Este tempo de silêncio
Já há uns dias que aqui não venho, fundamentalmente por duas razões.
Uma porque se fala tanto e se escreve tanto que já todos estamos a ficar saturados de tanta palavra, algumas bem fúteis, de tanta gente que já previra a crise há muito tempo e até avisara, etc. e tal. Portanto, foi uma espécie de protesto de silêncio contra a saturação da palavra.
Outra, mais egoísta e prosaica, é que estou a preparar um Powerpoint sobre a Evolução do Universo. Que me dá muito gozo, pois sou “maluquinho” por estes temas. Mas que demora muito tempo, pois há tanta fotografia linda e tantos gráficos que devem ser escolhidos e bem enquadrados. E isso também me desconcentrou.
E foi assim que deixei passar, caladinho, coisas importantes como o discurso do Obama de que quase só se referiu a esperança. Tal é a sede de esperança que todos sentimos! Como vai sair um artigo meu sobre isso, amanhã ou depois vou reproduzi-lo aqui.
Também deixei passar um outro acontecimento, que um grande amigo teve a caridade de me criticar por não o ter refrido: os 50 anos do célebre discurso de João XXIII, no dia que terminava a semana pela unidade, no qual anunciou os seus três objectivos como Papa: celebrar um sínodo romano (ele também era Bispo da diocese de Roma), a convocação de um “Concílio ecuménico” (universal) e a reforma do Código de Direito Canónico.
Mas foi o segundo objectivo o que mais espantados deixou os ouvintes.
O que quero reter dessa convocatória não é tanto o facto histórico, mas a sua actualidade: a actualidade de uma convocação semelhante, hoje tanto ou mais necessária que na época, pois deve envolver toda a Igreja e não só os Bispos e porque os problemas e desafios se vão multiplicando. É urgente uma convocação de todos para "pormos em dia" a Igreja, para não deixarmos fugir a história, para não ficarmos agarrados a fórmulas e ritos com pouco ou nenhum significado inteligível ou credível. A Igreja corre o risco de ser infiel ao Espírito, que fala através dos acontecimentos, se não se aplica a fazer, como recomenda o Concílio, uma permanente e actualizada leitura dos sinais dos tempos e a responder-lhes na dupla fidelidade ao Reino de Deus e aos homens e mulheres de hoje: “Para cumprir esta tarefa, é dever da Igreja, em todos os momentos, perscrutar os sinais dos tempos e interpretá-los à luz do Evangelho, de forma a poder responder, de modo adaptado a cada geração, às interrogações permanentes dos homens sobre o sentido da vida presente e futura e sobre as suas mútuas relações” (GS 4).
São tantos os sinais que apontam para uma mudança de muitos hábitos, fórmulas e conceitos na Igreja, que exigem a conversão do estilo de vida a todos os cristãos e às comunidades cristãs… e nós, impávidos e serenos, pouco ou nada fazemos, não porque a nossa fé seja grande, mas porque somos inconscientes da realidade e demasiado comodistas para nos incomodarmos com o futuro da Igreja e da sociedade.
Foi isto que me sugeriu a comemoração deste anúncio de um tão feliz acontecimento!
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