divórcio ou casamento eterno?...

2012-04-06

Semana Santa 5




Acabei de celebrar a Via-sacra com a minha mãe, um sapiente senhora de 92 anos, quase cega e impossibilitada de caminhar. Celebrámos a Via-sacra de um velho livro – Pensai-o bem – que ela muito gostava de ler, quando podia ver. A sua linguagem é, como se imagina, pré-conciliar, mas associa à minha mãe a sua longa e ascendente caminhada interior de fé.
Ali estivemos dois doentes a recordar os 15 passos da Paixão: acrescentei uma XV estação, a da Ressurreição, que sempre achei que faltava na Via Sacra. Foi um tempo muito bonito e uma celebração apropriada para a minha mãe e para mim.

Mas não é disso que quero falar. Como sabemos, hoje, segundo os evangelhos, à hora nona (15 horas) Jesus morreu na Cruz.
E quero citar parte da minha última crónica, antes de continuar a minha reflexão de hoje.
“Talvez possamos imaginar o quanto terá sido doloroso para os discípulos de Jesus vê-lo morrer na cruz. De repente, tudo aquilo em que acreditaram, toda a sua esperança e expectativa messiânica se esboroa quando aquele homem corajoso, tão cheio de fé e confiança em Deus, num instante se torna um farrapo humano, por ter sido flagelado, coroado de espinhos, pregado no madeiro de uma cruz, numa tal dose de sofrimento que não pode evitar o grito lancinante e desesperado “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”. O choque foi tão grande que os discípulos, com excepção das eternas maltratadas mulheres, fugiram, negaram-no, traíram-no, perderam a fé na nele: “Nós que esperávamos tanto dele, afinal…” (Lc 24, 21) lamentavam-se os caminhantes de Emaús.
         Só mais tarde, depois da Ressurreição, eles perceberam. E perceberam-no tão bem que foram pregá-lo, mesmo sabendo que iriam ser presos, e, uma vez libertados, voltaram a testemunha-lo até que a morte pôs cobro àquela insistência. Pelo Ressuscitado trocaram tudo, sujeitaram-se a tudo, porque, apesar de pregarem “um Messias crucificado (que era) escândalo para os judeus e loucura para os gentios”, eles sabiam que “para os que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é poder de Deus e sabedoria de Deus” (1Cor 1,23-24).
         Mas nós hoje, que já vivemos no tempo da Ressurreição, não podemos esquecer a Cruz. Hoje sabemos que Jesus esteve sempre do lado das vítimas da história, que essa identificação máxima aconteceu na Cruz, que não foi o fracasso mas a vitória ao serviço da vida e da vida em plenitude, autenticada por Deus Pai com a Ressurreição. Os vencedores não foram os carrascos políticos e religiosos que assassinaram Jesus, condenando o seu estilo de vida. O vencedor foi o Crucificado que viu o seu estilo de vida ser abençoado e glorificado pela Ressurreição. Sentimos nós realmente o amor de Deus pelo mundo nesse “zé ninguém” pregado na Cruz?”

Agora apenas quero ilustrar a ideia atrás referida de "que Jesus esteve sempre do lado das vítimas da história e que essa identificação máxima aconteceu na Cruz”. E vou fazê-lo com três exemplos dos muitos que poderia utilizar.

As vítimas do poder político
Jesus morreu juntamente e está a ser crucificado em todos os que lutam pela liberdade e por uma sociedade mais democrática, sejam os milhares de sírios, palestinianos, sudaneses. Jesus morreu também naquele farmacêutico grego que “teve” de se suicidar para responder à injustiça: “Dado que já não tenho idade que me permita recorrer à força, não encontro outra solução que não seja um final digno antes de começar a procurar comida nos caixotes do lixo”. Quer dizer que Jesus aprova o suicídio? Não. Quer dizer que ele está com os que sofrem e com os que suportam o sofrimento e talvez ainda mais com os que o não suportam.

As vítimas do poder económico
Jesus morre todos os dias nos milhares de crianças e adultos que morrem de fome e está a ser crucificado nos milhões que apenas têm um dólar ou menos por dia para sobreviverem, enquanto as multinacionais (os seus responsáveis) enchem os bolsos de dinheiro e de poder, impõem as suas regras desumanizadoras, compram as agências de rating para ir criando mais vítimas nas quais Jesus fica crucificado até morrer.
Jesus está também crucificado nas pequenas e médias empresas portuguesas que estão a ser amordaçadas por banqueiros imorais, que pedem emprestado dinheiro a cerca de 1% de juro e depois o emprestam às PMEs a valores próximos dos 10%, mais do que na Irlanda ou na Grécia. Jesus está crucificado porque por detrás de todas essas empresas há pessoas que vão passar fome, perder a sua auto-estima, tapar a cara com vergonha de se sentirem inúteis.

Vítimas do poder religioso
Jesus está também a ser crucificado nos teólogos que são perseguidos, vêem os seus direitos humanos e eclesiais violados, são tratados quase como hereges só porque não pregam humildemente, acriticamente e subservientemente a doutrina dos bispos inquisidores e procuram antes aprofundar a doutrina dos Evangelhos. Como prova desta afirmação pouco ortodoxa posso referir o que se passou com Pagola que foi perseguido por bispos espanhóis, quando o cardeal Ravasi, presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, o apresentava como um autor no qual se poderia saber o que de mais recente a investigação teológica nos dizia sobre Jesus.
Mas queria referir a última vítima, Torres Queiruga. Sobre ele apenas vou dar andamento ao pedido de divulgação de um conjunto de teólogos espanhóis, de quem recebi o seguinte e-mail:

Amigos de Iglesia Viva y amigos varios:
Como compañeros de Andrés Torres Queiruga desde hace muchos años en la tarea de crear un pensamiento cristiano fiel a la vez al evangelio de Jesús y a nuestro tiempo, comprenderéis que hemos recibido en nuestro rostro como propia la bofetada que le han dado los obispos de la Comisión para la defensa de la Fe y de la Permanente.
No podíamos quedar callados.
Y hemos firmado muy responsablemente el documento que os acompañamos.
Os rogamos deis la mayor difusión posible, por los medios a los que tengáis acceso.
Hemos querido expresamente, más que hacer una declaración institucional, firmar el documento con nuestros nombres y apellidos.
Aparecerá mañana miércoles en la web de iglesia Viva. Y esperamos que en más medios.
Un cordial abrazo, en nombre de todos los firmantes, de
Antonio

Antonio Duato
IGLESIA VIVA
Apartado 12.210
46020 VALENCIA
Tel: 963 622 532  Mov: 609 510 862


Como compañeros y amigos de Andrés Torres Queiruga queremos hacer públicas las siguientes reflexiones:

1.En nuestra condición de católicos y miembros de la Iglesia agradecemos el trabajo intelectual que Andrés Torres Queiruga ha venido realizando durante más de cuarenta años. El conjunto de su fecundo pensamiento supone una cumbre histórica del servicio de la teología española a la verdad de la fe cristiana. Su empeño por pensar en diálogo con la cultura actual ha ayudado a creer bien a muchos cristianos de hoy («intellige, ut credas», “comprende para creer”). Y somos testigos de que, al mismo tiempo, su fe en el Dios Antimal ha exigido y estimulado su pensar teológico («crede, ut intelligas», “cree para entender”). Por todo ello nos parece muy grave que el texto de la  Notificación no contenga ni una palabra de reconocimiento de su entrega intelectual o de agradecimiento por el bien que ha hecho a la fe de los cristianos. Tenemos la certeza de que este modo de proceder nada tiene que ver con el de Jesús de Nazaret, fuente y centro neurálgico de la tradición de fe cristiana.

2.Sin renunciar a pronunciamientos posteriores y más extensos sobre la Notificación, ahora hemos de señalar lo siguiente:
a.La teología que rezuma la Notificación difícilmente recibiría el aprobado en un examen de la mayoría de las Facultades teo­lógicas del mundo. No hay más que visitar los tratados escritos por los profesores más relevantes de las mismas.
b.No es de recibo que el “Catecismo de la Iglesia Católica” sea uno de los referentes desde el que se evalúa y se juzga la consonancia de la teología de Andrés Torres Queiruga con la verdad de la fe. Las afirmaciones dogmáticas de la Iglesia son el referente de todo trabajo teológico y deben siempre mantenerse como tales. Pero sus manifestaciones catequéticas han ido variando y seguirán variando a lo largo de los tiempos. Es más que discutible que dicho Catecismo en todos sus apartados exprese en su integridad y con toda la necesaria riqueza la verdad de la fe. Además, utilizarlo como elemento dirimente para juzgar la obra científica de un teólogo reconocido, resulta similar a valorar las aportaciones de un investigador de primera fila a la luz de los manuales utilizados para la enseñanza de su materia en los cursos iniciales de graduación universitaria.
c.Como viene siendo habitual en los últimos tiempos, también en este caso el magisterio episcopal identifica su teología con la verdad de la fe. Es una práctica que denunciamos rotundamente porque tergiversa de manera grave el servicio al evangelio que corresponde legítimamente al ministerio episcopal.
d.Se acusa a Andrés Torres Queiruga de «reducir la fe cristiana a las categorías de la cultura dominante» y de «eliminar u oscurecer la novedad introducida por la Encarnación del Hijo de Dios». Quienes le imputan tan grave acusación lo hacen desde una fe expresada en las categorías propias de una cultura venerable, pero obsoleta. Al actuar de ese modo, ¿no serán ellos los que están reduciendo la fe a las categorías de esa cultura? Los “nuevos paradigmas” no los deciden los teólogos, sino las transformaciones culturales. Hablamos de “nuevo paradigma” teológico cuando la teología tiene que pensar la fe en un nuevo paradigma cultural. Es lo que con libertad supo hacer la Iglesia en su más antigua tradición para expresar salvíficamente la fe cristológica y trinitaria en el paradigma griego, bien diferente al semita. ¿Qué evaluación merecería la confesión de Calcedonia desde una concepción inmutable del paradigma del evangelio de Marcos? Esta inculturación de la fe es lo que ahora se impide hacer, porque en la comunidad teológica impera la ley del miedo y muchos teólogos callan para no tener que arrostrar problemas que traigan consigo “efectos colaterales”.
e.Es falso que, como afirma la Notificación, se haya “mantenido un diálogo extenso y detenido con el Autor”. Un encuentro de un par de horas con algunos miembros de la Comisión firmante para señalar las cuestiones teológicas a debate, y ello cuarenta y ocho horas antes de firmarse la Notificación, está lejos de lo que debe ser un diálogo serio, profundo y sincero, y tiene toda la apariencia de buscar una coartada que no engaña a nadie.
f.Terminamos animando a Andrés Torres Queiruga a que prosiga con libertad y fortaleza su trabajo de reflexión y de investigación teológica para el mejor servicio a la Iglesia y el impulso a la credibilidad del anuncio evangélico ante los desafíos de la cultura actual.
4 de abril de 2012

Joaquín Perea, Josep Antoni Comes, Jesús Conill, Adela Cortina, Rafael Díaz-Salazar, Antonio Duato, Teresa Forcades, Carlos García de Andoin, Joaquín García Roca, Mª Dolors Oller, José Miguel Rodríguez, Demetrio Velasco, Javier Vitoria y José Antonio Zamora.

Há dois mil anos, Jesus foi crucificado e morreu numa cruz condenado pelos poderes religiosos, políticos e económicos.

Hoje, Jesus continua a ser crucificado ou a morrer condenado pelos poderes políticos, económicos e religiosos. 

0 Comentários:

Enviar um comentário

<< Home