O Genocídio continua
A guerra na faixa de Gaza é complexa e está minada por informações manipuladas e por objectivos distorcidos. Pouco tem a ver com a segurança de Israel. Basta olhar para a desproporção dos meios e ter em conta que Israel nunca assinou as tréguas que agora diz que o Hamas violou e deve ser castigado!
O Hamas é manifestamente um grupo terrorista que, aliás, Israel apoiou, ou até talvez tenha criado, para combater os Palestinianos, há anos atrás.
Depois da morte de Arafat, as eleições, em Janeiro de 2006, deram uma vitória estrondosa (e inesperada!?) ao Hamas. Em eleições livres e democráticas. Este resultado deveu-se, segundo o que li na altura, a duas razões: o protesto contra a elevada corrupção da Fatah e o facto de nas zonas do Hamas existir um bom sistema de saúde e de apoio social.
Mas os democratas ocidentais, com o seu sentido tão apurado de democracia, não podiam aceitar “tal afronta” (a democracia tem várias versões!!!). Em vez de estimularem a integração do Hamas no exercício da democracia afastando-o do terrorismo, tendo inclusivamente apoiado seriamente alguns elementos moderados, tentaram acabar com o Hamas por meios “pouco” democráticos e com exigências que sabiam que eles não iriam aceitar de imediato.
E nisto somos todos culpados. Aliás que os cow-boys americanos gostem de jogar às guerras (longe de sua casa, claro!) já estamos habituados, mas que a UE, que se gaba da sua tradição humanista, etc., etc. etc., tenha alinhado também no desprezo e na provocação ao Hamas é qualquer coisa que nos deve fazer pensar e... protestar. Tal como fez com a Rússia e agora anda a tentar apagar fogos que ajudou a atear.
E assim, em vez de termos agarrado a oportunidade para descomprimir aquela tensão quase insuportável, preferimos aumentá-la em nome da nossa sagrada concepção de democracia, que temos a missão de exportar (impor) por todo o mundo!
É evidente que nada disto desculpa o terrorismo do Hamas. E temos de reconhecê-lo e condená-lo por isso.
Mas os governos israelitas são também terroristas.
Primeiro: nenhum governo violou mais resoluções da ONU que Israel. Antes do começo da guerra do Iraque, a lista dos Estados que violaram resoluções da ONU estava assim ordenada: Israel, 32; Turquia, 24; Marrocos, 16; Croácia, 6; Indonésia e Arménia, 4; Sudão, 3; Rússia, Índia e Paquistão, 1. Israel faz o que quer e aundo quer, sempre sob a complacência e o apoio, sobretudo, dos governos americanos
Segundo: sistematicamente roubam espaços geográficos como os Montes Goulã e outros; destroem cidades como Beirute; bombardeiam escolas, mesquitas e edifícios civis com a estafada desculpa de que ali se refugiaria algum elemento do Hamas, cercaram Gaza não só com um muro fortemente vigiado, mas cortando a água e a luz a mais de um milhão de pessoas, obrigam a controles diários milhares de palestinianos que precisam de se deslocar para locais de trabalho. Ouvi ontem, no “Expresso da Meia-noite”, que, em anos anteriores todos os meses, passavam para a faixa de Gaza mais de 500 camiões de ajuda humanitária; há meio ano, passaram a ser autorizados cerca de 150 e antes de começar esta invasão 125 (cito de cor). Não é isto terrorismo puro? Algum de nós consegue imaginar com este frio, viver sem água, sem electricidade, sem asssitência médico-hospitalar, sem qualquer ajuda humanitária (ao fim de quinze dias os Israelitas fizeram o especial favor de parar os bombardeamentos três horas durante o dia para deixar entrar alguns camiões) e passar o dia mas sobretudo a noite a ser contínua e indiscriminadamente bombardeado, sem saber onde se meter: 800 mortos e 2000 feridos para já!
É evidente que os israelitas querem vingar-se da História e sonham com o “grande Israel”. E se Obama muda, por pouco que seja a política de apoio incondicional, é um desastre nacional que tem de ser evitado a todo o custo. E esta guerra serve também para isso ou talvez especialmente para isso.
Porque os palestinianos, para os judeus não têm o direito a viver. O Holocausto dos palestinianos continua. E, pelo menos agora, não podemos dar a desculpa que nada sabemos. Israel não pode ser o senhor do mundo, da lei e da moral… por muito que tenham sofrido ao longo dos séculos.
O terrorismo, seja de que tipo for, é inaceitável. Mas sou muito mais crítico com os democratas, porque não podem responder usando os mesmos métodos. A superioridade moral da democracia é recusar em absoluto a lei do talião e ser capaz de não responder com violência (e muito menos, quando é gratuita) à violência.
Os Palestinianos são nossos irmãos. Também os Israelitas são nossos irmãos. Palestinianos e Israelitas também são irmãos. Vivem naquela terra onde nasceu um Deus que se fez homem e é o Príncipe da Paz: “Com efeito, Ele é a nossa paz, Ele, que dos dois povos fez um só e destruiu o muro da separação” (Ef 2,14).
Vamos todos dar uma ajudinha!
2 Comentários:
Querido Ze,
Fez-me muito bem ler-te. Andava a procura de palavras para expressar o que sinto em relacao a tudo isto e encontrei-me aqui. Obrigado.
Candida
11/1/09 22:12
Caro Zé Dias: Passei por aqui para te ... ver e te deixar um abraço. Quando aqui não venho, nem por isso te esqueço, pois em Marvila, lá estás dentro da revista que está sempre em cima da mesa para ser lida. Agora que vou mais a Sacavém, como deves saber, também lá te encontro.
Um abraço com votos de Ano com boa saúde
FF.
12/1/09 22:10
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