divórcio ou casamento eterno?...

2009-08-03

CinV (4) Homenagem a Paulo VI: Evangelii Nuntiandi

Bento XVI destaca desta Exortação apostólica duas ideias (15):
- a relação íntima entre a evangelização e a vida do dia a dia (EN 29) e
- os laços profundos entre a evangelização e a promoção humana que para Paulo VI são de três ordens: antropológica (“o homem que há de ser evangelizado não é um ser abstracto, mas é sim um ser condicionado pelo conjunto dos problemas sociais e económicos”); teológica (“não se pode nunca dissociar o plano da criação do plano da redenção, um e outro a abrangerem as situações bem concretas da injustiça que há de ser combatida e da justiça a ser restaurada”) e evangélica (que é da “ordem da caridade: como se poderia, realmente, proclamar o mandamento novo sem promover na justiça e na paz o verdadeiro e o autêntico progresso do homem?”) (31).

A EN (8.Dez.1975), publicada na sequência do Sínodo sobre a Evangelização, é ainda hoje um documento indispensável para compreender e realizar uma autêntica evangelização do mundo actual.
A evangelização implica três aspectos essenciais:
- a renovação interior da humanidade: “A finalidade da evangelização, portanto, é precisamente esta mudança interior; e se fosse necessário traduzir isso em breves termos, o mais exacto seria dizer que a Igreja evangeliza quando, unicamente firmada na potência divina da mensagem que proclama, ela procura converter ao mesmo tempo a consciência pessoal e colectiva dos homens, a actividade em que eles se aplicam, e a vida e o meio concreto que lhes são próprios.” (18);
- a transformação dos critérios e estilos de vida: “para a Igreja não se trata tanto de pregar o Evangelho a espaços geográficos cada vez mais vastos ou populações maiores em dimensões de massa, mas de chegar a atingir e como que a modificar pela força do Evangelho os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade, que se apresentam em contraste com a Palavra de Deus e com o desígnio da salvação”(19);
- uma conversão radical: “importa evangelizar, não de maneira decorativa, como que aplicando um verniz superficial, mas de maneira vital, em profundidade e isto até às suas raízes, a civilização e as culturas do homem”, numa verdadeira inculturação, pois “o Evangelho e a evangelização, independentes em relação às culturas, não são necessariamente incompatíveis com elas, mas susceptíveis de as impregnar a todas sem se escravizar a nenhuma delas”. Por isso, conclui Paulo VI, "a ruptura entre o Evangelho e a cultura é sem dúvida o drama da nossa época, como o foi também de outras épocas" (20).

Paulo VI apresnta os meios mais adequados à evangelização: o testemunho de vida (19; 41), o anúncio explícito (22) feito de uma forma uma viva e atraente (42-43) e a adesão vital numa comunidade eclesial (23). Note-se a prioridade dada ao testemunho.

Assim sendo, a evangelização é um processo muito complexo, de que não tomámos ainda verdadeira consciência: “A evangelização, por tudo o que dissemos, é uma diligência complexa, em que há variados elementos: renovação da humanidade, testemunho, anúncio explícito, adesão do coração, entrada na comunidade, aceitação dos sinais e iniciativas de apostolado” (24).
É, por isso, que "as técnicas da evangelização são boas, obviamente; mas, ainda as mais aperfeiçoadas não poderiam substituir a ação discreta do Espírito Santo. A preparação mais apurada do evangelizador nada faz sem ele. De igual modo, a dialética mais convincente, sem ele, permanece impotente em relação ao espírito dos homens. E, ainda, os mais bem elaborados esquemas com base sociológica e psicológica, sem ele, em breve se demonstram desprovidos de valor", porque " o Espírito Santo é o agente principal da evangelização: é ele, efectivamente que impele para anunciar o Evangelho, como é ele que no mais íntimo das consciências leva a aceitar a Palavra da salvação. Mas pode dizer-se igualmente que ele é o termo da evangelização: de fato, somente ele suscita a nova criação, a humanidade nova que a evangelização há de ter como objetivo" (75).

Bento XVI recupera aqui, sem o citar, uma ideia-chave do Sínodo de 1971: “a relação entre o anúncio de Cristo e a promoção da pessoa na sociedade. O testemunho da caridade de Cristo através de obras de justiça, paz e desenvolvimento faz parte da evangelização, pois a Jesus Cristo, que nos ama, interessa o homem inteiro” (15).
O Sínodo proclamou: “A acção pela justiça é uma dimensão constitutiva da pregação do Evangelho” (JM 6). Mas a esta afirmação voltarei quando reflectir sobre a justiça.

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