divórcio ou casamento eterno?...

2009-04-10

A multidão

Esta semana, santa, devia ser um tempo não para ler ou ouvir as palavras dos outros.
Mas um tempo para nos ouvirmos a nós mesmos e ao que Deus, “no santuário íntimo da nossa consciência” (cf . GS 16) ou na Palavra revelada, nos diz.
Uma das coisas que me diz esta semana tem a ver com a multidão que faz a ponte entre Domingo de Ramos e a Paixão de Cristo.
No domingo, uma multidão imensa com palmas e hossanas aclama, bajula, bendiz Jesus, como o maior profeta de todos os tempos.
Depois com o andar dos dias e com alguma campanha bem organizada, essa multidão toma uma posição perfeitamente contrária: prefere o maior ladrão da época a Jesus. Não sei se a multidão era a mesma. Mas era também multidão. E se não era a mesma ou estava a outra, a de domingo?
A multidão é sempre anónima, manipulável. Basta um líder dizer palavras inflamadas.
A separação entre uma e outra atitude é da espessura do fio da navalha. E como a multidão é instável facilmente cai para um lado ou para outro.
O pior é que nós pensamos que isso só aconteceu no tempo de Jesus e com Jesus.
Isto aconteceu em todos os tempos e lugares.
Isto acontece hoje também. Hoje chamo-lhe um pecado grave contra a cidadania. A maior parte anda ao sabor da corrente dos seus interesses. Pouco lhes interessa o bem comum. O problema dos outros não é “problema meu”. Olhamos e não vimos a realidade à nossa volta. Não usamos a cabeça (ver com a inteligência) e basta aparecer uma qualquer outra cabeça e nós logo acreditamos se vem ao encontro do que desejamos. Não usamos o coração (ver com o coração) porque isso implica envolver-me, compadecer-me com o outro, sentir os seus problemas como meus e agir em coerência.
E se o tempo é de crise, as dificuldades multiplicam estas atitudes egoístas.
Jesus foi aclamado enquanto interessou.
Jesus foi preterido quando interessou.
Também muitos cristãos assim procedem na Igreja e, naturalmente, na sociedade.
A comunhão na Igreja está ferida de morte.
A cidadania na sociedade está ferida de morte.
Embora o remédio seja muito simples: solidariedade e amor.

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