divórcio ou casamento eterno?...

2011-02-01

A opotunidade da crise

Como tive algumas reacções interessantes de dois leitores, resolvi reproduzir aqui o meu último artigo. Eu acredito que se todos olharmos para o melhor que temos dentro de nós e dentro dos outros podemos fazer coisas lindas que ajudem a superar a crise.

PENSAR E AGIR POSITIVO
Não é preciso tirar nenhum curso de psicologia ou de psiquiatria. Basta a experiência do dia a dia para saber que, se sistematicamente se disser a um miúdo ou até a um graúdo que “não prestas para nada”, “nunca serás ninguém na vida”, “não tens habilidade nenhuma”, ele acabará por interiorizar essa condição, as suas qualidades e talentos, mesmo inatos, acabarão por se atrofiar, a sua auto-estima afundar-se-á e muito dificilmente será capaz de enfrentar decididamente e com “espírito de vitória” os inevitáveis desafios que cada dia da vida trazem.
Todos conhecemos casos destes e talvez muitos tenhamos culpas no cartório quanto ao modo como lidamos com os filhos. Contudo, isto não acontece apenas com as pessoas. Acontece também com os povos. Os mecanismos serão mais rebuscados e os meios mais difíceis de detectar e de combater, mas criam um clima em que o desânimo paralisa, o fatalismo pontifica, a angústia amarfanha os espíritos, a incerteza interior mina a vontade de construir um futuro melhor. Não é difícil apontar como culpados intermédios alguns “fazedores de opinião”, alguns escritores, artistas e compositores, alguns jornalistas. Mais difícil é saber como e quem (se há algum quem!) começou este resvalar pelo plano inclinado da auto-estima perdida.
Portugal vive neste momento uma destas situações. Torna-se aflitivo, ver, ouvir e ler o que pensamos de nós, o que dizemos de nós, o que esperamos de nós, como povo. É angustiante viver nesta atmosfera asfixiante de desânimo, do fatalista “que podemos fazer?”.
E, no entanto, podemos fazer muito, se quisermos. Até porque basta pensar, falar ou escrever de modo positivo, isto é, olhando com outros olhos a nossa realidade. Estamos muito habitados a “dizer mal” de tudo e de todos, a ridicularizar iniciativas promissoras, a destacar apenas o erro do outro, a fechar os olhos aos pequenos gestos libertadores, a ignorar o que tanto de bom se passa ao pé de nós. Temos os nossos jornais e telejornais a rebentar pelas costuras com notícias que só descrevem o lado negro da nossa realidade. E é raro ver uma referência a milhões de pequenos gestos que libertam, a milhares de voluntários anónimos que afrontam o frio da angústia dos outros com uma sopa de consolo.
E este contínuo dizer mal, mostrar o mal vai corroendo as nossas reservas de bem, do muito bom que temos dentro de nós. Mesmo quando contam que milhares de pessoas deram toneladas de arroz e açúcar, temos de perceber que isso não muda a vida das pessoas assistidas; apenas lhes mata a fome. Isso não estimula a nossa vontade moral de mudar e de construir um país diferente. Não cria o ambiente de optimismo saudável e realista de que “nós podemos”, de que “somos melhores do que nos pintam”. E aqui ambiente significa qualquer coisa que me envolve e me ajuda a ter hábitos como o motorista experiente que não precisa de pensar quando deve travar ou meter uma mudança. Como povo, temos de criar este ambiente que nos faça fazer o que é preciso pela construção do bem comum sem ter de pensar; um ambiente que nos estruture, que se torne parte integrante e omnipresente da nossa forma de viver e de agir.
É verdade que já temos um ambiente, mas de maus hábitos. Temos, pois, de construir um ambiente que, espontaneamente, nos conduza a pensar primariamente no que temos de bom, no que podemos extrair dessa nossa bondade, apesar de sabermos que há coisas que não controlamos. Temos de, espontaneamente, acreditar que somos capazes de vencer as actuais dificuldades, que temos muitas reservas energéticas interiores adormecidas por essa “campanha de maldade” que todos os dias nos cai em cima. Essa força interior , se conseguir vir ao de cima, vai dar-nos força para lutar por uma vida melhor, para olhar o lado positivo da vida e das coisas, para vencer muitas dificuldades.
É urgente, pois, deixar de falar continuamente de crise, de depressão, de falência. A crise deve servir não para amargurar a nossa vida, mas para encontrar soluções libertadoras. Soluções conjuntas que nos vêm de um ambiente de vencedores, de uma mentalidade nova. Precisamos que os lideres, desde o Sócrates e o Cavaco, aos presidentes das câmaras, aos párocos, aos catequistas, aos movimentos de opinião, a todos os líderes intermediários, se mobilizem e em conjunto nos preguem a esperança no futuro, estimulem a vontade de lutar pelo bem comum, afastem os fantasmas exteriores do cataclismo mas sobretudo os fantasmas interiores geradores do medo de arriscar, da paralisia do caçador inexperiente frente ao leão devorador, da falta de reacção do peão frente a um carro em aceleração.
Todos juntos, na diversidade enriquecedora e criativa das nossas capacidades, vamos fazer gestos que autentiquem a confiança mútua: sorrir uns para os outros, elogiar quem faz um gesto libertador, dar a mão a quem luta por sair de uma situação difícil, estimular o vizinho com um “vamos lá, força”, cumprimentar-nos uns aos outros como quem se sente membro de uma comunidade, dar uma flor. Vamos ter orgulho de sermos portugueses, acreditar na nossa dignidade de povo, recusar as leituras miserabilistas, vamos berrar bem que somos capazes, nos jornais, nos telejornais, no nosso prédio, no meio da rua. Vamos gostar uns dos outros e com essa força esmagar medos do futuro e angústias do presente.
Vamos lá! Vamos fazer força todos juntos. E a crise, que é realmente crise, parecerá mais pequena e menos gravosa. É urgente fazê-lo especialmente este ano que vai ser mais difícil.

1 Comentários:

Blogger JC disse...

Intromissão (novamente) nestas reflexões, apenas para dizer que não poderia estar mais de acordo. É nesta época de crise que não nos podemos omitir, muito menos perdermos a Esperança. Pode o desânimo até chegar, mas a Fé dá-nos a certeza de não podemos desistir. No dizer de Dom Helder Câmara, "é Graça Divina começar, maior Graça é persistir no Caminho, mas Graça das Graças é não desistir nunca."
Por último, impossível não destacar o profetismo da frase "sorrir uns para os outros". Alguém mais deve andar a ler este blog e fez a proposta radiofónica da manhã de ontem...

5/2/11 13:31

 

Enviar um comentário

<< Home