divórcio ou casamento eterno?...

2006-03-26

Só permanece o que muda

O que se está a passar em França, para lá da complexidade interna, merece uma reflexão atenta.
A minha primeira reacção ao contrato do primeiro emprego foi muito negativa. Mas depois alguém me colocou algumas questões, que me têm feito pensar. O que é mais importante é não ter emprego ou ter um emprego precário, mas emprego? Será que, de um modo geral, os empresários vão mandar embora os bons empregados? E quantos estão dispostos a ter de suportar empregados apenas preocupados com o vencimento ao fim do mês?
E quando se confirma que mais de 70% dos estudantes querem "apenas" um emprego e não estão dispostos a ser eles próprios a tomar a iniciativa, a procurar pôr os seus talentos a render, a arriscar.
As nossas escolas não preparam para a vida, dando instrumentos apropriados para cada um poder acreditar em si e estar capacitado para arriscar. É hoje mais que evidente que "um emprego para toda a vida" acabou, pelo que se exige das nossas escolas uma preparação para a flexibilidade e para a capacidade de dar respostas diversificadas conforme as circunstâncias.
A situação faz-me lembrar a recomendação do Evangelho para não "pôr vinho novo em odres velhos".
Nós estamos a querer resolver problemas novos ("vinho novo") mas através das soluções velhas ("odres velhos"), que nada têm a ver com as novas situações. E as mudanças, e mudanças profundas, aí estão a exigir iniciativa, empreendorismo, cidadania, flexibilidade profissional, mobilidade intelectual, tudo características para as quais é preciso uma educação específica.
As mudanças são tais que só o que muda consegue permanecer.
Para tal é preciso criatividade, inovação, formação plurivalente e contínua, consciência de que o trabalho é uma vocação indispensável não só à realização pessoal e à prória subsistência mas também à construção de uma sociedade mais justa, mais solidária e mais rica economica e culturalmente.

2 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

As questões que colocas são interessantes, mas continuo firmemente convicta da desumanidade desta lei. Faz-me lembrar qualquer coisa como acabar (revogar) a Declaração Universal dos Direitos do Homem. É verdade que, seguramente, eles não estão a ser cumpridos em muitos lugares, para muitas pessoas (provavelmente a maioria), mas a importância da sua existência é inquestionável.
Hoje, sabemos, que muitos empresários, com ou sem lei, já usam de muitas formas (contratos precários, cunhas, conivências, etc...) para pôr na rua funcionários, como sabemos que muitos funcionários usam e abusam dos patrões (seja qual for o seu nome) para ganhar pura e simplesmente dinheiro. Tudo isto, sabemos que se passa. Mas consignar na lei que "a ausência de motivo é motivo para ir para a rua" parece-me completamente desumano porque é passível de todas as arbitrariedades e nós sabemos que há pessoas para tudo, de um lado e do outro. Até já consigo imaginar empregados a usar de subterfúgios, intrigas, subserviências e coisas que tais para, agradando, sem olharem a meios, agradarem ao patrão!!!
Parece-me que recuámos muitos, muitos anos. Não sei se é escravatura, porque não a vivi, mas pode andar lá muito perto.

1/4/06 03:15

 
Blogger Zé Dias disse...

Concordo com o que dizes e agrada-me muito mais do que os argumentos de quem acha que o CPE é um medida menos má, até porque sou um "gajo teórico". Mas para quem tem de resolver o problema prático num mundo em profundas mudanças vai ser muito difícil manter as soluções clássicas: como compaginar os direitos já adquiridos (e que tanto sangue, suor e lágrimas custaram a gerações de lutadores!) de cada cidadão com essa realidade?
Quando escrevi o que escrevi veio-me à lembrança uma questão que se pôs a propósito de Leão XIII e a encíclica Rerum Novarum. Uma das questões então em debate era o de saber se o salário deveria ser familiar ou não. O papa era defensor do salário familiar mas "recusosu-se" a escrevê-lo de modo explícito (embora lá esteja ímplicio em várias passagens) e a razão que foi referida por alguns comentadores foi esta: se o papa defendesse o salário familiar estaria a dar um óptimo argumento aos patrões para só empregarem os solteiros!
Ora é neste jogo entre a utopia (que nunca pode deixar de estar presente como referência última) e o realismo (que obriga a compromissos muitas vezes difíceis porque têm de se encontrar soluções para problemas inadiáveis)que se colocam hoje as grandes questões.
Sem criatividade e inovação; sem a percepção de que as coisas mudaram e que as soluções passadas são mesmo passadas; sem a capacidade de diálogo sobretudo de quem tem de decidir, não vai ser possível resolver pacificamente estas perturbações sociais inevitáveis em tempos de mudanças profundas.

Até porque estas mesmas exigências se vão impor para outras áreas: o nosso estilo de vida que terá de mudar porque não há petróleo, mesmo caro, que mantenha os nossos gastos, porque não podemos continuara poluir a tamosfera, a água ou os solos, etc..

1/4/06 12:04

 

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