divórcio ou casamento eterno?...

2006-04-16

Páscoas

As duas grandes festas do cristianismo continuam a pautar, de modo decisivo, a nossa vida social. Páscoa e Natal marcam espaços sociais marcantes. São tempos de ruptura com a rotina do dia a dia. Marcam férias escolares, são ocasião de tolerância de ponto, etc..
Contudo verificam-se diferenças significativas entre as duas épocas.
O Natal é aproveitado sobretudo para viver a festa da família, para visitar familiares que só se vêem uma ou duas vezes por ano.
A Páscoa, embora permita também encontros familiares, está mais virada para mini-férias de lazer, particularmente as idas à neve, apesar de o Natal poder estar mais associado a este evento climatérico.
Mas há outras diferenças, culturais, associadas ao facto de a dimensão religiosa está a ter cada vez menos significado.
O Natal foi sobretudo tomado de sassalto pelo consumismo: a angústia da prenda que manifeste o nosso apreço pelos familiares e amigos domina grande parte dos dias anteriores a esta quadra ainda cheia de sentimentos de sã alegria.
A Páscoa foi tomada de assalto pelo laicismo. Não sei quando começou mas pelo menos este ano reparei num gesto absolutamente insignificante: houve jogos de futebol na sexta-feira santa, no sábado "santo" e até no próprio domingo de Páscoa e na segunda ao ritmo marcado pelas televisões. Este gesto aparentemente tao inócuo despertou-me para a perda desse "sinal religioso". Afinal a Páscoa é importante porque nos garante mais um ou dois dias e meio de férias.
Nós os cristãos celebramos a Páscoa através das festas litúrgicas que decorrem em todas as Sés e todas as igrejas mas parece que não somos capazes de mostrar que a Páscoa, a Páscoa da Ressurreição, é a prova indesmentível de que só é válida uma vida dedicada à defesa da dignidade da pessoa, à luta pela justiça e pela paz, à construção de um socieddade mais humana e solidária. A Ressurreição veio mostrar que nada acaba com a sexta-feira santa. Mais: que a sexta-feira santa significa a morte para o "homem velho", para as nossas falhas, de indivíduo e de sociedade, para as nossas corrupções, demissões, omissões. E a Páscoa da Ressurreição é a certeza de que este mundo, que está sempre em mudança, caminha para um estado final onde as limitações e as falhas serão superadas de modo definitivo.
Os cidadãos não têm que viver, como nós, a nossa Páscoa. Nós é que temos que a viver como a festa fundante: "se Jesus não ressuscitou é vã a minha fé!".
Mas compete-nos pelo menos testemunhar essa certeza e, num tempo de falta de sentidos e de esperança, proclamar a certeza num final feliz da nossa história. Que as pessoas vivam laicamente a Páscoa não deve levar-nos a lamentações inconsequentes mas estimular-nos a proclamar este bem precioso que é a certeza - uma certeza absoluta - de um futuro feliz.

1 Comentários:

Blogger CVJ disse...

Não há ressurreição sem testemunho, isto é, sem compromisso. Compromisso pessoal e comunitário.
É talvez por isso que é mais fácil mostrar o Cristo morto (de sexta feira)que o Cristo ressuscitado!?
Um abraço pascal.

23/4/06 22:51

 

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