divórcio ou casamento eterno?...

2010-11-09

Todos juntos no apoio às maiores vítimas da crise

Dois dados retirados dos jornais:
- na comunidade muçulmana os pedidos de ajuda cresceram 200%, na maioria para despesas rotineiras: contas da água, da luz, do gás", alimentos, medicamentos e material escolar.
- na Cáritas, este ano, os pedidos de ajuda aumentaram quase 30%, verificando-se uma mudança no perfil dos novos ''utentes'': desempregados das classes média e média-baixa que estavam habituados a um nível de vida básico e que agora nem a electricidade conseguem pagar.

Por isso, Eugénio da Fonseca, presidente da Caritas diz que “é urgente que o governo crie um plano de acção social específico de assistência e que assuma responsabilidades, porque a Segurança Social está sem recursos para atender às situações imediatas".
Em tempos de tantas dificuldades também para os governos, é indispensável e urgente mobilizar a sociedade civil. Nesse sentido, saúdo o lançamento pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) de um Fundo Solidário, cujo o objectivo é "ajudar a sair da situação de desemprego, estimulando a criação do próprio emprego”. O Fundo, apesar de ainda não ter sido apresentado oficialmente, já angariou 60 mil euros. Ainda recentemente D. Carlos Azevedo fizera um pedido aos políticos para que contribuíssem com 10% dos seus vencimentos para ajudar a combater a pobreza. Só quero recordar que um desses dedicados servidores do bem comum respondeu que já pagava os impostos! Espero que ao menos ele faça isso…
Como dizia o porta-voz da CEP, no contexto da crise, os bispos “querem ser parte da solução, querem também, da sua parte ajudar, abrir pistas, concretamente na linha da solidariedade, da entreajuda e da partilha”. Não só porque “são parte do povo português” e como cidadãos têm responsabilidades como todos os outros, mas também, e sobretudo, porque, sendo bispos, são os primeiros animadores da comunidade cristã. Neste sentido, volto às palavras de Bento XVI: “A missão do bispo impele-o a ser o principal defensor dos direitos dos pobres, a suscitar e favorecer o exercício da caridade, manifestação do amor do Senhor pelos humildes”. A mobilização pública dos bispos e sobretudo o seu decidido empenho nas suas dioceses certamente farão despertar na consciência adormecida de tantos cristãos abastados a obrigação evangélica do amor ao próximo traduzidos por obras e não só por palavras. Porque este não é um problema dos Bispos; é um problema de toda a Igreja, na dupla qualidade de comunidade eclesial e também cívica. Aliás, o Papa não esquece os leigos: “Dever dos cristãos, sobretudo dos leigos que têm responsabilidades sociais, económicas e políticas é também deixar-se guiar pela doutrina social da Igreja, a fim de contribuírem para a edificação de um mundo mais justo, onde cada um possa viver com dignidade”.
Portanto, esperemos que a Igreja católica se sinta toda ela responsável por esta iniciativa episcopal e se disponibilize para responder com generosidade.

Das notícias, todos os responsáveis de comunidades religiosas afinam pelo mesmo diapasão: “Nota-se um sentimento de preocupação, de incerteza em relação ao futuro, de desespero. Está a perder-se a esperança”; “Nota-se tristeza nas pessoas, um vazio espiritual e um sentimento de desilusão"; "Há um questionamento profundo das pessoas, um certo desconcerto em relação à política e à forma como é debatida, alguma desilusão e inquietação."
Por isso, é também indispensável que, além deste trabalho “assistencial” urgente, nós os católicos não esqueçamos que “a Igreja, mediante a sua doutrina social, quer despertar a esperança no coração dos excluídos”.
Contudo, como se queixa o P.e Crespo, “as pessoas recorrem à Igreja porque sabem que não vão sem resposta, mas não se comprometem a recompensar com a prática dominical ou a frequência religiosa". Se cito esta palavra tão infeliz e tão pouco evangélica (trocar a ajuda pela ida à missa!?), é para perguntar por que sucede isto? Já pensámos nesta pergunta, agora que os nossos Bispos querem que repensemos “juntos a Pastoral da Igreja em Portugal”?
Se ainda não o fizemos, aí fica uma primeira resposta: "As gerações actuais, particularmente as mais jovens, não vêem na Igreja uma fonte de sentido, mas talvez mais uma fonte de recurso em situação de emergência" (Henrique Joaquim, assistente social e investigador da Universidade Católica).
O que nos leva a uma outra pergunta: Por que será?

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