ele recorda constantemente: “Fui apanhado por Cristo” (Fil 3,12); “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gal 2,20); “Completo na minha carne o que falta à paixão de Cristo” (Col 1,24).
Foi uma experiência tão marcante que nada daí para o futuro o separou de Deus, angústias, perseguições, fome, naufrágios, prisãões como ele próprio diz neste belíssimo poema:
“Quem poderá separar-nos do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada?
Porque estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem os poderes, nem a altura nem os abismos, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus, Senhor nosso” (Rm 8,35.38-39)
Devido a esta radical transformação interior, Paulo torna-se o grande lutador por um cristianismo autónomo e universal: não aceita continuar a ser mais uma das muitas seitas do judaísmo, mas transforma-o numa religião universal, onde todos têm lugar e no qual todos podem entrar sem ser necessária a circuncisão (obrigatória para os Judeus). Foi uma luta dura, contínua, contra Tiago, contra Pedro, contra muitos cristãos. Foi ele que abriu o cristianismo ao mundo. Para isso, percorreu quilómetros e quilómetros, cidades e cidades, foi até a Atenas, capital do saber, falar do “Deus desconhecido”, chegou prisioneiro a Roma, planeou ir a Espanha. Fez das tripas coração: “Por isso, me comprazo nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias, por Cristo. Pois quando sou fraco, então é que sou forte” (2Cor 12,10)
Além disso, num tempo em que só os cidadãos livres eram pessoas, ele soube proclamar: “Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher, porque todos sois um só em Cristo Jesus” (Gal 3,28).
Por isso, ele que vivia na angústia de não ser suficientemente evangelizador: “ai de mim, se eu não evangelizar” (1Cor 9,16), pode dizer com toda a propriedade: “Combati o bom combate, terminei a corrida, permaneci fiel. A partir de agora, já me aguarda a merecida coroa, que me entregará, naquele dia, o Senhor, justo e juiz, e não somente a mim, mas a todos os que anseiam pela sua vinda” (2Tim 4,7-8).
2 Comentários:
Como gostei de ler este teu texto. Tenho um verdadeiro fascínio por S. Paulo e sempre achei que a Igreja não lhe o merecido destaque se é que, por vezes, não o deixa cair no esquecimento.
Curiosamente, ou talvez não, fui ontem sábado à missa e foi lá que me dei conta que era dia de S. Pedro e de S. Paulo. De S. Pedro ainda ouvi duas vezes (uma nas leitura e outra na homilia): “tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”. Sobre S. Paulo, para além da referência nas leituras, nem uma palavra. Fiquei à espera e… nada, a não ser: “sejamos fiéis a Deus para que Ele não se esqueça de nos ser também fiel”. Distracção? Rotina? De que Deus estava a falar-se?
Perdi-me, distraí-me e foquei-me em S. Paulo…
Por que se repete até à exaustão palavras que já ficaram, ou estão em vias de, vazias de significado?
Apesar de, como dizes, S. Paulo ser um quase desconhecido para a maioria de nós, valeu a pena este meu encontro que promete outros.
30/6/08 04:52
ESpero que o meu comentário de hoje te possa dar mais uma pistas.
Um abração
30/6/08 12:58
Enviar um comentário
<< Home