divórcio ou casamento eterno?...

2007-02-15

The day after 1

Terminado o referendo, para lá de vários que teremos de ir fazendo agora a propósito da lei gostaria de deixar três notas:
1ª O grau de tolerância que de um modo geral se verificou, durante a campanha e no rescaldo dos resultados foi elevado. Felizmente enganei-me e ninguém foi buzinar para a Baixa. E isto foi muito bonito.
2ª Os católicos não devem sentir-se derrotados nem desmoralizados (porque não estava em referendo a moral católica e portanto o aborto para os católicos continua a ser um pecado grave)... antes pelo contrário (porque, como cidadãos que são, deram o seu contributo para o debate propondo com dignidade o seu ponto de vista).
3ª Além disso, penso que os católicos tiveram uma dupla vitória:
- da parte da Igreja em geral as intervenções nao foram impositivas; parece que começamos a perceber nomeadamente a hieraraquia (apesar de alguns exageros iniciais) que vivemos numa sociedade plural e que portanto a opinião da Igreja não tem que prevalecer, mas é uma entre outras. Deve ser proposta, "oportuna e inoportunamente", mas não imposta;
- neste campanha, a palavra e a iniciativa foram dos leigos, que souberam mobilizar-se sem esperarem "ordens superiores"; e isto era uma exercício pouco frequente na Igreja, contrariamente ao que proclamou o Concílio:
As tarefas e actividades seculares competem como próprias, embora não exclusivamente, aos leigos. Por esta razão, sempre que, sós ou associados, actuam como cidadãos do mundo, não só devem respeitar as leis próprias de cada domínio, mas procurarão alcançar neles uma real competência. Cooperarão de boa vontade com os homens que prosseguem os mesmos fins. Reconhecendo quais são as exigências da fé e por ela robustecidos, não hesitem, quando for oportuno, em idear novas iniciativas e levá-las à realização. Compete à sua consciência previamente bem formada, imprimir a lei divina na vida da cidade terrestre (GS 43).

2 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Viva, Dr. José Dias.
Sou um seu ex-aluno da Escola de Leigos de Cantanhede. Deixo-lhe aqui um abraço.

Tenho lido ultimamente os seus posts, com a atenção que sempre coloquei no que diz, e ainda sobre o último referendo gostaria de dizer também três coisas.

1. Não concordo muito consigo quando diz que o grau de tolerância durante a discussão do referendo foi, de forma geral, alto. Por acaso assisti a comentários pouco dignos, de um lado e de outro. Não consigo perceber porque este assunto separa tão radicalmente as pessoas, de forma a chegarem quase ao insulto. Nem os partidários do sim são assassinos de crianças, nem tão pouco os do não serão pessoas que cristalizaram no tempo, e por isso antiquadas. Têm visões diferentes do problema, resultado de diferentes sensibilidades, lutam por aquilo que acreditam e pretendem atingir a melhor decisão. Não me vou estender, no entanto, perante o facto de esta votação, em larga escala, não ser o resultado de uma escolha em consciência mas, provavelmente por razões de dificil decisão, o resultado de uma auscultação da consciência… partidária. De um lado e de outro. Só assim se percebe que “não haja” votos não à esquerda e votos sim à direita. Digo eu.

2. Nenhuma das hipóteses em votação resolve, a meu ver, o problema a contento. Ainda que sensibilizado pelo problema das mulheres, votei não. Porquê? As associações de defesa da vida que acolhem as grávidas que a elas se dirige, numa tentativa de procurar auxílio, fazem-no essencialmente por uma de 3 razões: porque são contra o aborto, porque não têm recursos económicos para pagar o acto ou porque terão algum receio das sequelas resultantes de um trabalho mal feito. Assim se conseguiram resgatar 10.000 vidas nos últimos anos. A partir de agora só as mulheres que efectivamente têm problemas de consciência em relação ao aborto se irão dirigir a essas associações. Às outras, já lhe resolveram o problema. O número de abortos irá assim aumentar, resultado da soma das que o fariam clandestinamente e das que recorreriam a este tipo de apoio.

3. A última coisa que gostaria de dizer é que, apesar da festa (que meteu “foguetes”, canas e corrida atrás delas), só daqui a 3 ou 4 anos saberemos quem saiu vencedor deste referendo. Espero estar enganado, mas parece-me que todos perderam. No entanto, as mulheres “ganharam” dignidade, ainda que à custa da morte de inocentes. É caso para dizer que a dignidade está pela hora da morte.

José Augusto Reis

16/2/07 10:14

 
Blogger Zé Dias disse...

Ao Zé Reis
Também eu lhe mando um grande abraço.
Concordo com bastantes coisas que escreveu. Mas comparando esta campanha com a anterior sinto que houve muito mais elevação de parte a parte. Houve naturalmente alguns exageros, mas refiro-me ao global.
Quero destacar a sua frase: nem os do sim comem crianças oa pequeno almoço nem os do não são alguns trogloditas despidos de quaiaquer rasgos civilizacionais, E penso que seri amuito om repetirmos isso várias vezes, também nas nossa scomunidades eclesiais.
Concordo que houve demasiado peso partidário, mas os resultados não lhe dão um peso assim tão grande!
Também não percebo onde nem como é que esta lei trouxe dignidade às mulheres.
Espero com expectativa o que aí vem em termos de medidas da sociedade civil e das comunidades religiosas. São essas medidas e iniciativas que poderão ajudar a diminuir o número de situações dramáticas e não este resultado do refrendo.

16/2/07 21:59

 

Enviar um comentário

<< Home