Diálogo (in)evitável
O Evangelho deste último do Advento apresenta-nos o diálogo de Maria com Deus. É ou pode ser um modelo para o nosso diálogo com Deus, com a história, com a vida, conforme cada um quiser olhar para ele.
Este diálogo começa com uma saudação pessoal. Deus efectivamente trata-nos “pelo nome”, cada um de nós é "único e irrepetível” para Ele (e devia-o ser também para os outros com as consequentes ilações). Mesmo que não demos por isso, mesmo que queiramos ignorá-lo, Ele não força ninguém, mas bate-nos à porta … do coração.
É curiosa a expressão de S. Lucas: “O anjo (Deus), entrando onde ela estava, disse-lhe…”. O diálogo de Deus connosco acontece na circunstância ou no lugar “onde nós estivermos”, isto é, em todos os lugares e circunstâncias.
Portanto se não dialogamos com Ele é porque não queremos ou não sabemos ouvi-lo, pois ouvir alguém com aeriedade implica estabelecer com esse alguém um diálogo sério.
Deus não nos obriga, mas insiste connosco. Se quisermos, pressiona-nos, acho que posso dizer assim, não para fazermos o que Ele quer, mas para que tenhamos a coragem de dizer conscientemente Sim ou Não à sua proposta. Claro que nós não gostamos de fazer opções, sobretudo se são difíceis porque envolvem a conversão do nosso estilo de vida e podem pôr em causa os nossos projectos humanos.
Mas Deus é paciente e encontra sempre maneira de calar as nossas desculpas para não aceitar a sua proposta. Até Maria levantou objecções.
A primeira, silenciosa mas evidente, é a sua perturbação, algum receio do que lhe poderá acontecer. O Anjo sossega-a: “Tranquiliza-te, Maria, porque encontraste graça diante de Deus”.
Depois perante a proposta concreta, vem a outra objecção: “Mas eu não conheço homem (não tenho relações sexuais)?”. O Anjo volta a calá-la com um argumento que irá ser repetido mais vezes: “A Deus nada é impossível”.
E o Anjo fica até ter a resposta. Maria, na sua pobreza interior, no seu coração aberto aos projectos de Deus, não hesita e aceita: Fiat. “Faça-se em mim segundo a tua palavra”. Só então o Anjo se retira (Lc 1, 28-38).
Sempre que leio esta passagem não consigo esquecer uma outra paralela, que se passa com Zacarias, pai de João Baptista. Também ele se perturbou e obteve a mesma resposta: “Tranquiliza-te, porque o teu pedido (ter um filho) foi escutado”. Também ele teve a mesma segunda objecção: “Mas eu já sou velho e a minha mulher é de idade avançada”. Perante esta resposta, foi “castigado”: “Porque duvidaste vais ficar mudo até ao dia em que acontecer o que te anunciei” (Lc 1,8-20).
Tiro duas lições destes dois episódios:
- a primeira é que não devo armar-me em julgador de Deus, que sempre será um mistério e cuja lógica nos ultrapassa: não é Deus que foi feito à imagem de Deus, mas o contrário; no entanto, nós muito gosta(ria)mos de "fazer o Deus" e de lhe pôr as virtudes que achamos mais dignas, não vá o nosso Deus ser um Deus imperfeito;
- a segunda: será que a disponibilidade interior, a abertura de coração, era a mesma em Zacarias e em Maria?
Apesar de poder estar a ser injusto para com Zacarias ou porque, no fundo, gostaria ,também eu, de “ter” um Deus justo à minha maneira, escolha a segunda posição.
E a conclusão lógica é dramática para mim: Será que eu consigo ter o meu coração suficientemente “vazio” para assumir em plenitude os projectos que Deus tem para mim?
1 Comentários:
Passo para desejar um Bom Natal e mais saúde.
E também para dizer que mudei de casa.
Agora estou em http://vejaparacrer2.blogspot.com, ainda com o nome de Ver para Crer.
Boas Festas!
Padre M. Ventura Pinho
24/12/08 14:26
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