divórcio ou casamento eterno?...

2010-01-21

CinV (86) Empresa, Aspectos positivos (40)

É certo que o Papa destaca também de alguns aspectos positivos, que parecem surgir aqui e ali. Alguns desses sinais resultam da consciência que se vai formando sobre alguns dos riscos atrás referidos:
1) Uma generalizada e crescente consciência social: “Mas é verdade também que está a aumentar a consciência sobre a necessidade de uma mais ampla «responsabilidade social» da empresa”;
2) Gestores mais preocupados com as pessoas e os locais onde a empresa está instalada: “Hoje, há também muitos gerentes que, através de análises clarividentes, se dão conta cada vez mais dos profundos laços que a sua empresa tem com o território ou territórios, onde opera”;
3) Uma adequada transferência de capitais:
- “Não há motivo para negar que um certo capital possa ser ocasião de bem, se investido no estrangeiro antes que na pátria; mas devem-se ressalvar os vínculos de justiça, tendo em conta também o modo como aquele capital se formou e os danos que causará às pessoas o seu não investimento nos lugares onde o mesmo foi gerado”;
- desde que seja evitada a especulação, "cedendo à tentação de procurar apenas o lucro a breve prazo sem cuidar igualmente da sustentabilidade da empresa a longo prazo, do seu serviço concreto à economia real e de uma adequada e oportuna promoção de iniciativas económicas também nos países necessitados de desenvolvimento”;
4) A deslocalização, cuja condenação sem mais por sindicatos e trabalhadores pode significar uma falta de solidariedade com outros trabalhadores, às vezes, em situações bem mais precárias: “Também não há motivo para negar que a deslocalização, quando compreende investimentos e formação, possa fazer bem às populações do país que a acolhe — o trabalho e o conhecimento técnico são uma necessidade universal”.

Bento XVI até aqui parece colocar-se na situação de observador procurando discernir também os sinais de esperança, com especial referência à “responsabilidade social” que em muitas empresas e que muitos empresários já vão dando mostras. De qualquer modo, alerta para o facto de nem sempre os motivos serem necessariamente os mais adequados a bem das pessoas e da sociedade: “Apesar de os parâmetros éticos que guiam actualmente o debate sobre a responsabilidade social da empresa não serem, segundo a perspectiva da doutrina social da Igreja, todos aceitáveis, é um facto que se vai difundindo cada vez mais a convicção de que a gestão da empresa não pode ter em conta unicamente os interesses dos proprietários da mesma, mas deve preocupar-se também com as outras diversas categorias de sujeitos que contribuem para a vida da empresa: os trabalhadores, os clientes, os fornecedores dos vários factores de produção, a comunidade de referência”.

Embora no nº seguinte avance algumas considerações sobre a cultura empresarial, esperava-se mais numa área demasiado pobre da DSI. Por exeemplo, como pode uma empresa continuar a ser “uma comunidade de pessoas” quando está “fragmentada” por todo o mundo. Ou, como pergunta Acácio Catarino, “a sua essência está na relação entre o empregador e os trabalhadores, ou na luta ancestral pela subsistência, pela realização pessoal e pelo bem comum? Como conciliar a sua responsabilidade social com o risco de inviabilidade económica?”.

Tem havido várias tentativas de repensar a empresa. Faço apenas duas referências. O facto de já terem alguns anos revela que ou eu não tenho acompanhado o que de bom se vem fazendo neste campo ou (espero que não!) que pouco se tem avançado:
- “uma empresa inteligente”, capaz de mobilizar a capacidade intelectual e criativa da pessoa, de aceitar o pluralismo e encorajar a diversidade de iniciativas individuais e, especialmente, de apostar no desenvolvimento pessoal de cada um dos seus membros (H. Landier);
- uma “empresa virtual”, capaz de adaptar-se a fenómenos como o teletrabalho, ou as redes profissionais e de aproveitar as potencialidades do homo digitalis, do “homem-terminal” numa sociedade ramificada e ligada na qual a fronteira entre a vida privada e a vida profissional se torna cada vez mais fluida (D. Ettighoffer).

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