divórcio ou casamento eterno?...

2012-05-16

Passos em falso

Foi ouvido nos rádios e televisões e lido nos jornais, afirmações de Passos Coelho (PC) como "estar desempregado não pode ser um  sinal negativo" ou despedir-se ou ser despedido não tem de ser um estigma". Mais: ser ou estar desempregado "tem de representar também uma oportunidade para mudar de vida".
Um Primeiro-Ministro deve ter cuidado com o que diz. Já havia aquela história do "Emigrem" que, justa ou injustamente lhe ficará sempre colada. E agora vêm estas palavras bem mais corrosivas. Será que PC pensou no que disse e se pensou exprimiu-se da melhor forma? Terá ele pensado alguma vez que estava a referir-se a mais de um milhão de pessoas. Não se trata de uma estatística onde aparecem os 15%. Não: são um mil e tal de pessoas, cada uma com uma vida própria, com alegrias e tristezas. Acreditará realmente que para todas elas ou para a grande maioria, estar desempregado é uma oportunidade neste país? Saberá ele que quando ao falar em oportunidade se assume geralmente uma conotação positiva? Era como se dissesse que é bom estar desempregado, porque realmente só o desempregado pode ter oportunidade de se empregar, como só um vivo pode ter a oportunidade de morrer.  É como se, parodiava alguém, estivesse a dizer: "Foi despedido? Parabéns! Aproveite a oportunidade: crie a sua empresa e fique rico"!  

Realmente estas palavras são chocantes, especialmente ditas por quem foram. Com os desempregados não se pode brincar. É uma imoralidade, Porque um desempregado é uma pessoa, mas uma pessoa que está em sofrimento. Porque o desemprego não traz apenas falta de trabalho. Acarreta consigo muitos dramas pessoais: a pressão psicológica não só de se sentir inútil, mas de não servir para ninguém nem para ajudar o seu país; a angústia de ver o seu know how ignorado; a sensação de ter perdido a sua dignidade e a sua auto-estima; o sentir os olhares coitadinhos que lhe lançam; a vergonha de ter de dizer aos filhos que não tem pão ou dinheiro para lhes dar. Um desempregado é sobretudo um saco cheio de problemas psicológicos, familiares, sociais, emocionais. E, por cima de tudo isto, sentir-se um fardo para aqueles que devia ajudar.

O que os desempregados deste país precisavam de ouvir de PC  era que iria fazer tudo para que o desemprego se transformasse em oportunidade e que, para isso, tudo faria para estabelecer condições mínimas: que iria abrir linhas de crédito para o auto-emprego e para a criação de micro e mini-empresas, que iria apoiar (ao menos pagar as dívidas em tempo útil) a esses milhões de pequenas e médias empresas que são as que mais postos de trabalho dão no nosso país.







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