Ano terribilis?
Bento XVI escolheu para tema deste ano do dia Mundial da Paz: "Combater a pobreza, construir a paz".
O Presidente da República, na sua mensagem de Ano Novo começou por referir-se aos mais carenciados.
Dados do Banco Alimentar e organizações afins recordam-nos uma realidade bem profunda, por muito que queiramos ignorá-la.
Este ano vai ser mau, mas não necessariamente para todos. Nem para os que fazem mais barulho. A maioria ver-se-á em dificuldades para sustentar os seus vícios, mas não vai morrer de fome. Terá de mudar “um pouco” os seus hábitos, mas vai resistir à crise.
E para que muita dessa maioria não passe ao sector dos pobres, acredito que o Governo, como dizia ontem o primeiro-ministro, esteja empenhado em “ir até onde puder ir” para evitar o fecho de empresas viáveis com futuro, disponibilizar novas linhas de crédito para quem dele precisa e minimizar os impactos sociais entre os mais necessitados.
Há, no entanto, centenas de milhares de pessoas que já viviam com fome. E esses possivelmente nem darão pela crise, pois crise é a sua forma de viver. Mas este número irá aumentar com esta crise. Aí sim naqueles que estão perto dos limiares da pobreza, aí é que a crise se fará sentir de maneira violenta e essa franja vai certamente alargar-se, nomeadamente, com muitos reformados cujas reformas não chegam sequer ao salário mínimo. Para eles deve haver uma atenção especial, um esforço suplementar da parte dos cidadãos, das comunidades e do próprio Estado. Segundo um estudo do Público, “no sector privado, o grupo de pensionistas com pensões abaixo do salário mínimo nacional abrange 1,9 milhões de pessoas num universo de 2,1 milhões por velhice ou invalidez”.
É urgente, para lá das medidas que já foram tomadas, dar mais segurança a estas pessoas geralmente sem hipótese de recorrerem a um outro emprego, como escandalosamente fazem muitos com reformas chorudas, ou de beneficiarem de uma fervilhante economia paralela. Além disso, dadas as suas condições físicas, normalmente acabam por ter mais gastos obrigatórios sobretudo nas farmácias.
Depois há um outro conjunto de pessoas que não só perderam o seu emprego (e isto é quase uma inevitabilidade com esta crise) mas, além disso, foram despedidas sem o pagamento dos últimos salários e subsídios de Natal e até de férias. Não seria possível, o Estado superar esta roubalheira pagando essas dívidas e servir-se de mecanismos que já utiliza para obrigar os caloteiros a pagar, em dinheiro ou em géneros?
Não haverá lá no orçamento hipótese de tirar uma décima de ponto para remediar esta situação? Talvez não. Mas tudo depende das prioridades.
Bem sei que não sou economista... mas gostaria de não perder de todo o sentido da solidariedade que deve cimentar os membros de qualquer sociedade.
2 Comentários:
Crise ... Ok, estamos numa fase complicada. Mas, admitamos, que há quem viva em crise há anos e anos.
E não deixemos de ajudar. Posso ter pouco, mas se quem está ao meu lado não tem nada, então vou dividir o que tenho. Vale mais dois com pouco do que um com alguma coisa e outro sem nada.
Vejo muito esta atitude de partilha entre pobres (de dinheiro)...
É caso para dizer que os ricos (de dinheiro) têm muito a aprender ...
beijos
8/1/09 14:09
O pior é que os ricos (de dinheiro) são geralmente os mais pobres (de solidariedade). Para lá de uns cêntimos em momentos pontuais (festivos ou de calamidade), qunatos se dispõem a olhar para o seu vizinho como um irmão que tem igais direitos sobre os bens e os dons da Terra, sejam naturais ou resultantes do trabalho humano?
E quando falo de solidariedade não me refiro só nem principalmente ao dinheiro. Refiro-me a um estilo de vida ou, para usar as palvras de joão Paulo II, à "determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum, ou seja, pelo bem de todos e de cada um, porque todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todos" (SRS 38)
10/1/09 14:17
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