divórcio ou casamento eterno?...

2009-01-14

Boas normas para a crise

Muito da crise que vivemos tem a ver com os nossos hábtitos e os valores que nos governam. No meu artigo para o Correio de Coimbra faço uma refelexão partindo das Leituras da domingo passado onde poderíamos ir tirar duas excelentes regras: "Deus não faz acepção de pesooas" e "Não desfalecerá nem descansará enquanto não estabelecer a justiça em toda a terra".
Mas aqui deixo o artigo

TODOS JUNTOS VENCEREMOS
Nestes últimos dias tenho lido e ouvido bastante sobre a crise. A conclusão, que tirei, é que ninguém, mesmo os “profetas do passado” (os que já tinha previsto tudo isto há muitos meses), sabe com razoável probabilidade o que vai acontecer: nem os governantes nem os outros; só que os governantes têm que decidir e aos outros basta mandar palpites.

No meio de tanta confusão de saberes e sobretudo de (não) propostas, encontrei na Liturgia de domingo passado duas passagens que bem podem servir-nos de guia. A primeira vem da boca de Pedro: “Deus não faz acepção de pessoas” (Act. 10,34). E eu até diria mais, Deus faz mesmo acepção de pessoas, mas numa descriminação positiva: os que mais necessitam têm prioridade na sua solicitude e amor. A segunda é a palavra de Javé: “(O meu servo) não quebrará a cana fendida nem apagará a torcida que ainda fumega; proclamará fielmente a justiça. Não desfalecerá nem descansará enquanto não estabelecer a justiça em toda a terra” (Is 42, 3-4). Isto é, vamos aproveitar tudo o que há de bom e está em dificuldades (“a cana fendida e a torcida que fumega”) e tudo fazer, sem desfalecimento nem descanso, até que a justiça seja praticada, de modo transparente e eficaz, a todos, especialmente aos que menos têm.
Estas duas boas regras, se cumpridas com transparência e rigor, ajudar-nos-ão certamente a superar a crise no respeito pela dignidade de todas as pessoas e de todos os grupos.
Aos governantes isto implica especial atenção aos que já viviam no pobreza e aos milhares de desempregados que irão escorregar para essa situação inaceitável. Reforçar ao máximo verbas para estes, que são os que irão viver a crise na sua plenitude. Uma ajuda seria pagar as dívidas às PME e não só abrir-lhes linhas de crédito. Não reter o dinheiro para os agricultores, mas exigindo-lhes projectos de modernização e rentabilidade mínima. Em qualquer dos casos, sempre com critérios rigorosos e transparentes e uma adequada vigilância. Apoiar os bancos parece necessário para suportar a economia, mas com regras claras e fiscalizações muito rigorosas para evitar tentações de desvios para proveito próprio e não para defesa dos clientes e da nossa confiança e credibilidade nacional e internacional. Não sei o que pode ser feito, mas é urgente moralizar as reformas escandalosas, que certos gestores se auto-atribuíram e agora estão a receber em vez de serem penalizados pela sua má gestão, bem como as de tanto funcionário público que se reformou com uma boa maquia mas agora está a ganhar bom dinheiro noutra actividade: em tempos de crise, ou uma ou outra; acumular é um insulto à justiça e aos que poderiam ocupar esses postos de trabalho.
Aos deputados exigimos uma real preocupação pelo bem comum. É lastimoso o que parece preocupá-los bem como a sua actuação. Para a semana poderá ser a monumental questão de saber se o orçamento é rectificativo ou suplementar. Nas semanas passadas foram, por exemplo, as votações atabalhoadas sobre o Estatuto dos Açores ou sobre a avaliação dos professores no activo, ignorando a situação bem mais dolorosa dos milhares de professores desempregados!
Crítica severa merecem alguns dos empresários do “Compromisso Portugal”, que defendia que os centros de decisão deviam ficar no país: mal lhes cheirou a dinheiro, venderam logo aos estrangeiros. E já agora recordo aos investidores as palavras de João Paulo II: “A opção de investir num lugar em vez de outro, neste sector produtivo e não naquele, é sempre uma escolha moral e cultural. Postas certas condições económicas e de estabilidade política absolutamente imprescindíveis, a decisão de investir, isto é, de oferecer a um povo a ocasião de valorizar o próprio trabalho, é determinada também por um atitude de solidariedade” (CA 36).
Há que obrigar as chefias intermédias, a todos níveis, a cumprirem a sua função e a valorizarem com transparência os seus serviços. Por exemplo, segundo informações de vários amigos, há instituições onde a avaliação (e não estou a falar dos professores) foi feita ou dando bom a todos ou dando excelentes às secretárias dos directores, mesmo quando eram reconhecidamente pouco eficientes. Nestes casos o medo, como já tenho referido, impediu os prejudicados de reclamar, utilizando os mecanismos que a lei lhes confere!
As classes médias terão de aprender a viver com menos vícios e de modo mais frugal. Certamente que se o fizerem diminuirão muito o risco de deslizar para a pobreza.
Tudo isto para dizer que a superação da crise tem de implicar um esforço de todos, incluindo os pequenos gestos dos cidadãos, que por pequenos que sejam, são sempre multiplicados por milhões: apoiar as instituições de ajuda aos mais carenciados, em dinheiro, géneros e tempo; limitar a economia paralela, exigindo sempre facturas por qualquer serviço (quase ninguém, incluindo eu, tem a cultura cívica que impeça esta atitude contrária à boa cidadania); não fugir ao pagamento dos impostos, sobretudo da parte dos profissionais liberais; gastar de modo realista e dentro das respectivas possibilidades; poupar sobretudo na energia, na água, nos combustíveis; lutar contra todas as formas de corrupção, cunha e compadrio.
Vamos deixar de atirar as culpas para os outros. Todos em conjunto, sem descanso nem desânimos, vamos vencer a crise. Até porque todos somos culpados.

1 Comentários:

Blogger  disse...

Sou católica e como tal os seus escritos não me são indiferentes. Obrigam-me a reflectir e esse exercício ajuda-me a fazer caminho. Mas também sou professora e indigna-me a ligeireza com que comenta a situação dos docentes no activo. Sim, no activo. Dediquei TODA uma vida a ajudar a crescer filhos que não eram meus. Sempre trabalhei com sentido de responsabilidade e muito para além daquilo que era meu dever. Fiz pós-graduações na FCUL que, suponho, é credenciada. Fui avaliada com rigor e exigência. Hoje estou desiludida porque me sinto humilhada. Ser "obrigada" a fazer transitar quem não tem condições para isso? Não ter autoridade para garantir a disciplina indispensável à aprendizagem? Ser avaliada em função de critérios absurdos e por quem tem menos habilitações? Substituir professores de outras áreas disciplinares? O problema dos professores de hoje, seráem breve, dos que futuramente irão entrar no sistema. A sociedade, essa, também não será poupada. Não confundamos política educativa com questões sindicais. A diferença é abissal. Lamento que, como professor, não consiga fazer a destrinça...

Cumprimento-o respeitosamente

9/2/09 20:58

 

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