divórcio ou casamento eterno?...

2008-11-01

Um Papa diferente

O comportamento de João XXIII rompeu com muitos dos hábitos institucionalizados pelos papas anteriores.
Fazia questão de ter sempre convidados à sua mesa, recusando-se a comer sozinho para, como dizia, “ não se sentir um seminarista de castigo”.
Poucos dias depois de eleito, fez a primeira “heresia”: saiu de Roma em peregrinação a Loreto e a Assis. Era a primeira vez no último século que um Papa saía do Vaticano.
Como bispo de Roma visitou todas as paróquias da sua diocese.
Como Papa recebeu, em Novembro de 1960, o primado da Igreja anglicana: era o primeiro contacto com os anglicanos, desde que há 430 anos Henrique VIII se desligara da Igreja católica. Mais tarde, recebeu a filha de Krutchev e o seu marido que era director do Izvestia.
Dissuadiu os bispos italianos de darem indicação de voto nas eleições italianas, o que mereceu o seguinte comentário ao historiador Alberigo. “Guiavam-no duas convicções profundas. Primeiro, de que a história é um processo em contínua transformação que exige, para ser compreendida, uma real disponibilidade e não um julgamento a priori e imutável. Em segundo lugar, de que existe uma nítida distinção entre o meio político e o da fé”.
Procurou sempre apresentar-se como “pastor”, não fazendo acepções de pessoas, convivendo com todo o tipo de pessoas, inteirando-se dos seus problemas, sem se preocupar com a sua filiação partidária ou ideológica e nunca julgando ninguém. Logo na sua chegada como cardeal de Veneza, deixou bem clara esta sua atitude: Não vejam o vosso patriarca como um político ou um diplomata; procurem o sacerdote, o pastor de almas, que exerce a sua função entre vós em nome de Nosso Senhor”. Por isso diria mais tarde ao iniciar as suas visitas pastorais: “O vosso patriarca não irá a vós nem com o chicote nem com o açoite, mas com afecto, com respeito e de forma paterna”.
Aliás tem uma passagem da encíclica Pacem in terris, que poucos cristãos conhecerão e muito menos porão em prática: “Importa sempre distinguir o erro e a pessoa que erra, mesmo que se trate de erro ou inadequado conhecimento em matéria religiosa ou moral. O homem que erra não deixa de ser uma pessoa, nem perde nunca a dignidade do ser humano e, portanto, sempre merece a consideração que deriva desse facto. Além disso, nunca se extingue na pessoa humana a capacidade natural de abandonar o erro e de abrir-se ao conhecimento da verdade. Nem lhe faltam nunca neste intuito os auxílios da Divina Providência. Quem, num certo momento da sua vida, se encontre privado da luz da fé ou tenha aderido a opiniões erróneas, pode, com a iluminação de Deus, abraçar a verdade. Os encontros em vários sectores de ordem temporal entre católicos e pessoas que não tem fé em Cristo ou professam doutrinas erradas podem ser para estes ocasião ou estímulo para se aproximarem da verdade” (PT, 158).
E para terminar, recordo a confissão de um amigo íntimo, a quem João XXIII terá confidenciado: “Tenho um método infalível para resolver os meus problemas. Procuro imaginar o que faria, nessa situação, o meu antecessor e depois faço o contrário”!

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