divórcio ou casamento eterno?...

2007-03-12

Violações como arma de guerra

Ainda comemorando os dias da mulher...
Estou a ler o Livro Negro daCondição da Mulher, do qual passo a transcrever acontecimentos ocorridos no Ruanda.
Os violadores assassinos seropositivos, mestres na arte de esquartejar pedaço a pedaço uma criança e deixá-lo a sangrar lentamente diante dos seus pais que aguardavam a sua vez e de cortar os braços a uma mulher que tentava sair da fossa cheia de excrementos para onde a tinham atirado, perdoavam por vezes a vida à mulher que cabavam de violar dizendo-lhe: "Deixo-te pior quer morta!"
A utilização do virus da sida como arma de guerra e de extermínio permanente complementa com o seu coeficiente de desgraça esse crime específico que é a violação. A produção de intenso sofrimento tem lugar em várias sequências; depois do primeiro período de tortura física e moral durante a ou as violações, o crime continua desenvolvendo os seus efeitos dentro do corpo da vítima durante o tempo que dura a eventual gravidez. O violador prossegue, pois, com a sua acção de infligir dor começada com aconcepção. A mulher convertida em mãe "à força" odeia o filho do verdugo que leva no seu ventre e que se converteu em seu inimigo fisiológico íntimo e indissolúvel, portador e símbolo de uma horrível recordação de que só a vergonha basta para a matar socialmente...
Esta antecipação do futuro converte-se num pesadelo adicional: é a sua sobrevivência e a dos seus eventuais filhos o que a deixa absolutamente destruída e, além disso, de maneira definitiva já que se trata de duma doença como a sida, mortal, infamante e à qual não se aplica qualquer tratamento. Mais ainda, o que está em jogo é a sua sobrevivência enquanto vítima, inclusivamente num mundo em que o verdugo foi derrotado militar e politicamente e levado perante os tribunais.
A situação torna-se então incontrolável. Em princípio, uma vítima de crimes contra a humanidade encontra certo consolo quando o criminoso é detido e condenado judicial e historicamente. Nos casos de contaminação por VIH, pelo contrário, a solução judicial inflige-lhes ainda mais sofrimento, porque equivale à consagração da vitória do criminoso violador seropositivo. Hoje em dia os agressores beneficiam durante a sua estadia na prisãode programas internacionais de triterapia, ao que, em princípio, não há nada a objectar. Também são alimentados , vestidos e cuidados de maneira que, cinco anos tarde, saem da cadeia no melhor estado de saúde possível. Enquanto as suas vítimas, isoladas, muitas vezes incapacitadas e pobres, porque perderam os seus bens em consequência do conflito, morrem sem que ninguém as atenda e na maior das misérias, vendo os seus filhos eventualmente infectados e abandonados à sua sorte.

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