divórcio ou casamento eterno?...

2009-04-14

Mistério pascal

Entre todas as atitudes de Jesus há que dar especial destaque à sua morte como "consequência última da sua fidelidade na solidariedade: fidelidade a Deus até ao fim, permanecendo solidário da história humana, que está feita de doentes, de diminuídos, de crianças, de pecadores, muitas vezes numa situação de desumanidade por causa do pecado. Por isso, Jesus toma sobre si esta história com toda a seriedade e vai ao encontro da morte violenta, não por uma opção livre de fazer um gesto heróico, mas por fidelidade extrema à relação solidária com os pobres. Então a morte de Jesus é a consequência extrema da sua fidelidade ao anúncio do Reino de Deus. Converte-se, além disso, no último gesto de solidariedade com os pobres, porque não há pobreza maior do que a daquele que morre condenado pela religião e pela sociedade. Jesus é acusado pelo poder religioso e pelo poder político: morre como um revolucionário para a autoridade política e como um herege ou um blasfemo para a autoridade religiosa. É o cúmulo da exclusão, da marginalização e a situação mais baixa de pobreza" (R. Fabris).
Porém, todos estes gestos libertadores de Jesus só podem ser entendidos no seu real e profundo significado se forem vistos e articulados com o mistério pascal. Sem esta referência Jesus não passaria de mais um dos grandes sábios, profetas e reformadores. O que já não seria pouco, sobretudo para os crentes, que vêem nele um autêntico protótipo humano que lhes serve de exemplo e de estímulo a seguir.
Contudo o "facto pascal no seu duplo momento - morte de Jesus às mãos dos poderes do tempo e ressurreição de Jesus por obra do poder de Deus - tem um significado social de grande transcendência.
No primeiro momento, Jesus cai vítima dos poderes político, económico, oligárquico e religioso, porque a sua pessoa e a sua doutrina representam um ataque frontal, embora feito a partir da bondade e da máxima virtude, contra as bases de exploração do povo. Estes poderes vêem ameaçado o "sistema" de que vivem e logicamente entendem que a única saída é a eliminação física de Jesus e o desmantelamento do seu frágil grupo. Trata-se de uma realidade constante na história. E também, uma vez mais, se cumpre o desígnio do poder, e Jesus cai vítima do sistema. Esta solução tão radical dá-nos conta da dimensão da mudança, a todos os níveis, que significou Jesus.
Contudo, o segundo momento - a ressurreição - representa a Justiça e a opção de Deus pela causa de Jesus. A ressurreição não foi apenas uma vitória pessoal do Crucificado, que por acção de Deus vive novamente unido já de forma definitiva ao Pai, mas foi a confirmação de Deus à sua causa, ao seu estilo, ao seu modo de vida e à sua mensagem de libertação. Ao ressuscitá-lo, Deus deu razão a Jesus e desautorizou os poderes que lhe tinham tirado a vida. Daqui em diante, Jesus já não é mais um entre os humanos que lutam pela justiça e que estão ao lado dos pobres, mas é o Grande Sinal de Deus por estas causas. Os seguidores de Jesus, os seus discípulos, na medida em que vai entrando na participação real do Reino de Deus, irão tomando necessariamente a mesma opção do Mestre. Um cristianismo à margem destas opções de Jesus será sempre inautêntico, ficará realmente separado do seu Fundador” (Renau)..

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