divórcio ou casamento eterno?...

2007-02-06

CV (33) Boa nova

Pois, foi ontem ao almoço que a Fátima, minha mulher, interrompeu a refeição para dizer:
- Tenho uma boa notícia. O TAC que o pai fez revelou que já não tinha manchas pulomonares. O médico deu-lhe três meses sem tratamento, no final dos quis vai reeptir o TAC para ver aevolução da situação.
Ficámos todos meio sem jeito a absorver a informação.
Interiormente não senti campainhas a tocar, estrelas a brilhar, risos a soar. Nada de especial. Apenas os olhos ficaram ligeiramente marejados de lágrimas e as pernas tiveram uma ligeira tremura. Depois foi de novo o mesmo que antes.
Pelo meio um simples "Louvado seja Deus!".
Depois começamos a congratularmo-nos e os risos vieram-nos à cara.
Mas... eu continuava sem grande reacção.
A única coisa quer decidi foi avisar os amigos.
Então fui pensando que certamente todos ficariam contentes, que passariam a estar mais alegres, que a dor que foram partilhando comigo iria desaprecer por algum tempo pelo menos.
Pensei no que seria bom para minha mulher que todos os dias de hospital dava voltas à cabeça para me arranjar uma comida que me soubesse bem, se levantava mais cedo para inclusivamente me levar o pequeno almoço. Como seria libertador para ela não ter de me obrigar a comer e sujeitar-se a ouvir uma palavra minha azeda e mal criada. Como seria repousante para ela não estar todos os dias com aquele a tensão que era ver-me mal e às vezes tão antipátrico.
Pensei nos meus filhos que davam a sua juda à mãe, não só indo de vez em quando levar-me a comida e visitar-me, mas, espero, fazendo um esforço para que a mãe pudesse suportar melhor a sua cruz.
Pensei na minha irmã que praticamente todos os dias ia visitar-me e ajudar a Fátima a levar por vezes a comida e a sua tentativa de inventar comidas que eu suportasse, incluindo as papas.
Pensei nos outros irmãos que iam ou telefonavam todos os dias a dar força.
Pernsei especialmente na minha mãe que não só sofre corajosamente em silêncio com a doença do filho, mas sofre sobretudo por não poder visitar-me, estar ao pé de mim, dar-me forças com a sua presneça sempre amorosa e compreensiva. O que ela deve ter sofrido por não poder estar junto do filho!
Pensei em tanta gente que me telefonava a saber do meu estado de saúde e que depois comunicava a outros.
Pensei também nos médicos e enfermeiros para quem as melhoras de um doente seu são sempre uma vitória do seu esforço e dedicação.
Pensei que o mundo está tão cheio de solidariedade, amizade, dedicação e que nós encontramos os (tele)jornais tão cheios de manifestações do mal.
Depois, pouco a pouco, fui interiorizando que ia passar três meses sem tratamento, que ia poder ter uma vida quase normal, que, apesar de não poder esquecer que tudo está ainda tão pouco clarificado, estou a passar por um estado de libertação.
Pensei que passou um ano que ando nesta vida e que havia sete meses que mantinha este ritmo: uma semana de tratamento no hospital, duas de recuperação em casa.
Pensei que temos de viver cada dia com mais amor, mais solidariedade, mais participação na construção de um mundo melhor, porque não vamos ficar cá para sempre.
Pensei tanta coisa.
Pensei que o Deus em que acredito é muito bom, porque me deu força para ir suportando tudo isto: a tensão da doença, a agressão do corpo, a reacção psicológica, a dor de fazer sofrer as pessoas que amo muito, a sensação de inutilidade tão derrotista e acabrunhante, a desregulação da vida.
Pensei que sem os amigos possivelmente não teria resistido, pois a minha fé em Deus é demasiado pequena para precisar desses apoios todos.
Pensei num pôr do sol, nas longas viagens de Verão que o ano passado não pude ter,...
Pensei que, apesar de tudo, a vida é bela, cada vez mais bela.

6 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Gosto muito, muito, muito de TI Zézito!

Joana Patrício

7/2/07 15:22

 
Anonymous Anónimo disse...

Roman Pedreira Ancochea, 1964

7/2/07 18:53

 
Anonymous Anónimo disse...

Fantástico o teu escrito, como sempre! Ainda não te telefonei porque pensei que muita gente o faria por estes dias, mas estou muito satisfeita por podermos continuar a contar com a tua serenidade.

Um beijinho!

Clara

8/2/07 12:05

 
Anonymous Anónimo disse...

Querido Zé,
Graças a Deus por esta libertação. Por si, pela rede q o segura, pelo exemplo q nos dá sempre.
Soubemos pelo Zé Patrício e hoje vim espreitar.
Bj gd,
nani

9/2/07 06:07

 
Anonymous Anónimo disse...

El 3 de marzo de 2007 falleció el padre Don Román Pedreira Ancochea (D.E.P)

24/4/07 06:35

 
Anonymous Anónimo disse...

Padre Román Pedreira Ancochea, un sacerdote coherente

24/4/07 06:48

 

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