divórcio ou casamento eterno?...

2009-12-31

CinV (78) O grande desafio (nº 36)

O Papa enuncia alguns aspectos da DSI relacionados com a economia.

1. É possível viver relações verdadeiramente humanas mesmo no âmbito da economia: “A doutrina social da Igreja considera possível viver relações autenticamente humanas de amizade e camaradagem, de solidariedade e reciprocidade, mesmo no âmbito da actividade económica e não apenas fora dela ou «depois» dela”. Portanto se é possível, basta que todos queiram e que todos estejam disponíveis para tornar humanas e autênticas as relações económicas.

2. A actividade económica é uma das características do ser humano, é um dos principais meios de relacionamento. Poderia referir aqui o papel fundamental que os comerciantes tiveram ao longo da história não só na troca de objectos e produtos materiais mas também como difusores da cultura, dos costumes e até das religiões. O avanço da humanidade deve muito a esses cavaleiros andantes, que iam de terra em terra, com esforços que hoje não somos capazes de imaginar, para garantir, por um lado, a sua subsistência, mas, por outro, a subsistência de tanta gente afastada das principais vias de comunicação e dos mercados e feiras.
Assim sendo, não tem sentido que nessa esfera, onde os actores são sempre pessoas, não se sigam normas que respeitem os verdadeiros actores, isto é, as pessoas. Não há nenhuma “mão invisível”, fatalista, que autoregule os acontecimentos. São as pessoas que, por acção, por omissão, por intenções boas ou más, fazem andar as estruturas, que são sempre apenas instrumentos. É certo que há o perigo, demasiado presente, de os instrumentos adquirirem autonomia e controlarem o seu criador, isto é, controlarem quem os devia controlar. Contudo, também esta esfera não é “uma terra de ninguém”, uma selva onde apenas se imponha a lei do mais forte. Apesar de, muitas vezes, assim parecer e de até alguns intervenientes estarem disso convencidos, a verdade é que “a área económica não é nem eticamente neutra nem de natureza desumana e anti-social. Pertence à actividade do homem; e, precisamente porque humana, deve ser eticamente estruturada e institucionalizada”.

3. Porque nem sempre assim é, porque parece haver uma tendência natural para esquecer que a economia deve estar submetida à ética, estamos confrontados com um grande desafio. Primeiro que tudo, somos, cada um, chamados a assumir comportamentos que testemunhem que é possível não deixar o mercado e a economia “andar em roda livre”. A conversão pessoal é sempre prévia a qualquer contributo que possamos dar. Até porque cada um só pode converter-se a si próprio. Mas assumido isto, não podemos ficar pelo nosso comportamento ou pelas nossas convicções, temos de colaborar, com muitos outros convertidos à mesma causa, a “mostrar, a nível tanto do pensamento como dos comportamentos, que não só não podem ser transcurados ou atenuados os princípios tradicionais da ética social, como a transparência, a honestidade e a responsabilidade, mas também que, nas relações comerciais, o princípio de gratuidade e a lógica do dom como expressão da fraternidade podem e devem encontrar lugar dentro da actividade económica normal.”
O Papa considera este objectivo como “o grande desafio que temos diante de nós”: superar a lógica mercantilista com a lógica da gratuidade, do dom, da fraternidade. O desafio é, como sabemos e sentimos, enorme, mas não podemos fugir dele:
- principalmente por razões humanas, porque, independentemente da gravidade da actual crise que causa(rá) muitas vítimas, todos somos seres humanos, membros da mesma família: trata-se, portanto, de viver a fraternidade, que é “uma exigência simultaneamente da caridade e da verdade”;
- mas também por razões económicas, porque, como vimos atrás, sem confiança, sem gratuidade, sem atenção ao dom do outro, as relações deterioram-se, as empresas vão falindo, as pessoas caem no desemprego e a coesão social pode entrar em ruptura.

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