divórcio ou casamento eterno?...

2010-04-13

Quem fala com Tomé com todos é

O episódio relatado pelo evangelho de domingo passado estimulou-me a reflectir com qual dos apóstolos me identificava mais.


Pedro é aquele homem com o coração ao pé da boca, que se atira sem pensar nas consequências. Não quis ele andar sobre as águas? Não puxou da espada e cortou a orelha ao criado do sumo-sacerdote? Não queria ficar toda a eternidade no cimo do Monte Tabor? Não foi ele o primeiro (e único) que respondeu à pergunta sobre quem era Jesus? Mas é homem também a quem o medo tolhe a vontade e o empurra para acções que depois o amarguram, mas não o fazem perder a cabeça: o quanto deve ter sofrido por ter negado o seu Mestre, a pessoa que ele certamente mais amava!
Gosto muito de Pedro, mas não me serve de modelo porque depois ficou o chefe da Igreja e eu não me dou muito bem com as chefias.

João, “o discípulo amado” por excelência. Amou profundamente e passou a vida, até à sua velhice extrema, a repetir: “Amai-vos uns aos outros” ou “Se dizeis que amais a Deus que não vedes e não amais o irmão que vedes sois mentirosos” ou “Não se ama por palavras mas por obras”. É amor demais para eu ser capaz de imitar em plenitude.

Sobre Tiago tenho algumas reservas, sobretudo pelo seu comportamento como bispo de Jerusalém: um homem fechado, incapaz de qualquer abertura. Não havia volta a dar-lhe: queres ser cristão, tens de ser circuncidado e deixar de comer carne de porco. Esta estreiteza de vista, que alguns (?!) responsáveis da Igreja herdaram, é demasiado claustrófoba para o meu espírito que precisa de ar para respirar.
Sei que tem muitos admiradores e seguidores, mas eu não vou muito por aí.

Dos outros, de quem se fala pouco, restam os mais conhecidos: Tomé e Judas.
E, para mal dos meus pecados, não sei dizer com qual simpatizo mais. Mas vamos por partes.

Primeiro quero esclarecer que não alinho muito, ou melhor nada, na tese da traição ou da ganância do dinheiro. Eu olho para Judas, como um cidadão tão preocupado com a situação do seu país, com a necessidade da sua libertação que apostou tudo em Jesus. O drama dele é que Jesus não tinha a mesma perspectiva que ele quanto à missão libertadora. Por isso (digo eu!), Judas quis colocar Jesus entre a espada e a parede: entregava-o às autoridades judaicas para obrigar Jesus a tomar uma posição e chefiar uma revolta à maneira de Judas.
Nesta perspectiva, devo dizer que Judas é o exemplo que a maioria de nós segue: muito gostamos de colocar Deus entre a espada e a parede. Exigir de Deus o que eu quero e não o que Ele quer. Daí as promessas, o cumprimento formal (e hipócrita tantas vezes) dos seus “mandamentos”, cumpridores como o fariseu que satisfazia religiosamente a letra da lei. Até muita da nossa oração é para obrigar Deus a fazer o que nos interessa e agrada.

Depois vem Tomé, que me parece o melhor modelo para este momento que vivemos. Neste tempo em que somos continuamente manipulados, onde a mentira faz parte da notícia, do comentário, da opinião publicitada. Em que não sabemos em quê ou em quem devemos ou podemos acreditar. Tomé não foi em cantigas. Nem sequer nos amigos confiou. Eu não quero ir tão longe. Mas basta olhar para a nossa sociedade e ver, por exemplos, o que os “amigos” políticos fazem aos seus amigos. Mas os exemplos podem estender-se a todos os âmbitos da vida e a toda a escala social por aí abaixo.
Tomé quis ver para crer. Não concordo com ele, quando o que está em questão é a fé. A fé é crer sem ver, como aliás Jesus lhe disse. A fé é acreditar no que não posso demonstrar. Caso contrário não é fé mas ciência.
Mas, fora do âmbito da fé, Tomé indica-nos o caminho a seguir: não acreditar em tudo o que nos dizem. Procurar confirmar as opiniões dominantes. Assegurar-se de que não se trata de interesses individuais ou tribais. Procurar descobrir o que é verdadeiro, no meio de tanta confusão.

Que S. Tomé me ajude e a todos nós!

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